Na manhã dessa quinta-feira (15), a Polícia Civil por meio de equipe da Central de Polícia Judiciária (CPJ) prendeu um indivíduo de 56 anos que mantinha pessoas em situação análoga à escravidão em um sítio no bairro Alta Cajarama, Distrito de Itapé, onde havia uma antiga clínica de reabilitação (Clínica da Paz) que mantinha diversas pessoas em situação degradante. Entre as vítimas estavam idosos e um jovem. “Foi um trabalho que começou com a Vigilância Sanitária e depois com outros órgãos da prefeitura que formularam um relatório, encaminharam ao Ministério Público que fez o encaminhamento para a Polícia Civil para checar as denúncias. No primeiro momento a Vigilância Sanitária, constatou que o lugar funcionava uma Comunidade Terapêutica que já não estava regularizada oficialmente por isso houve essa comunicação ao Ministério Público que nos encaminhou para fazer a apuração preliminar e constatamos toda essa situação que motivou o flagrante do pastor”, explicou em entrevista ao Diário do Rio Claro o Delegado Seccional Paulo Hadich.
Uma equipe composta por delegados e investigadores compareceu até o local e constatou que haviam sete pessoas em condição análoga à de escravo. “Essas pessoas foram resgatadas, trazidas até a Unidade Policial e foram encaminhadas através do CAPS e do CRAS, cada uma para um destino. Objetivo maior sempre que elas retornem para o seu familiar, quando possível. No local faziam um trabalho sem qualquer espécie de remuneração, apenas casa e comida, com horário bastante extenso, alguns relatos com trabalho de 12 horas”, observou o delegado.
Conforme destacou o seccional, alguns foram levados até ali pela família, na esperança de passar por um processo de tratamento e recuperação do vício em droga. “Mas não era o que funcionava ali, não era dada nenhuma medicação, qualquer atenção sanitária ou de saúde pública e por isso que a Polícia Civil através da sua equipe da CPJ fez a prisão em flagrante”, esclareceu.
As vítimas eram submetidas ao trabalho de reciclagem com separação e carregamento de materiais. “Além de reter o documento dessas pessoas, impedindo que fossem embora, há casos que até foi dito para a família que se a pessoa voltasse para casa, não a recebesse. As pessoas se sentiam inibidas de irem embora, por mais que não estivessem amarradas e presas, por isso que fala em redução à condição análoga à escravidão”, salientou Hadich.
O indivíduo que se apresentava como pastor e que era responsável pelo local foi autuado em flagrante delito. Contra ele consta uma antiga passagem por cárcere privado, porém não consta condenação.
EQUIPE DA CPJ
A equipe da CPJ foi recebida pelo indiciado que apresentou as dependências do sítio e informou que lá não mais funcionava a clínica. No mais, o indiciado narrou que alguns antigos residentes da Clínica ainda moravam no sítio e que suas famílias os teriam abandonado. A equipe iniciou uma vistoria pelo local apontado como o dormitório dos residentes, que era praticamente inabitável. Sem ventilação, camas amontoadas e algumas sem colchões, apenas um banheiro bastante mal cuidado. Em conversa informal com os residentes, foi constatado que alguns possuem deficiência mental e física.
MEDO
Ainda, tinham muito medo de contar o que realmente acontecia ali, sempre olhando para os lados e apontando com o olhar para o indiciado. Diante disso, o indiciado e cinco dos residentes foram encaminhados para o plantão policial. Isoladamente do indiciado, as vítimas começaram a falar o que realmente acontecia.
Entre as vítimas estavam um idoso de 81 anos, os demais com 65, 49, 48, 45, 40 anos, além de um jovem de 22 anos. O mais idoso e debilitado (anda com muita dificuldade) disse que por muitas vezes acabava dormindo sentado em uma cadeira. As vítimas ficaram sob responsabilidade do Caps e Cras que realizavam contato com os familiares.
Por Janaina Moro/Vivian Guilherme / Foto: Divulgação