“É sempre uma honra saber que as pessoas confiam em nós suas histórias, algumas que a gente nunca gostaria de contar, entre elas, as de violência doméstica e familiar. Gostaríamos que o respeito existisse e com isso o fim deste crime, mas infelizmente a realidade do país não é esta, e sim, a de milhares e milhares de vítimas. Portanto, atuar no jornalismo, com uma ferramenta que além de trazer histórias, você pode contribuir de alguma forma, alertando, cobrando ou orientando me deixa honrada”, com essas palavras a jornalista Janaina Moro define cada história contada, dentre elas, a destacada por ela e a colega de trabalho Vivian Guilherme, na edição do dia 26 de maio de 2021 nas páginas do Diário.
A matéria trouxe o depoimento de uma vítima de violência doméstica e também os resultados da Patrulha Maria da Penha, trabalho realizado pela Guarda Civil Municipal de Rio Claro. As jornalistas foram premiadas em segundo lugar no Prêmio CNJ Juíza Viviane Vieira do Amaral e comentam a produção do conteúdo. “Primeiramente é você ter visão de que aquela iniciativa tem se destacado e dado resultado, que se enquadra nos requisitos exigidos pelo prêmio. Eu sempre acompanho o trabalho da Patrulha Maria da Penha em Rio Claro, principalmente no momento de pandemia, então analisei, se enquadrava, conversei com a jornalista Vivian Guilherme e começamos a produção”, conta Janaina Moro.
A partir daí solicitaram as informações, os dados dos trabalhos da Patrulha e entraram em contato com a vítima que prontamente aceitou relatar o que tinha vivido, os momentos de medo e também a assistência recebida pela Patrulha Maria da Penha. “Ter um personagem, no caso a vítima, e os profissionais que realizam o trabalho, contribuindo com a matéria faz toda a diferença”, salienta.
Além da organização das ideias, as jornalistas destacam a importância de todo o processo para chegar ao produto final e estampar as páginas do jornal. “Destacamos que é um trabalho em conjunto, então desde a ideia do tema, até a finalização, produzimos o texto que passa por uma revisão, isso em todos os materiais que são produzidos e, depois vem o toque que faz sim uma grande diferença, que é pensar como você vai estruturar a matéria na página, como será essa diagramação, no caso desta matéria especial que foi disponibilizada em uma página inteira, nosso diagramador José Luís estruturou muito bem, assim como faz ao longo de sua carreira, o que contribui para o resultado final”, destacou a jornalista Vivian Guilherme que é chefe de redação do Diário do Rio Claro.
O PRÊMIO
O “Prêmio CNJ Juíza Viviane Vieira do Amaral” teve por finalidade contemplar: experiência, atividade, ação, projeto, programa, produção científica ou trabalho acadêmico que contribua para a prevenção e o enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher. Recebeu o nome de Juíza Viviane Vieira do Amaral, vítima de feminicídio, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro na véspera do Natal de 2020. Ela foi morta pelo ex-marido com 16 facadas, a Polícia concluiu que foi um crime premeditado.
A premiação ocorreu em seis categorias: tribunais, magistrados (as), atores (atrizes) do Sistema de Justiça Criminal – Ministério Público, Defensoria Pública, advogados (as) e servidores(as), organizações não governamentais, mídia e produção acadêmica.
A cerimônia com a divulgação dos vencedores ocorreu na tarde de terça-feira (14), durante a 61ª Sessão Extraordinária no Plenário do CNJ, presidida pelo Presidente do Conselho Nacional de Justiça e Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ministro Luiz Fux. “É uma grande satisfação participar do momento e contribuir com a causa de combate à violência doméstica. Procuramos sempre estar pautadas com os assuntos de relevância para toda a sociedade e agradecemos aos que contribuíram”, agradeceu Vivian Guilherme.
PREMIAÇÃO
A reportagem intitulada “Patrulha Maria da Penha realizou 200 atendimentos de violência doméstica em Rio Claro somente neste ano” foi a segunda colocada na categoria Mídia. O primeiro lugar ficou com o documentário da Record TV. “Fico honrada em poder levantar temas como este. Agradeço a Deus, minha mãe, filho, ao Diário por permitir a realização do trabalho e a todos os parceiros para a realização do material”, diz Janaina.
