As praças municipais, muitas vezes, são o único contato da população urbana com a natureza durante seu cotidiano conturbado.
Elas têm o papel de serem pontos de encontro e áreas de lazer para os que delas desfrutam. Em vista disso, a família Baia, residente do Jardim Bom Sucesso, em Santa Gertrudes, se organizou nos últimos meses para reavivar a área verde, defronte seu domicílio, a qual está há muito tempo sem os cuidados da Prefeitura.
O Diário do Rio Claro entrevistou Elzi Maria Baia, de 46 anos, uma das responsáveis pela revitalização do espaço público em Santa Gertrudes. Elzi declarou que, incomodados com a constante necessidade de abordagens policiais no local e com a falta de iluminação, os moradores solicitaram à prefeitura uma reforma na praça. Contudo, como não obtiveram êxito, ela e sua família, composta por sua irmã Maria, seu marido Adelir e seu filho Alexandre, tomaram a referida iniciativa.
“Antes de a gente arrumar, a polícia vivia fazendo abordagens aqui por conta de pessoas consumindo drogas ou adolescentes em atos obscenos. Agora, melhorou bastante. Se a gente vê alguém fazendo bagunça lá, pedimos com educação para se retirar”, relata Elzi.
Ela e sua irmã, Maria Aparecida Baia, de 50 anos, que moram lado a lado, confeccionaram tramas de crochê com restos de lã que já tinham em suas casas para revestir os caules das árvores.
As artesãs se inspiraram em cidades da região, que também possuem árvores revestidas e reproduziram a técnica no espaço público com o intuito de proporcionar um ambiente colorido, alegre e agradável para a população. Além disso, a família realizou serviços de jardinagem, instalando pneus antigos com mudas de plantas dentro e decorou o local com vasos de plantas. Adelir, marido de Elzi, que trabalha como caminhoneiro, construiu viveiros para pássaros e bancos de madeira, além de uma churrasqueira e mesinha para reuniões.
De acordo com Elzi, ainda falta muito para a praça ser um local adequado para a população, pois lá não possui iluminação. Toda vez que a vizinhança se reúne no local para alguma festa, é preciso puxar uma extensão de sua residência até o espaço. Outra desvantagem é a falta de um parquinho para as crianças brincarem. “Aqui tem uma grande área que poderia ser utilizada para fazer um parquinho para as crianças, afinal, muitas delas brincam aqui à tarde.” Ela ainda afirma que a poucos metros dali existe um parquinho antigo, estabelecido embaixo do sol.
“Os brinquedos ficam muito quentes e as famílias deixam de frequentá-lo por esse motivo”, ressalta Elzi. Para ela, pouco custaria se a prefeitura deslocasse os aparelhos para a praça recém-construída, pois é lá na sombra que as crianças passam a tarde toda. “O prefeito sempre passa por aqui, porque é caminho até a casa dele, mas nunca fez sequer um elogio”, reclama Elzi. A limpeza da praça fica a cargo da empresa licitada Latina S/A, mas sempre que pode a família recolhe o lixo e sujeira prezando a limpeza do local.
Consciência ecológica
De acordo com a gestora ambiental, de 28 anos, Sara Rocha de Oliveira, o método de decoração da vegetação utilizado pelas irmãs Baia é ecologicamente correto. Os fios de lã não prejudicam a saúde do caule, ao contrário da técnica antiga de pintar os troncos das árvores com cal. Essa atitude, aparentemente inofensiva, prejudica muito a flora.
“A prática destrói o ecossistema presente nos caules das árvores e compromete a saúde das mesmas, visto que algumas espécies de árvores realizam trocas gasosas através de estruturas presentes em seus caules. Portanto, pintá-los com cal impermeabiliza essa região, sem contar que fica esteticamente artificial”, explica a ambientalista, que enfatiza que o método adotado na praça em Santa Gertrudes é o correto.
Horta
Além da reforma do espaço público, a família desfrutou de um terreno nas redondezas, que estava há muito tempo em desuso, para fazer uma horta. Elzi pediu autorização para o proprietário do local para plantar frutas e verduras. Após a aprovação do proprietário, eles cortaram o mato alto, limparam a terra e construíram a horta, que atualmente possui plantação de alface, coentro, mexerica e parreira de uva. “O objetivo da horta é dar utilidade ao terreno, mexer na terra e nas plantações. Se vier algum lucro futuro, também seria ótimo, mas fazemos isso por amor”, declara Elzi.
Por Ana Carolina Mariano