Ter a vida que sempre sonhou, o emprego dos sonhos, a casa, o carro, e ser amado(a) por todo mundo, espalhar o bem e ser admirado ou admirada por isso. Ah, e de quebra, ter fama! Ser conhecido por aquilo que é e vive. Será mesmo que você suportaria essa felicidade seja lá o que ela signifique para você? Ou vai ver, estamos viciados nas expectativas não atendidas, na idealização de uma tal “vida boa” que só acontece nos filmes, nos romances e nas redes sociais.
Já sei, você, assim como eu e um monte de gente, esperava mais da vida, né? Quando a gente desejou ser adulto, imaginando que teríamos mais liberdade de agir e pensar, esquecemos de pensar nos boletos, nos cafés frios e no quanto a gente ia se sentir desvalorizada(o), nas pressões de todo o dia.
Não sei se com você é a mesma coisa, mas tem dias em que eu penso que a vida nos prometeu mais do que realmente está entregando. Outros dias não, tudo vai bem.
Vai ver mesmo, nós é que idealizamos demais. E o resultado é uma insatisfação crônica, gerada pela diferença entre nossa expectativa e a realidade que nos cerca. E claro, sem aquela bobagem de meritocracia, já que num país tão injusto e desigual como o Brasil, falar em meritocracia écomprometer a honestidade da conversa.
Sem padrões rígidos a serem seguidos, muito menos uma receita de vida boa a ser repetida, nosso tempo nos coloca como criança numa imensaloja de brinquedos, com muitas escolhas a se fazer. E colocar o poder de escolha pela vida, quais caminhos tomar nos coloca todos os dias frente aos nossos desejos deixa a gente inquieta, ansiosa.
Quem tem coragem de assumir essa angústia e deixar de lado que escolham por você? Nesse momento em que você lê essa crônica, sabe lá no fundo que pode de repente romper com tudo o que não lhe faz bem. Eu sei, há muitas amarras que lhe prendem…justificativas sem fim, que te paralisam. Quem não as tem, não é mesmo?
Vivemos seduzidos, hipnotizados pela ideia do sucesso. Mas, pode estar redondamente enganado quem pensa que o sucesso, genuína consequência de um talento pessoal, traga com ele a felicidade.
Para muita gente parece que existir na felicidade de fato é quando se tem dinheiro, fama e poder. “O sucesso te destaca da multidão, gera angústia e a solidão de ser alguém singular”, diz o psicanalista Jorge Forbes.
Quem assume o risco de exercer seus talentos se angustia sempre, pois encara a vida como ela é: um contrato sem garantias. Quem abraça a responsabilidade de ir em busca dos próprios desejos, e ser o que será, é pessoa rara, dona de si. É o que diferencia a pessoa singular das “genéricas”. A maioria prefere abraçar o que lhe acena uma garantia, ainda que falsa. A tal “zona de conforto”.
Para a pessoa de sucesso, famosa, rica, poderosa neste mundo, a primeira das faturas a serem pagas é a da exclusão do grupo, pois o talentoso é bicho raro e acaba não tendo lugar na turma.
A psicanálise sabe pelas palavras de Lacan que “o sofrimento por uma qualidade pode ser maior que aquele originado por um defeito, pois o defeito é solidário e a qualidade é solitária”.
Por isso, muitos de nós preferem a segurança do aplauso da família e dos amigos que o risco do palco de uma nova vida, mais feliz, com o risco da vaia. Você estaria pronto para receber a felicidade, assim, de forma inesperada, sem merecer?
É preciso estar muito apaixonado pela vida para suportar tamanho impacto.
A vida é muito diferente do que idealizamos ou vemos nos filmes nas redes, séries e livros. Por isso então que o gênio Belchior dizia e eu não entendia, por que ainda era criança: “Viver é melhor de sonhar”.