Era começo de junho quando circulou um vídeo pelo Facebook, no qual apresentava-se uma voz acompanhada por um piano. A canção era um cover de “Someone You Loved”, do artista Lewis Capaldi. A combinação ‘embalou o coração’ de muita gente na rede social e entre a centena de comentários à publicação, é possível observar mensagens de carinho e elogio. Mas ao contrário do que o caro leitor pode estar pensando, não estamos falando de uma dupla, mas sim de um único músico. Trata-se do cantor e pianista Breno Almeida, de 26 anos, rio-clarense de berço e morador da Cidade Azul que tem uma história de vida inspiradora para se contar.
TRAJETÓRIA
Quase todo artista desenvolve o interesse peculiar pela atividade das artes ainda na juventude. Em muitos casos, isso vem desde a infância, através de incentivos e estímulos com técnicas de musicalização infantil – se a atividade for a música. Foi o caso de Breno Almeida. “Nos meus primeiros passos com a música, minha mãe conta que quando eu era criança, eu gostava de pegar qualquer coisa e ficar procurando ritmo em tudo”, conta o músico em entrevista ao Diário. Isso porque além de pianista, o jovem também é percussionista, algo que começou com um pandeiro numa espécie de aprendizado autodidata ainda na fase infantil.
O multi-instrumentista ainda revela que o interesse pelo canto e pelo piano também começou cedo, com um certo gosto peculiar por músicas italianas temas de novela. “Eu gostava muito de ouvir música italiana. Então, toda novela que eu ouvia uma música italiana, eu gostava de ficar imitando. Claro que eu não sabia italiano, mas eu adorava ficar imitando os tenores”, afirma.
Como dito anteriormente, às vezes o dom para a manifestação artística descobre-se cedo, ainda na infância. Para Breno, a história começou na igreja católica Paróquia São José Operário, localizada no bairro da Vila São Miguel, em Rio Claro. Ali foi onde o músico começou seus primeiros contatos musicais com coral, percussão, teclado e, posteriormente, piano. Além de todo esse engajamento com a comunidade religiosa, o jovem também afirma que, por ser portador de deficiência visual e de “um traço de autismo” – segundo o próprio Breno -, realizou ao longo dos anos alguns acompanhamentos com fonoaudiólogos e professores para aprender o braille – um sistema de escrita em papel-relevo onde os portadores de deficiência visual utilizam-se das mãos para ler.
Desde então, o músico conta que continua ajudando a comunidade que tanto lhe acolheu e ainda mantém sua expressão musical como forma de se encontrar com as pessoas até os dias de hoje. Nas redes sociais, é onde Breno expõe o seu trabalho. “As redes sociais ajudaram a quebrar muitas barreiras para todo artista. Antigamente, não tinha isso. Pra mim, foi uma facilidade que abriu várias portas e continua abrindo, para que eu não pare de fazer aquilo que eu mais gosto, que é a música.”
“UM REMÉDIO PRA ALMA”
Segundo o próprio relato, Breno Almeida já nasceu deficiente visual e com autismo. Desde muito cedo, realizou acompanhamento com fonoaudiólogos e professores especializados para dar suporte ao seu desenvolvimento. Algo, porém, chama muito a atenção quando o músico trata do assunto. A forma natural com que a música o ajudou nas relações sociais e a sua espiritualidade.
“A música, além de ser uma arte, foi algo que me ajudou a quebrar qualquer barreira com relação ao convívio social. Uma espécie de sentimento tanto pessoal quanto social, sabe. Então eu posso dizer que, assim, a música foi, praticamente, um ganho. Um remédio pra alma”, afirma. Mas muito além do que mera atividade artística que encanta as pessoas que o ouvem, o músico também conta sobre a sua relação com a atividade dentro da espiritualidade.
“Pra mim, a música foi um dom que Deus me deu. Um dom que me ajudou e ajuda a exercer a espiritualidade, seja na igreja ou fora dela. Que me ajuda nesse convívio que eu citei.” O artista, em entrevista, conta que ainda jovem fez uma promessa – uma espécie de ato religioso que consiste numa busca por um objetivo dentro da caminhada de fé -, a qual prometeu não parar de “cantar pra Deus”.
“A música me deu essa chance de aprender e de não parar de aprender. Eu aprendo muitas coisas de forma fácil, graças a Deus, através desse dom da música. Então eu me realizo cantando pra Deus. Depois, vem os desafios e as conquistas.” Dado o incentivo e a empreitada, Breno aponta, por fim, como isso acendeu o seu aprendizado para viver e se relacionar no mundo.
REFERÊNCIAS
Todo compositor, seja de um livro, um pensamento ou uma teoria, vale-se daquilo que já existe. São as tais referências. E na arte não é diferente. Há quem diga que na vida artística nada se copia, mas inspira-se para fazer de modo diferente. Fato é que para o músico rio-clarense que, desde a infância já educava o ouvido, as referências também têm presença e influência no seu repertório.
“A minha referência pra música sempre foram os clássicos. São músicas que, como eu posso dizer, assim como o Leonardo D’Vinci é pra pintura, acho que esses gênios (como Mozart e Beethoven) são pra música, né. Então eu sempre gostei de música clássica.” O músico também avalia a genialidade destes artistas para sua formação, fazendo uma avaliação específica sobre a figura prodígio do austríaco Mozart.
Breno, porém, não se limita a um único gênero. Apesar dos clássicos, o artista se entende eclético e menciona outras figuras artísticas como Michael Jackson, Andrea Bocelli, Stevie Wonder e Elvis Presley. Além do ‘bom e velho’ Rock ‘n’ Roll, o músico menciona uma predileção por músicas cristãs e carismáticas que precedem todas estas outras influências, que para Breno, adquirem qualidade a partir da mensagem.
O QUE FAZER?
O que seria da vida sem a Arte? Para o escritor Charles Bukowski, a questão está na diferença entre a vida e a Arte: “A diferença entre a vida e a arte é que a arte é mais suportável”. Tantas vidas humanas e em cada cultura, uma forma de se expressar, seja no teatro ou na literatura, escultura, pintura, dança e entre tantas outras manifestações, a aclamada música. Uma tradição de sons moderadamente ordenados que permeia-nos desde o início da humanidade, se aperfeiçoando e tendo os seus gênios – e ainda têm.
Ao fim da entrevista, o Diário pergunta a Breno se o músico poderia dar alguma dica para quem gostaria de começar na Música. O artista respondeu. “A mensagem e a dica que eu dou é que se a pessoa tem muita vontade de aprender, então não desista e corra atrás se esse é o seu sonho. Mas o artista, antes de ser artista, se descobre. E penso que o tempo me ajudou a descobrir quem eu sou.”
Por Samuel Chagas / Foto: Divulgação