O projeto para tornar o câmpus da Unesp em Rio Claro mais sustentável nesta década foi o vencedor da segunda edição do desafio internacional de inovação Challenge Campus 2030, criado para valorizar projetos alinhados à Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). O resultado foi anunciado no início da tarde de sexta-feira (11) por meio de uma videoconferência que reuniu os seis times finalistas – além do Brasil, representado pela Unesp, participaram equipes universitárias da Bélgica, Congo, Líbano, Marrocos e Turquia.
O Projeto Araucária, desenvolvido pelo grupo unespiano, dialoga com cinco dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e traça um plano de melhorias ambientais para ser executado no câmpus de Rio Claro ao longo desta década, até 2030. Foram indicadas melhorias na mobilidade dentro do câmpus, com a ampliação e a arborização da ciclovia já existente, atividades de extensão universitária para recuperação de áreas degradadas com técnicas de agrofloresta e a recuperação da vegetação ciliar do Córrego Bandeirantes, curso d’água situado na Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade (Feena), que é vizinha ao câmpus universitário.
Integram o time Araucária o professor Milton Cezar Ribeiro, responsável pelo Laboratório de Ecologia Espacial e Conservação (Leec) do câmpus de Rio Claro, a doutoranda Gabriela Rosa, o pós-doutorando João Carlos Pena, a egressa Leticia Bulascoschi (hoje doutoranda na Esalq-USP) e a mexicana Mónica Lara Rosas, parceira de trabalho que Gabriela conheceu ao fazer estágio de pesquisa no exterior com bolsa Fapesp. Com a vitória no Challenge Campus 2030, o projeto desenvolvido na Unesp terá o impulso de uma incubadora fora do Brasil.
Estamos todos muito motivados para trabalhar de forma intensa nesses próximos anos para que em 2030 tenhamos construído um câmpus muito mais sustentável. Buscaremos definir uma estratégia bem inclusiva para que todos os segmentos da Unesp, a administração municipal, a sociedade civil e setores privados participem de todo o processo. Buscaremos estabelecer uma estratégia empreendedora com esses diversos setores”, afirmou o professor Milton Cezar Ribeiro, do Departamento de Biodiversidade do Instituto de Biociências (câmpus de Rio Claro).
Horas depois da premiação, o pesquisador João Carlos Pena, que trabalha com ecologia urbana e faz pós-doutorado no laboratório do professor Milton Ribeiro em Rio Claro, concedeu a entrevista abaixo, por email, sobre as perspectivas do projeto e a relação do câmpus universitário com a cidade.
A que vocês atribuem a vitória neste desafio internacional?
João Carlos Pena: O projeto foi uma conquista de muita gente que nos ajudou respondendo à pesquisa (entenda mais sobre o projeto no vídeo abaixo), com imagens, fazendo voo de drone e toda uma série de apoios que tivemos e nos surpreendeu muito. Acho que isso ajudou muito na nossa vitória. Somos um time diverso, com experiências diferentes, histórias distintas.
Como foi o processo de concepção do projeto? A ideia de desdobrar ações desenvolvidas anteriormente, como ampliar a ciclovia e a área de agrofloresta, faz parte do traço sustentável do projeto?
João Carlos Pena: Sim, as ciclovias, a agrofloresta, tudo faz parte do traço sustentável e é considerado dentre os ODS. Ciclovias eficientes, conectadas, bem distribuidas pelo câmpus e bem arborizadas estimulam as pessoas a utilizarem a bicicleta como meio de transporte. Não só isso: caminhar ficará muito mais confortável com uma arborização adequada. E, com mais árvores, o câmpus ainda vai fornecer uma série de serviços ecossistêmicos para Rio Claro, como a absorção de poluentes, o que é fundamental em uma cidade que depende da extração de argila como atividade econômica. A expansão da agrofloresta vai estimular a adoção de práticas de agroecologia e a disponibilidade de produtos orgânicos produzidos no interior do câmpus. Como a Gabi (a doutoranda Gabriela Rosa) sempre foi de bicicleta para a Unesp e fez parte do Gira-Sol (grupo de extensão universitária coordenador pelo professor Milton Ribeiro), ela sentiu esse incômodo e essa necessidade de fazer alguma diferença. Quando ela veio a mim propondo submeter o projeto com essas propostas de intervenção, concordei na hora. Tenho a bicicleta como um meio preferencial de transporte e sempre achei que a Unesp precisava melhorar a rede de ciclovias. Além disso, como ecólogo urbano que tem desenvolvido trabalhos sobre arborização urbana, eu acredito que esse é um elemento das cidades que precisa ser tratado como questão de saúde pública. Então, a concepção do projeto veio de um grupo de pessoas que sentiu necessidade de fazer a diferença, de aplicar o conhecimento técnico de forma a trazer benefícios não só para a Universidade, mas para a cidade como um todo.
De onde surgiu a ideia para trabalhar com a melhoria das condições ambientais também do entorno do câmpus? O córrego, por exemplo, passa em uma área vizinha. Consideram importante a universidade ir além dos muros?
João Carlos Pena: Como a Feena é vizinha ao câmpus, pensamos que seria uma excelente oportunidade para, além de restaurar a mata ciliar do córrego, melhorar a conectividade da paisagem, permitindo que animais possam se deslocar entre o parque e o câmpus, que possui vários fragmentos de vegetação. Com certeza, é fundamental que a universidade vá além dos seus muros. Não tem sentido produzir conhecimento se esse conhecimento não é transformado em ação.
Este projeto de tornar o câmpus de Rio Claro mais sustentável até 2030 é exequível? Vocês pensam em fazer gestões para viabilizá-lo?
João Carlos Pena: Já temos a confirmação dos recursos para construção das ciclovias e a doação de 4.000 mudas. Nossa ideia é trazer a comunidade e a sociedade para nos ajudar no plantio das árvores. Laboratórios da Unesp e da Esalq irão nos ajudar com a restauração da mata ciliar do córrego. O Gira-Sol já tem uma longa experiência em agroecologia. A ideia é seguir integrado com a direção do câmpus e todos os outros atores. Estamos animados e acreditamos que é possível, sim, implementar o projeto.
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