Dia desses me deparei com uma foto da seleção brasileira de 1986, nem era a de 1982, que encantou o mundo. Estava postada numa dessas páginas saudosistas das redes sociais, com as quais, vez por outra, eu me deparo.
Lá estavam em pé: Leandro, Carlos, Edinho, Júnior, Oscar, Toninho Cerezo e Telê Santana. E agachados: Renato Gaúcho, Sócrates, Casagrande, Zico e Eder. Para os mais de 50 anos, como eu, os caras citados aí, dispensam apresentações. Para os mais novos, eles são a penúltima geração de craques surgida no Brasil. Oh saudade!
Dê-se um desconto aí para o Casagrande que, embora, artilheiro nato, nunca foi mais jogador do que o Careca, por exemplo, ou, o Roberto Dinamite, que bem poderiam estar nesta foto, em seu lugar. Mas Casão fazia uns gols até que bonitos naquele tempo, foi destaque nas Eliminatórias em 1985, e jogava no Corinthians, o que significa uma espécie de passaporte ou carimbo de chancela para a seleção.
Mas, voltando ao assunto principal, é inimaginável nos dias de hoje, jogadores perfilarem para uma foto dessas, em um simples treinamento. Aquele, realizado na Toca da Raposa, em Belo Horizonte, sede do Cruzeiro.
O fato nos remete a algumas reflexões, nós que somos apaixonados pelo futebol bem jogado, genuinamente brasileiro. Uma delas, e, talvez, a mais instigante é: Temos atualmente uma seleção brasileira formada por jogadores do mesmo nível técnico que estes? Não temos. E, provavelmente, não voltaremos a ter.
Se tivéssemos ganhado todas as Copas ou quase todas, seria rotina e não seria encanto. O encanto do futebol está justamente arte de jogá-lo, no improviso do artista com a bola nos pés, que desfilam sua habilidades pelos gramados. Está nos estádios lotados, na festa das torcidas. Está na vibração do gol, pura emoção, puro êxtase dos corações extremados, pulsantes e incontidos, que deu lugar à fria lógica de uma parafernália denominada VAR.
A alegria, o barato do futebol, está no fato de poder questionar as decisões do árbitro, autoridade máxima. Am? Quando? Onde? Não mais.
Mas, o encanto do futebol, pode crer, amizade, está ainda no fato de, o mais fraco poder ganhar do mais forte, é o único jogo coletivo em que isso pode acontecer, e vez por outra, acontece. Se bem que, em se tratando de futebol brasileiro, está difícil atualmente definir qual time é o mais forte e qual time é o mais fraco.
Não para por aí, chefia, o encanto do futebol está… ou estava? já nem sei… no surpreendente, que de repente, faz o torcedor, na arquibancada, diante da tevê ou com o rádio na orelha, prender a respiração. Está no inesperado. Uma falha, um frango, um, gol, uma jogada genial, daquelas que merecem foto na primeira página na edição de amanhã. Está em qualquer coisa, enfim, fora do script dos deuses do futebol que podem definir o resultado de um jogo.
Ah, ia me esquecendo, futebol é um jogo. Mas, nos dias atuais, busca-se tão somente eficiência e justiça, como se futebol fosse resultado de uma lógica e não da emoção espontânea em forma de arte e disputa. Antes, bastavam 17 regras para o futebol. Agora, não mais. O futebol tornou-se tão somente negócio. Ainda abrem-se as cortinas, ainda começa o espetáculo, torcida brasileira, mas, é a chatice que entra em campo. Será que esse jogo vira? Ou é jogo de cartas marcadas? Sei não.