Muita gente passou a cultivar horta em casa durante a quarentena, seja para ter mais contato com a natureza ou até mesmo para aproveitar o tempo e ter uma atividade de bem-estar, mas acabou pegando gosto de colher o alimento para cozinhar e preparar refeições (seja vegetal ou tempero). Ao mesmo tempo, o tema sustentabilidade nunca esteve tão em voga, e muitas pessoas também começaram a repensar hábitos e buscar formas de ajudar sem sair de casa, e foi aí que a compostagem apareceu como ótima oportunidade para ajudar com o descarte correto do resíduo orgânico, cuja produção aumentou na pandemia e ainda não tem o devido descarte pelos serviços de coleta de lixo da maioria das cidades brasileiras. Como muitas mudanças desse período, essas são duas que vieram para ficar.
Para começar uma horta em casa, basta analisar se há um espaço, podendo ser grande ou pequeno, que bata sol e providenciar materiais como vaso, jardineira, terra, ferramenta e regador. “O sol é muito relevante, porque é energia para a planta. O ideal é ter no mínimo quatro horas de luz, mas mesmo que não tenha tanto tempo de iluminação, a planta acaba se adaptando. Na dúvida, escolha o local com maior luminosidade disponível e experimente”, aponta Diego Diel, coordenador de vendas da ISLA Sementes. Para ajudar os iniciantes na empreitada, a empresa disponibiliza 600 variedades de sementes e kits para começar uma horta em casa no e-commerce.
Com relação à estrutura, há diversas formas. “Pode-se fazer uma estrutura suspensa, em cima de um cavalete, uma escada, parapeito ou janela. No chão ou em floreiras. É essencial pensar numa drenagem para escoar a água dada às plantas. As hortaliças gostam de solo úmido, mas não encharcado. Exemplos são os furos na base dos vasos ou ainda evitar terrenos que alaguem para uma horta em canteiros”, explica Diego. Para escolher o que plantar, é interessante saber as características das plantas que se deseja cultivar. Manjericão, alecrim, pimenta, orégano, salsa, rúcula, coentro e microverdes são opções para começar a cultivar uma horta em casa. “Mas vale lembrar de conferir se a época condiz com o período recomendado para a sua região”, ressalta Diel.
Compostando os resíduos orgânicos
Horta feita, alimentos plantados e consumidos, é hora de saber como lidar com as sobras. Muita gente acha que, separando resíduos secos (recicláveis) e molhados (orgânicos) já está colaborando para o meio ambiente. Mas a verdade é que apenas o que é reciclável tem um descarte correto pela coleta de lixo. Na maior parte das cidades brasileiras, os rejeitos (parte do lixo que não temos capacidade e/ou tecnologia para reciclar) e os orgânicos acabam em aterros sanitários ou lixões a céu aberto. Por dia, 200 mil toneladas de rejeitos e orgânicos vão para lixões, e 50% deles são resíduos orgânicos.
Um dado alarmante: medicamentos, fármacos e embalagens de cosméticos, entre outros resíduos chamados de micropoluentes, além de perfurocortantes e infectantes gerados em nossas casas, são classificados como resíduos urbanos e, com isso, a lei afasta a obrigatoriedade do descarte adequado, permitindo que o mesmo seja feito no lixo comum. O assunto é tão sério que a ONU criou um grupo de estudo para criação de soluções inovadoras para a gestão do lixo doméstico (isso porque o resultado do descarte inadequado é poluição e contaminação do meio ambiente). Aqui a compostagem entra como uma oportunidade de cada um fazer sua parte.
“A compostagem é um processo biológico de transformação de resíduos orgânicos em adubo pela ação de microorganismos, principalmente bactérias”, explica Rafael Zarvos, especialista em Gestão de Resíduos Sólidos e fundador da Oceano Resíduos. Para quem está começando, ele deixa duas dicas: comprar uma composteira doméstica ou fazer o próprio vaso compostor. O primeiro método utiliza minhocas, e o segundo método utiliza matéria seca, mas Rafael garante que nenhuma das duas opções libera odor.
As duas técnicas transformam lixo em alimento ao invés de ter o mesmo resíduo liberando toxinas que prejudicam o meio ambiente em aterros sanitários. “Estamos atravessando um momento ímpar onde podemos observar a quantidade de resíduos que geramos em nosso dia a dia. É a oportunidade de começarmos a repensar nossos hábitos. A compostagem somada à separação dos resíduos recicláveis, contribui para fecharmos o ciclo”, destaca Zarvos, que vê na compostagem uma forma do cidadão exercer sua cidadania ambiental, sem depender do poder público.
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