A vida é uma comédia? Pensando no mundo, em tempos de pandemia, pode parecer algo insensível. Mas o riso ainda é o ‘escape’ para muita gente. Para Tim Caniatto – nome artístico de Jose Antonio -, a comédia representou tudo na sua vida, já que o ator completou 54 anos de carreira, exercendo a arte do riso desde 1967, em Rio Claro e região.
A carreira do ator conta com três prêmios de Melhor Ator e mais um de Melhor Diretor, envolvendo o antigo Grupo Palanque, da década de 70 – no qual atuou em grande parte de sua carreira – e o grupo Manga de Colete, que exerceu atividades até 2008.
Entre as peças marcantes que levaram a emoção do riso, o ator já fez diversos personagens como em ‘Toda donzela tem um pai que é uma fera’, se passando por um sujeito bem-humorado morando no Rio de Janeiro dos anos 80. Ainda, um Rei no clássico do teatro do absurdo, ‘Palácio dos Urubus’, e ‘Que mãe que eu arranjei’, vivendo um icônico mordomo que se veste como a mãe do patrão e deixa os parentes apaixonados.
Além do grande incentivo de Silvia Zanchetta, que fazia parte da Secretaria de Cultura da cidade, e trabalhando com grandes conhecidos rio-clarenses como Cérjio Mantovani e Belmiro de Almeida, Caniatto espalhou o riso nos teatros através de peças memoráveis. Uma história cheia de nostalgia e boas risadas, em entrevista ao DRC.
A PRIMEIRA VEZ
Ainda criança, o ator conta que já fazia o papel de “palhaço” ao montar cabanas com lençóis e arames que se assemelhassem com os circos, teatros e cinemas de sua infância. O ingressos eram os fósforos da “turminha” de 20 amigos. “Todo mundo fazia isso naquela época. Era uma delícia de descontração pra gente, depois da saída da escola.”
Filho de um ex-funcionário da Cia. Paulista de Estradas de Ferro, a associação do pai com o antigo “Cineminha da Paulista”, na Rua 1-A, e por consequência, o Teatro dos Ferroviários, influenciou no sonho do jovem José Antonio de se tornar um ator de peças de comédia. Algo que ‘de primeira’ não se realizou, aos 23 anos, revelou o artista.
“Foi no Cineminha da Paulista, também Teatro dos Ferroviários. Eu lembro que fiquei uma semana ensaiando algumas falas para apresentar lá e, quem sabe, entrar no grupo. Quando cheguei no teatro, à noite, quem comandava lá me disse, ‘direto e reto’, que eles não estavam precisando de ninguém”, conta o artista.
Sem sucesso, o ator não se desamparou e tentou “mais uma”. Desta vez, com o antigo Grupo Dramático Indaiá (GDI), criado em 1967, com direção de Hélio Bergamasco. Ao falar com o diretor do grupo, Tim conseguiu uma oportunidade. “Falei a ele da minha vontade de aprender teatro e ele me concedeu uma ‘ponta’.”
A “ponta” é uma pequena atuação de um personagem secundário. Para José Antonio – que ainda não era Tim – foi de um ‘banqueiro’, da peça ‘Barco Sem Pescador’. Uma cena, em um drama, que segundo o ator, durou três minutos, no Teatro Municipal de São Carlos. Três minutos de nervosismo por ser sua primeira apresentação, que lhe rendeu uma menção honrosa naquele ano.
A COMÉDIA
Tim conta que embora tivesse gostado da primeira vez, e até tenha atuado em muitos dramas, o que lhe interessava era o campo da comédia. Algo em que mirava desde a meninice quando assistia aos saudosos Ronald Golias e Zeloni, ícones da comédia brasileira. E foi num momento de comemoração que o artista teve a sua oportunidade.
“Na época, o Cineminha da Paulista estava fazendo aniversário. E o diretor do GDI, no qual eu continuei atuando, disse que o Cineminha estava pedindo a todos os grupos de teatro da cidade e região que apresentassem uma peça. Foi quando ele me pediu pra fazer o Italiano.”
O “Italiano” em questão era o personagem “Carmello”, um típico italiano pai de menina de uma família tradicional, com bigode falso, suspensório, talco na cabeça e um linguajar ‘afiado’. Tal atuação, de ‘Crise de Habitação’, de Ferreira Neto, fez todos naquele dia “caírem na gargalhada”, conta o ator.
“No ensaio, eu lembro que a gente não conseguiu fazer a peça inteira de tanta risada que o povo dava. Na apresentação, lembro-me que tinha esquecido umas falas e improvisei. Foi aí que o pessoal riu mais ainda. No final, todos subiram lá para me cumprimentar.”
Da rejeição ao reconhecimento, ali, naquele momento, foi onde finalmente José Antonio tinha se tornado Tim Caniatto. E levaria isso para o resto de toda a sua trajetória artística até a atualidade, incluindo comédias como ‘Se o Anacleto Soubesse’, ‘Rosa das Sete Saias’, uma versão de ‘A Escolinha do Professor Raimundo’, entre outras.
Por Samuel Chagas / Foto: Diário do Rio Claro