No dia 1º de fevereiro de 2022, uma figura de grande nome na história do país completou 77 anos de vida, Maria da Penha. Embora sua notoriedade tenha sido adquirida de forma trágica, Maria da Penha, cujo nome engloba a lei de proteção contra a violência doméstica (Lei nº 11.340 de 2006), celebra sua vida e a transforma em um exemplo de força feminina e resiliência.
De acordo com a lei de proteção à mulher, cinco são os tipos de violência que se acomete contra uma mulher no Brasil. Sendo: sexual, física, patrimonial, moral e psicológica. As violências de âmbito sexual e física são as mais conhecidas pela população em geral, sendo também as mais denunciadas.
Do corte temporal de janeiro de 2021 até maio do mesmo ano, mais de 200 atendimentos contra denúncias de violência contra mulher foram registrados na cidade de Rio Claro, como foi noticiado pelo Diário. Entretanto, menos conhecidas e compreendidas, as violências patrimoniais, morais e psicológicas também são perigosas e devem ser tratadas com a mesma seriedade.
Para esclarecer como proceder mediante situações como essas, o Diário do Rio Claro entrevistou a psicóloga coordenadora do CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) de Rio Claro, Naiara Bull. Nos atendimentos realizados no Creas, seu público alvo são mulheres vítimas de quaisquer tipos de violência.
Em entrevista ao DRC, Naiara explica como ocorrem as violências patrimoniais, morais e psicológicas. De acordo com a profissional, a violência psicológica se configura em toda ação ou omissão que visa causar dano à autoestima, à identidade, à liberdade, podendo ocorrer repetidamente por meio de ofensa verbal, reclusão ou privação de recursos materiais, financeiros e pessoais. Esta violência acontece através de ameaças, humilhações, manipulação, afastamento de familiares e amigos, vigilância constante, críticas à aparência, perseguição, ridicularização, dentre outras depreciações e desrespeitos.
“Essas atitudes causam danos à saúde psicológica e à autodeterminação. Já a violência moral ocorre mediante conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. E por fim, a violência patrimonial, compreendida como uso não consentido ou desvio de recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades. Quaisquer ações de retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos”, esclarece afirma a psicóloga.
RIO CLARO CONTRA A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
Rio Claro possui um baixo número de denúncia de episódios de violência. Isso se deve ao medo, ansiedade e muitas vezes “vergonha” em expor que estão sendo vítimas de atos tão covardes. Durante o isolamento social, em decorrência da pandemia, os índices de violência aumentaram, fazendo com que as mulheres que chegaram a denunciar relatem situações extremamente graves.
No município, é possível contar com alguns serviços específicos que são destinados ao acolhimento e atendimento dessa população, como: o CREAS, a Delegacia de Defesa da Mulher, Patrulha Maria da Penha, serviço de acolhimento para mulheres vítimas de violência, dentre outros.
É AGRESSÃO, SIM!
Questionada sobre o motivo pelo qual as violências do tipo psicológico, moral e patrimonial não recebem tanta atenção e entendimento da população, quando comparados as casos de violência física e sexual, Naiara diz que tais violências não são tão visíveis, havendo maior dificuldade de identificação, tanto pela vítima, quanto pela sociedade ao redor.
Todavia, os danos e marcas acontecem da mesma forma, do ponto de vista socioemocional e psicológico. Para Naiara Bull, “o vicioso ciclo de violência acontece por múltiplos fatores, por questões culturais, sociais, dependência financeira e aspectos subjetivos. A mulher vítima de violência doméstica pode apresentar-se com elevados níveis de estresse, depressão, ansiedade, baixa auto-estima, sentimento de impotência e culpa, podendo afetar inclusive suas capacidades de parentalidade. É importante também refletirmos sobre crianças e adolescentes que vivem em ambientes violentos, acarretam prejuízos em seu desenvolvimento comportamental, emocional, social e cognitivo, podendo adotar padrões agressivos em suas relações”.
COMO IDENTIFICAR UMA VÍTIMA? COMO AJUDAR?
As violências serão mais facilmente observadas por aqueles próximos à vítima, mas todos podem denunciar, caso haja uma suspeita. Lembrando que, situações como depreciação, ridicularização e subordinação são passíveis de denúncia. Caso a mulher perceba que está se reconhecendo em quaisquer dessas situações, é de extrema importância que ela procure ajuda. É essencial o acompanhamento psicológico de um profissional capacitado. Com terapia e apoio dos próximos, as vítimas poderão trabalhar suas fragilidades e medos, empoderando-as e rompendo com o ciclo de violência.
As queixas e denúncias podem ser feitas por meio do Disque Denúncia (número 180) ou em delegacias. A delegacia da mulher, em Rio Claro, fica na Avenida 23, número 1300; Bairro do Estádio, com funcionamento de segunda à sexta, das 8h30 às 18h.
Por Giovanna Rubin / Foto: Divulgação