De todas as armas que inventamos, a mais terrível em poder de destruição, a mais covarde, é a palavra. A palavra destruidora realiza o Mal e não deixa vestígios. Por meio de palavras malditas, filhos vivem condicionados durante anos pelos pais, se achando incapazes, profissionais são impiedosamente criticados, e algumas religiões incutem que sempre estamos em dívida, conosco, com o mundo, com Deus, por meio da palavra daqueles que se julgam capazes de interpretar a “voz de Deus”.
Ninguém parece querer refletir muito antes de tomar uma atitude de empreender uma ação. E muita gente ignora o arrependimento pelo mal que causa. Somos reticentes e covardes para pedir desculpas. Dizem que é sinal de fraqueza. Soma-se a isso a falta de grandeza e o cinismo. Fala-se muito desse tal de “novo normal”, como se novos humanos surgissem após essa pandemia. Ao que parece, não há sinais claros disso. Muitos de nós continuamos os mesmos.
A sociedade disciplinar e repressora do século 20 descrita por Michel Foucault perdeu espaço para uma nova forma de organização coercitiva: a violência neuronal. As pessoas se cobram cada vez mais para apresentar resultados. A nova autoflagelação agora é: “Tenho que ser sempre produtivo!”
Quem não se pune quando levanta cedo e pensa: “Que b#$@% eu estou fazendo com a minha vida?”. E aqueles sonhos todos, de largar tudo, ou de ser aquilo que não fui? Parece que todas essas perguntas, carregadas de genuíno sentimento humano, não podem ser feitas, tem de ficar suspensas, afinal é preciso reprogramar o cérebro para não sentir, para ter foco, para se concentrar naquilo que se deve fazer, pensando numa recompensa imaginária, que nunca vem, para ter a tal da ‘resiliência’.
O simples ato de silenciar quando esperam que você grite desencadeia uma série de bons acontecimentos. Com consciência de que as palavras têm muito poder, lute contra você mesmo e decida ficar em silêncio, mesmo quando parecer irresistível a vontade de falar.
Mesmo porque quando essa vontade é irresistível, na maioria das vezes ela é desnecessária. É no silêncio que ganhamos força. Ele impede o arrependimento pelas más flechas lançadas. A cada exercício desse, maravilhas acontecem em nosso interior. Na resistência você ganha força. Na força, ganha paciência. E só com paciência é que atinge o melhor dos atributos humanos: a humildade. Tente.
Para esses tempos sombrios, com suas polarizações, e a moda de dar viés político-partidário a quase tudo, mais do que nunca saber silenciar faz toda a diferença.