Agradecimentos aos profissionais da Patrulha Maria da Penha
As jornalistas estiveram na sexta-feira (17) na sede da Guarda Civil Municipal de Rio Claro para um agradecimento aos profissionais que realizam o trabalho. “Como mencionamos é um conjunto de fatores e de pessoas que levam a um bom trabalho, portanto reconhecemos cada profissional da Patrulha, do Diário do Rio Claro, amigos e familiares que contribuem dia-a-dia”, salientaram as jornalistas que foram recebidas pela equipe composta pela GCM Luciana, GCM Patrícia e GCM Mendes. “É uma honra para gente realizar o trabalho e mais ainda fazer parte desta vitória de vocês, muito gratificante poder contribuir, ficamos felizes pelo resultado da reportagem”, destacou a GCM Luciana.
A Patrulha Maria da Penha foi implantada em 2018 na cidade de Rio Claro. Em três anos são mais de 1500 vítimas cadastradas que receberam a Medida Protetiva e foram ou ainda são acompanhadas pela Patrulha Maria da Penha da GCM. Faz três anos que a Patrulha está em ação em Rio Claro e o retorno das vítimas, elas se sentem muito agradecidas e mais seguras, isso não tem preço. Muitas cidades da região vêm até a gente para conhecer, inclusive capacitamos as equipes de Indaiatuba”, salienta.
A Patrulha conta com duas equipes, porém a GCM observa: “todos os guardas de todas as viaturas estão aptos para prestarem o primeiro atendimento. Nós da Patrulha fizemos treinamento em Suzano e quando retornamos repassamos tudo que aprendemos para toda a corporação. Fazemos acompanhamento da vítima até ela se estabilizar e estar fora de risco. Enquanto ela está com a Medida Protetiva, estamos acompanhando. Quando tem uma violência, as partes são encaminhadas ao Plantão Policial para o registro da ocorrência e solicitada a Medida Protetiva que tem até 48 horas para ser expedida e quando chega para nós, já começamos o acompanhamento com a vítima”, esclarece a GCM Luciana.
As equipes são compostas pela GCM Luciana, GCM Mendes, GCM Sônia e GCM Muller que estão nas ruas e a GCM Patrícia que faz a parte administrativa. “Estou na guarda há 14 anos e na Patrulha há três, comecei como patrulheira e agora estou na parte administrativa cuidando das medidas e atendimento na sede da GCM. Representa tudo para mim, me preenche bastante, estamos fazendo o bem à comunidade, às mulheres que necessitam de apoio e também a idosos e crianças. Todas histórias chocam, mas procuramos da melhor forma atendê-las, encaminhar ou tentar resolver o problema delas, buscamos acolher essa vítima que está fragilizada. Algumas mulheres têm medo, já sofrem a violência, não tem para onde ir, tem criança, por isso acolhemos, buscamos entender a história e tentar da melhor forma trazer a solução”, declara.
A Patrulha Maria da Penha hoje
Um dos requisitos da matéria premiada era destacar ações inovadoras e que também possam ser replicadas. A Patrulha Maria da Penha da GCM de Rio Claro tem sido referência para outras cidades e um dos pontos destacados e importantes é a linha direta com as vítimas através do Whatsapp que pode ser acionado a qualquer momento pelas vítimas. Além de um novo projeto que deve ser implantado no próximo ano. “Trouxemos algumas inovações, como a assistente Sônia Mantovani, percebi que a guarda era uma porta de entrada, e precisava de uma continuidade, a profissional faz o link com os outros setores da prefeitura. Vimos a necessidade de implantar a Casa da Mulher, uma casa de acolhimento, que deve ser concretizada ano que vem, já está em fase de término de criar o Fundo Municipal de Proteção à Mulher. Fomos até a cidade de Cajamar, de Jaú conhecer o Projeto e já estamos formulando esse fundo. São vários fatores que estamos trabalhando e não só ver a Patrulha Maria da Penha como porta de entrada, mas ser um divisor de águas no cuidado com a mulher de Rio Claro”, destacou o Comandante da Guarda Municipal de Rio Claro Rodrigo Gonçalves, esclarecendo ainda que em breve a Guarda vai iniciar o projeto com teatro de fantoches para que desde cedo, seja possível conscientizar sobre o respeito às mulheres e combater o crime da violência contra este público. As equipes retomaram recentemente as palestras nas escolas. “Vamos desenvolver o trabalho que vai passar pela criança, o adolescente e também o homem adulto através de palestras em empresas, escolas de ensino médio e educação infantil. Ou seja, um ciclo completo, começar a educar de pequeno, mas o que já foi educado, a gente tentar transformar”, salienta.
Por Redação DRC / Foto: Divulgação