Caros cúmplices de minhas sandices, bom dia!
Se você também é daqueles que tem dificuldade de lidar com as coisas que se repetem, junte-se ao grupo, seja bem-vindo. Uma ocasião, ouvi alguém dizer que ciência é o estudo das coisas que se repetem. Sei não. Jamais, portanto, serei um homem de ciência, porque eu as abomino, as coisas que se repetem.
Mas a vida é feita delas. E a isso dá-se o pomposo nome de rotina. Entende agora, porque tenho terrível dificuldade de lidar com a vida e com as pessoas? Você também é assim? Ora, por uma questão de solidariedade ou mera simpatia para com esse reles escriba que se dedica a cada 15 dias, a preencher esse disputado espaço do jornal, com coisa que o valha e nem sempre consegue, admita a realidade, você é um dos nossos. Kkk.
Bem, pessoas como nós, veja que eu já lhe botei na embrulhada, fiel leitor, são tidas como antipáticas, exclusivistas, seletivas, rebeldes, apenas porque detestam as coisas que se repetem. A rotina das horas, das tarefas diárias, dos compromissos habituais, ufa! Tudo isso é um peso detestável que temos de carregar nos ombros. É algo que cansa a nossa mente distraída, restringe as nossas mais dignas e legítimas aspirações, a mais fascinante dentre elas, dar um pé na bunda da vida, do mundo, das pessoas, porque, em geral, tudo isso nos atrapalha, e muito.
Um dia escrevi que as ideias devem percorrer a mente, mas não permanecer, afinal, as aves, as únicas neste mundo que gozam de liberdade plena, ocupam o céu voando. Entendo, e você também, quero crer, amigo leitor, que a mesma rotina, entediante, para nós, gera segurança às pessoas metódicas. Qual de nós tem a razão? Ambos e ninguém. Ambos, porque cada ser humano é um universo em si mesmo. E ninguém, porque já passou da hora de esquecermos esse papo furado de quem tem razão sobre alguma coisa. Que cada ser vivente e pensante seja de fato livre para pensar e agir a seu modo. Sem essa de aderir à uniformidade, ao padrão que querem nos impor.
A diversidade enriquece a vida, e, portanto, a espécie humana. Essa uniformidade de pensamento, esse padrão de conduta, que nos é sugerido senão imposto, favorece apenas aos poderosos ocultos que desejam nos controlar.
Saia desse funil enquanto é tempo leitor, antes que seja tragado por ele. Aja e pense por você mesmo. Depois de ler estas linhas, questione-as, e livre-se delas. Esvazie a sua mente do lixo informativo, opinativo e cultural que, sem reservas, invade a sua mente todos os dias. Delete tudo ao final de cada dia. E na manhã seguinte, comece tudo de novo, do zero.
Ah, se não gostou deste texto, se não concorda comigo, pode me xingar, me deteste, reclame ao editor, é seu direito. Da mesma forma como expus uma opinião, você tem direito a ter a sua. Não se prenda a ideias pré-concebidas, nem a ideologias e convicções, quaisquer que sejam. O futuro bate à nossa parte todos os dias para nos desmentir.
Tem uma coisa, porém, cuja repetição não me aborrece. É ver o dia ganhar os primeiros contornos de vida que a claridade lhe proporciona, a cada manhã. Eu preciso disso. E fazer o meu café, devagar, bem devagar, sentindo o aroma agradável dessa bebida indispensável, enquanto rabisco algumas linhas, como estas. O que trará as horas seguintes? Coisas boas ou ruins? Não sei. E creia-me, essa dúvida me agrada muito.