Muitas coisas em filosofia tem o efeito de uma aspirina quando comparadas ao avanço da ciência e tecnologia em áreas antes consideradas impensáveis. Não admira, portanto, que grupos mais conservadores, amantes de um tradicionalismo medieval, tentam angariar para seus grupos pessoas afetadas por esse novo mundo, de crescimento exponencial do conhecimento.
A principal característica de um crescimento que obedece a uma lei matemática exponencial é marcada no início por leves aumentos e a partir de um determinado ponto esse crescimento torna-se abruptamente intenso. É assim com a população de bactérias em uma infecção, o crescimento de populações humanas ao redor do mundo, o crescimentoda capacidade de processamento dos computadores e, principalmente, com a produção do conhecimento.
O que avançamos em matéria de conhecimento científico nos últimos 50 anos representa um volume milhares de vezes maior que o avanço de mais de 1000 anos anteriores. Hoje uma criança que sai do Ensino Fundamental I tem muito mais conhecimento e informação que o maior dos reis de eras passadas.
Em matéria de produção e disseminação de conhecimento estamos na parte de forte ascensão da curva exponencial. Uma subida vertiginosa, que promete ser ainda mais intensa a partir dos próximos capítulos, com o desenvolvimento, por exemplo, da Inteligência Artificial aliada à Computação Quântica.
Não mais baseado na linguagem binária, mas nos princípios da Física Quântica, um computador quântico, já em desenvolvimento, é capaz de fazer em poucos minutos cálculos que em um computador convencional demoraria mais de 10 mil anos!
Avanços da neurociência tornam possíveis os implantes que criam interface entre o cérebro humano e os computadores para o tratamento dos mais variados distúrbios. Veja por exemplo a empresa Neuralink, do bilionário americano Elon Musk. Neste ano de 2021, a Neuralink captou mais de 200 milhões de dólares de investimentos de gigantes como a Google e outras. Para explicar melhor, a companhia, fundada em 2016, tem como objetivo implantar chips sem fio no cérebro para ajudar na cura de doenças neurológicas, incluindo Alzheimer, demência e lesões na medula espinhal, além de criar uma simbiose entre o corpo humano e a inteligência artificial. A tecnologia, segundo Musk, pode permitir que paraplégicos voltem a andar. Essa é a promessa mais ambiciosa.
Em abril deste ano, a Neuralink mostrou um chimpanzé, com o chip N1 implantado no cérebro, jogando o famoso jogo Pong com a “mente”, sem usar as mãos. Sim, procure o vídeo na internet se você ainda não viu.
O que era impensável há poucos anos hoje é realidade no nosso dia a dia. Seu celular mesmo. Em menos de dez anos de avanços, eles já fazem algumas coisas em uma velocidade tão alta que nenhum cérebro humano é capaz de fazer.
O conhecimento não é ilusório, muito menos ideológico. O conhecimento científico avança continuamente, e hoje sabemos muito mais do que há cinco, 10 anos, 50, cem anos sobre o mundo natural e a biologia. O avanço tecnológico é um fato e está se acelerando de tal modo que, emalgumas áreas, se a maioria dos cientistas morresse de uma epidemia, o avanço não seria interrompido, porque muitos registros estão em bibliotecas reais e digitais, e dentro de uma geração a aceleração poderia ser retomada.
O animal humano é o único dentre os que conhecemos que tem essa capacidade de acumular conhecimento em uma escala cada vez mais acelerada. E os poucos que rejeitam a modernidade elegeram um inimigo invisível e lutam de dentro de suas cavernas, saudosos por um tempo em que a humanidade sabia muito pouco e atribuía seus problemas a uma ou mais divindades. Temos que aceitar os avanços, inevitáveis, irreversíveis, com seus benefícios e seus problemas também, suas implicações políticas. Há os que rejeitam, negam a ciência, com filosofias datadas, e líderes com discursos caricatos, porque se sentem rejeitados, ressentidos com seu precário mecanismo de defesa psicológica, num mundo que não é espelho para eles. Esses são os que mais precisarão de ajuda.