O Brasil com mais de 500 anos, detentor de 20% da biodiversidade do planeta ainda não conseguiu trazer para a mesa dos brasileiros seus alimentos nativos, pois quase em sua totalidade os alimentos que consumimos como cereais, hortaliças, frutas e até os condimentos são oriundos dos continentes africano, europeu e asiático.
O potencial de aproveitamento de nossa biodiversidade para fins de uma alimentação básica ou complementar é quase zero, mesmo porque, para que esse potencial seja atingido necessitamos da disponibilidade de matéria prima, produção em larga escala, cultivo, manejo e tecnologia de processamento, além é claro, de técnicos especializados em cada área deste processo.
Mas se temos essa capacidade produtiva para os alimentos exóticos, porque não teríamos para os nossos produtos nativos. Sem contar, nossos bancos de sementes e de germoplasmas, considerados como os melhores do planeta, além das instituições de pesquisas que há mais de 100 anos se dedicam ao estudo de nossas plantas.
Somos campeões mundiais na produção e exportação de cana de açúcar, soja, café, milho, laranja e inúmeros outros produtos, todos exóticos, mas quanto aos nativos, alguém, já leu ou ouviu falar que o Brasil é o maior produtor ou exportador de jaboticaba, difícil.
Nosso DNA alimentar veio através de padrões culturais muito bem enraizados, trazidos por nossos colonizadores e que até hoje dominam as políticas públicas em relação a expansão agrícola de áreas como as do cerrado, onde não se valoriza as riquezas vegetais nativas, transformando a paisagem em grandes monoculturas exóticas.
O ser humano, por si só, já possui uma alimentação monótona, mesmo quando sai em viagem para outros estados ou países, por praticidade, acaba se alimentando em restaurantes tradicionais ou redes de ‘fast foods’, para comer as mesmas coisas que comeria em sua cidade ou em sua própria casa.
Quando adentramos em nosso cerrado nos vislumbramos com a imensa quantidade de espécies frutíferas, que ano após ano, nutrem o solo, alimentam a fauna silvestre e sustentam famílias que sobrevivem da colheita destes frutos que são comercializados em feiras no próprio município da coleta, além de algumas cooperativas que as industrializam e as vendem regionalmente, mas sem ultrapassar outras fronteiras.
Há matéria prima em abundância, técnicas de cultivo, manuseio, industrialização e logística de escoamento da produção de frutas exóticas e porque não de frutas nativas em grande escala.
Como exemplo, citamos os milhões de pés de Pequi, Baru, Cagaita, Mangaba, Buriti, Murici e inúmeros outras espécies, que poderiam estar abastecendo as prateleiras de nossas docerias e supermercados com suas deliciosas polpas em forma de geleias, mas até o momento, quase impossíveis de se encontrar em nossa redondeza e até mesmo em outras regiões de nosso Estado de São Paulo, mas em compensação, se quisermos saborear uma geleia de cranberry ou blueberry, oriundas da Eurásia (Europa e Ásia), acharemos com certa facilidade nos hipermercados de nossa cidade.
Se aproveitássemos um pouco da experiência aplicada no processo de comercialização do Açaí em relação as outras espécies nativas, daríamos um grande passo na valorização de nossas riquezas naturais, desestimulando o extermínio de nossas florestas.