Estávamos fazendo um orçamento para a reforma de nossa residência, quando o responsável pela execução da empreitada disse que precisaríamos acelerar a obra, pois as mercadorias estavam subindo de preço, nem tanto pela pandemia e nem tanto pelo aumento do dólar, mas sim, pela falta de containers, que atrasaria o transporte de alguns materiais que vinham do exterior.
Se não interrompêssemos sua fala, com certeza teríamos uma aula de comércio exterior, processos aduaneiros e taxas portuárias, o que resultaria numa explicação plausível do aumento de seus produtos, ou uma simples aula de Crtl C e Crtl V sobre a manchete do momento. “Falta de containers eleva o preço das mercadorias importadas.”
A cada momento existem as prerrogativas para justificar os inúmeros aumentos abusivos que fazem parte de nosso cotidiano. Quando imaginamos que não há mais o que argumentar sobre a elevação dos preços, há sempre uma cabeça pensante que dispara uma novidade na rede.
Nos últimos dois anos a Covid-19 foi a vilã de todos os nossos males. Não apenas as mortes de nossos entes queridos que abalou nossas famílias, mas também a morte financeira que também traz enormes feridas que em muitos casos, também não cicatriza.
Até o dólar, às vezes, ficou esquecido nas entrelinhas, mas sempre esteve presente nas discussões financeiras, principalmente, quando o coronavírus perdia um pouco de sua força.
Depois de dois anos intermináveis onde convivemos 24 horas com esse maldito vírus industrializado e que ultimamente estava perdendo seu status de vilão da alta do preço, veio de repente a notícia que não teríamos a demanda necessária de containers para o transporte marítimo, rodoviário e ferroviário.
Notícia tão inesperada que trouxe um pânico generalizado nas empresas de transporte intermodal.
As respostas sobre esse sumiço dos containers primeiramente foi direcionado pela desaceleração do comércio exterior em detrimento da pandemia, que enfraqueceu as importações e exportações mundiais, ocasionando inclusive a quase paralisação da indústria que produzia containers, diminuindo sua oferta.
Em consequência do enfraquecimento da pandemia e a retomada das exportações, as empresas de transporte intermodal direcionaram sua frota para os grandes portos exportadores, como Ásia, Estados Unidos e a Europa, que atraem os armadores por serem mais rentáveis comparado a outros países, como o Brasil.
Sabemos que há inúmeros problemas e entraves diplomáticos em nossas relações com os países de primeiro mundo. Só que estamos cansados de ouvir a mesma ladainha de sempre, que o Brasil é o celeiro do mundo.
Produzimos e exportamos alimento para o mundo todo, trazendo divisas e dólar para os nossos cofres, enquanto o povo brasileiro está comendo as sobras cruas, pois o óleo de soja está muito caro. Mas como dizem, a culpa é dos governadores.