“Até bem pouco tempo atrás poderíamos mudar o mundo. Quem roubou nossa coragem?”. A provocação em forma de pergunta na música do Renato Russo é precisa.
Quem você queria se tornar antes do mundo dizer o que você deveria ser?
Quantos dos teus sonhos se perderam, sobretudo nesse ano de 2021 com dezembro aí já anunciando o seu fim? Tantas perguntas, tantos encontros não feitos por conta da pandemia. Você lembra onde sua vida estava quanto tudo parou? Bem, se você está aqui lendo essas mal traçadas, já pode se considerar vencedor. Atravessou o segundo ano da pandemia, vivo(a)!
Alguns se desesperam pela simples ideia de perderem um pouco de seus bens materiais, sua posição, numa ansiedade louca para continuar a fazer parte de um círculo social “elevado”. E assim confortavelmente escondem-se de si mesmos, de sua miséria interior. Criticaram muito o isolamento social, por essas perdas e principalmente por não serem boas companhias em casa e muito menos para si mesmos.
Outros não, de fato tiveram perdas econômicas difíceis de recuperar e outros tantos milhares, perderam suas vidas. Quantas saudades nas pessoas que vão passar pela primeira vez um Natal, um Réveillon longe de quem gostavam.
Mas se você lê esta crônica no conforto do seu smartphone, aí bem saudável, espero, pense que para 2022 pode fazer uma grande diferença o quanto de criança ainda há nesse seu olhar para a vida, para o mundo.
Não importa a idade. É preciso se encarar e dizer, eu fiz, ou eu não fiz e me responsabilizo pelo meu fracasso. Parece maluquice? Sim, todo ato de coragem tem em si um bom tanto de maluquice aos olhos dos outros.
Então, se há uma boa época para ser maluco é agora em 2022, isso se a pandemia passar né, e essa nova variante “ômicron” deixar. Que você possa ser maluco o suficiente para ter coragem de mudar aquilo que não te faz bem. Mas principalmente tenha ousadia de mudar em você aquilo que não faz bem para os outros.
Fruto do que nos ensinaram a ser, em nossas cabeças temos a ideia de que felicidade só vem pelo sacrifício pessoal. Algo do tipo “sofra nesta vida, e será feliz na próxima.”
Jacques Lacan dizia que felicidade não é algo que a gente tenha de fazer por merecer, não é bem que se mereça. Ela ocorre por acaso, muitas vezes inesperada. Outros dizem que ser feliz está na própria busca, na jornada, não num objetivo final.
Outra ideia muito confortável para justificar nossos fracassos pela vida, o não realizado, é que a vida é correria, que viver não é fácil e vivemos sob tensão sempre na expectativa de ser aceito pelas pessoas que nos rodeiam.
Imagine, por exemplo, se sempre fôssemos ouvir nossos pais em tudo? As cabeças mais brilhantes dessa e de épocas passadas têm em suasbiografias momentos de rebeldia, momentos de desafiarem e desafinarem o coro dos contentes.
Quem evita o conflito a todo custo, alegando paciência e resignação, pode estar se escondendo e se justificando. Assumindo o papel de vítima, anseia por ser vista aos olhos dos outros como a pessoa boa, a que tudo faz pelos outros, a que tudo suporta. Há, sim, muito egoísmo nisso também.
Culpar-se e aceitar tudo estoicamente sempre é a melhor carapaça para fugir da maior entre as muitas responsabilidades que Deus lhe deu: ser feliz.
E não é no horóscopo que estão as melhores previsões. Elas estão dentro de você. A esperança de ser aquilo que sempre sonhou está aí, doida para virar realidade.
Encare seu desejo de frente, saia da zona de conforto e assuma a própria angústia de exercer o seu talento. Não é fácil, é luta! Fazer acontecer pode depender muito do meio em que você vive, eu sei. Mas sempre depende fundamentalmente de você mesmo. O escritor argentino Ernesto Sábato celebrava o ser humano e elogiava a nossa capacidade de erguer nossa obra de vida a partir dos escombros emocionais e os físicos também. Sobreviventes de guerras e catástrofes sabem bem dessa capacidade e devem nos servir de exemplo.
Lá no fundo você sabe disso, aí se olhando para dentro. Pense que mais que o império das coisas materiais, o carro, a casa, o mundo pedem por um império da mente, onde as ideias possam nos tirar do aperto, onde a bondade e a humanidade possam nos resgatar e nos redimir. Coloque em prática aquele seu projeto que parecia esquecido. Reaprenda a pensar como criança, deslumbrada com a natureza e as pequenas coisas do dia. É aí, nessa simplicidade, que estão todas as respostas. Você sabe disso, não é mesmo?Porque a receita para uma vida fracassada é tentar viver uma vida que não é a sua. Que venha dezembro de 2021 e depois 2022! Inspire-se!