Quando se passa pelo bairro Largo da Estação, é impossível não observar o antigo patrimônio histórico – a Estação Ferroviária de Santa Gertrudes – em estado de abandono.
O local está sem manutenção, com paredes pichadas e portas e janelas do prédio principal – aquelas que não estão destruídas – lacradas. O mato no local está alto e a destruição é evidente.
A presença de cobertores e outros objetos indicam que moradores de rua buscam se abrigar no local. Os imóveis onde moravam antigos trabalhadores ferroviários, por volta da década de 80, se deterioraram e sobrou somente um terreno, que ainda conta com antiga estrutura do painel de energia que abastecia as casas. Mas o que mais chama a atenção é a quantidade de lixo jogado defronte ao grande prédio de tijolos à vista.
Há mais de sete meses, o local é utilizado pela prefeitura como área de transbordo até o lixo ser transferido para seu destino. Isto, em consequência do aterro municipal ter sido interditado pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) em virtude do descarte clandestino de lixo por caminhões de outros municípios, segundo a Secretaria de Habitação de Santa Gertrudes.
O descarte de lixo pela prefeitura começa às 7 horas da manhã e, após o fim desse trabalho, às 16 horas, alguns moradores também se utilizam daquele local. Colchões, tábuas de passar roupa e outros utensílios caseiros são jogados no terreno às margens da estação, diariamente.
O problema já foi alvo de reclamações da população gertrudense, pois, além do aparecimento frequente de roedores e animais peçonhentos em suas casas, o acúmulo de água parada no lixo favorece a proliferação do mosquito da dengue (Aedes Aegypti).
A situação entristece os moradores, principalmente os que residem há mais tempo no bairro. “Eu já encontrei ratos e aranhas aqui em casa e, uma vez, uma cobra na minha área. Escorpião nunca apareceu aqui, mas os vizinhos reclamam bastante”, relata Maria Célia Zonta Lopes, moradora de uma das casas localizadas em frente à estação há 40 anos. Ela disse ainda que os pneus abandonados no local estão cheios de água e que, no verão, os pernilongos e as baratas incomodam muito.
“Eu cuidava aí da frente. Olha como era antigamente (mostra fotos) e como está hoje em dia”, conta Valdemar Lucio da Silva, de 53 anos, morador de outro imóvel próximo. Nas fotos, se destaca uma estação cheia de árvores e plantas, bem diferente da situação atual. Ele diz também que recentemente houve melhoras devido às reclamações. A prefeitura não estaria mais deixando acumular tanto lixo. “Se a gente não reclamar, continua essa bagunça”. Dentre as desvantagens do abandono da estação, citou também a desvalorização dos imóveis e a poluição visual.
Outro lado
Mesmo com a desativação das ferrovias em muitas cidades do interior paulista, a situação é diferente da vivida em Santa Gertrudes. Em Campinas e Araras, por exemplo, as estações foram reformadas e utilizadas em projetos culturais, históricos e para o lazer dos moradores, funcionando como teatros, centros culturais e com espaço disponível para cursos, oficinas e outros eventos promovidos pela prefeitura.
Conforme entrevista feita pelo Diário do Rio Claro com o secretário de Cultura do município de Santa Gertrudes, André Brechoti, além de fazer o restauro preservando a fachada do prédio, a administração tem a intenção de fazer salas de teatro e um espaço para música ao vivo. Tais mudanças, entretanto, segundo ele, não têm prazo para ocorrerem e dependem do empenho de toda administração e parcerias com setores do governo estadual.
De acordo com a Secretaria de Habitação de Santa Gertrudes, apesar da área ainda estar sendo usada como transbordo de materiais, o lixo não chega a ficar uma semana no local, pois ele é retirado frequentemente e os materiais são levados para aterros conveniados da região, como os de Cordeirópolis, Rio das Pedras e São Pedro.
A prefeitura também não tem um prazo para que a estação deixe de ser utilizada como depósito de lixo, pois depende da conclusão do processo de regularização, análise e liberação do aterro municipal, que está a cargo da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo).
Por Ana Carolina Mariano