Já faz 41 anos. Exatamente hoje! No dia 8 de dezembro de 1980, o fã aparentemente pacífico, Mark Chapman, atirou friamente à queima-roupa em John Lennon na porta do hotel onde o ex-Beatle morava com Yoko Ono, em Nova York.
Enquanto o mundo se comovia e chorava a tragédia do astro assassinado que pregava a paz pelo mundo, inaugurava-se uma triste fase da nossa sociedade: a espetacularização.
Chapman, como todos sabem, matou Lennon para ganhar fama. E ganhou, sem se importar com o que havia feito.
Condenado à prisão perpétua, chegou a dizer que se sentia como um cavaleiro das Cruzadas, que havia “colocado o último prego no caixão dos anos sessenta”. Psicopata de primeira ordem, o assassinato de John Lennon tornou-se emblemático também para a identificação dessa nova faceta da sociedade global.
O fenômeno da midiatização ocorre entre nós, pessoas ditas normais, de uma maneira bem mais prosaica – ainda bem – e pode ser bem observado no comportamento das pessoas.
A criança que esperneia, chora e se joga no chão para a mãe por conta daquele brinquedo caro; a adolescente meio menina, meio mulher, cheia de ‘atitude’, que só veste roupas de grifes famosas; a mãe que “precisa” fazer uma plástica, e o pai que troca de carro todo ano.
Nesse jogo, onde nunca há satisfação plena dos desejos, todos almejam um objetivo inconsciente: ser aceito, ser reconhecido pelos outros e, enfim, conseguir se destacar dos demais.
Ansiamos por agradar a todos e, na grande maioria das vezes, nos esquecemos de nós mesmos. São poucos, ou ninguém, os que vão pela própria cabeça.
E o ápice desse comportamento em sua patologia mais aparente, sem dúvida, é essa ânsia pela fama. Tudo turbinado pela ilusão das redes sociais.
A ideia da pessoa famosa, livre dos problemas cotidianos, amada e paparicada por todos onde quer que esteja, seduz a todos. Porém, em muitos casos o excesso de fama e sucesso são equivalentes ao excesso de fracasso. Exemplos não faltam: Michael Jackson, Marlon Brando, Whitney Houston, Elvis Presley e muitos e muitos outros.
A expectativa criada pelos meios de comunicação faz com que as pessoas pensem que uma pessoa plenamente feliz é a que consegue atingir a riqueza material e a fama. O desejo é latente nas pessoas. Sair da multidão e passar a ser objeto de culto a qualquer custo é o que se quer.
Se antigamente a fama era a consequência de um trabalho artístico, por exemplo, hoje ela se esvaziou. Não precisa haver nenhum motivo para ser famoso. Basta saber bem a arte de parecer e se tornar um simulacro de si mesmo.
Mais que casas ou lugares, desejamos viver em cenários. Mais do que relacionamentos, queremos consumir gente, e a mínima frustração deixá-las. Mais do que um emprego, o trabalho que não precisa trabalhar; a profissão que não precisa pensar; muito menos estudar.
E, por fim, o nosso emocional, infantilizado pelos desejos cada vez mais exigentes de um ego mimado arremata o cenário para a onda em busca de ser a ‘celebridade instantânea’ da vez.
Ainda que para isso precise se tornar irreconhecível para você mesmo. Uma forte necessidade de ser aceito socialmente e ter a doce ilusão de uma ‘segurança existencial’. Procuramos por uma realidade edulcorada e inatingível para compensar nossa rotina sem graça.
O mercado já sabe disso e mais do que depressa criou uma nova ‘necessidade’ entre tantas que nos bombardeiam. Ser famoso é tudo de que as pessoas ‘precisam’, mesmo que seja por alguns minutos. E viva Andy Warhol! Poucos teriam coragem de tomar a pílula vermelha de Matrix.