Bilhetes de um tempo
[XXV]
Antes de ingressar no ginásio, tinha-se que cursar o preparatório. No caso, era o Líder, do professor Arlindo Dias, em que as professoras Sebastiana e Polastri desempenhavam as funções do magistério, energicamente.
Não sei por qual razão, acabei suspenso das aulas. Acredito que eu tenha sido vítima delas. Em todo caso, cada qual teria a sua versão e eu poderia ter incorrido em falta grave para receber aquela pena.
Todo dia eu me levantava cedo, tomava o café da manhã e ia em direção ao curso preparatório, que ficava ao lado do Ribeiro, na avenida 15 entre as ruas 6 e 7. Desviava-me desse endereço e seguia para o jardim da Boa Morte e ali ficava até dar o horário. Agia assim por medo de tomar surra de minha mãe. Depois de três dias voltei a frequentar as aulas. Tinha uma certeza comigo. Aquelas professoras não me foram simpáticas. Aliás, nunca me foram simpáticas..
Mas, uma coisa boa aconteceu naquela época.
Não sei como, a minha mãe me deixou ir com os alunos do preparatório, capitaneados pelo Professor Arlindo Dias, e viajamos para São Paulo, hospedando-nos no Estádio do Pacaembu.
E, ali, concentrava-se o time do Botafogo. Eu e alguns meninos pudemos falar com o Garrincha e o Zagalo, frente a frente, já consagrados pelo título mundial de 58, na Suécia. O gênio da camisa 7 nos tratou com muito carinho. No dia seguinte, o Botafogo enfrentou não sei qual time. As lembranças do encontro foram as que ficaram; as do jogo, delas não me lembro mesmo.
Aprovado no exame de admissão, passei a frequentar o Joaquim Ribeiro, grande escola da cidade e que concorria de igual pra igual com o Ginásio Koelle. Lá, na escola pública, grande parte dessa moçada estudava. E todos se conheciam.
Dos professores destaco, na área de Português, a professora Flora (prima de minha amiga Ester), o professor Luiz (pai do meu amigo Jaime Leitão, conhecido poeta aqui, em Rio Claro, também jornalista e professor, e seu irmão Pedro, advogado), a Vevé (sempre sorridente), o Schimdt, o Moura e, também, o professor Iedo, figura histórica, sempre de chapéu e guarda-chuva. As professores Dalva e Terezinha Duckur, de Geografia. Os professores Barros (que nos fez ler a Constituição Federal) e Maria do Carmo, de História. O professor Chagas, de Ciências Naturais. Os professores Arlindo, Antonio Magalhães (o Tonhão) e o Vitorino Machado (pai do Vitu).
Outros foram nossos educadores. Insistirei para levantá-los da memória, que já se vai apagando, e nominá-los com grande prazer.
Quero deixar registrado, aqui, a imensa admiração por todos os mestres que nos educaram nessa fase de muita luz e que não teria dinheiro para pagá-los, suficientemente.
[XXVI]
No primeiro ano do Ginásio, formamos um time para disputar o campeonato interno anual.
No gol, surgia o Scarpa (grande apanhador de bolas, muito rápido); a ala direita era por mim ocupada, na ala esquerda, via-se o Ueara (japonesinho de muita vitalidade e bom de bola); depois vinha o Paulinho (cracaço), e, por fim, aparecia o Nivaldo, que era o mais velho de nós e jogava demais e com muito vigor. Esse time venceu o da 4ª série na final e se sagrou campeão. Parecia coisa de cinema. Mas, aconteceu. Afinal, era impossível um time da primeira série vencer os das outras séries, por ser integrado de meninos mais novos e não terem físico para o enfrentamento. Deu zebra. O nosso time tinha físico, habilidade e, o principal, gana de vencer. Que feito inesquecível. Permanece como uma pequena glória! Quem tem memória vai se lembrar.
O Ribeiro foi inesquecível. Se oportunidade tiver, contarei histórias ocorridas em seus limites.