A cena era um círculo de 14 indivíduos sentados em volta de outras quatro pessoas, no caso, as vítimas que estavam em cárcere privado desde domingo (26) e seriam julgadas pelos membros da facção criminosa.
O motivo seria uma traição. As vítimas eram de Rio Claro e foram levadas por membros da organização para Limeira.
A informação que levou ao desfecho chegou como denúncia anônima para a Polícia Militar de Rio Claro. “Recebemos denúncia de que quatro pessoas de Rio Claro estariam como vítimas de uma facção criminosa em Limeira.
Fizemos contato com a Força Tática da cidade e passamos todos os detalhes do que estaria acontecendo e local. Policiais de Limeira foram averiguar e constataram a situação”, relatou o 3º Sargento da Polícia Militar de Rio Claro, Lucian Medeiros, que participou da ocorrência em Rio Claro.
Quando policiais de Limeira chegaram ao local indicado na cidade, um bar no bairro Jardim Planalto, as vítimas estavam no meio de um círculo formado pelos integrantes da organização criminosa – esses sentados. “No momento da chegada dos policiais, a reação que os acusados tiveram foi se desfazer de anotações e celulares”, comentou o sargento.
Com as prisões, ficou confirmado que os envolvidos fazem parte de uma organização criminosa. No tota,l 14 indivíduos foram presos, todos com diversas passagens pelos meios policiais, entre eles dois de RC.
A ocorrência do “tribunal do crime” foi registrada em Limeira. A investigação segue a cargo do delegado Willian Marchi, da Polícia Civil de Limeira.
Em Rio Claro, os policiais da Força Tática foram até a casa de um dos suspeitos envolvidos na ocorrência. No local, encontraram aproximadamente um quilo de maconha, uma balança de precisão e embalagens para armazenar a droga.
A operação foi realizada em conjunto pela Força Tática de Rio Claro, Força Tática de Limeira, equipes da Rocam e Canil Rio Claro, juntamente com o cão Thor.
A ocorrência foi registrada como facção criminosa, sequestro, cárcere privado e tráfico de drogas. Um dos presos chegou a passar identidade falsa e, nessa terça-feira (28), foi constatado que o mesmo já era procurado pela justiça. Saiu durante o benefício do Dia das Mães e não retornou para cadeia.
MOTIVO
Segundo informações da Polícia Militar, o “tribunal do crime” foi encomendado à facção por um homem que teria sido traído. As vítimas, dois homens e duas mulheres, seriam julgadas por uma traição conjugal. A polícia chegou a tempo de impedir torturas ou até mesmo mortes.
TRIBUNAL DO CRIME
“As facções criminosas seguem ‘regulamentos’ entre eles. Tribunal do crime é uma das decisões que tomam quando alguém descumpre regras impostas por eles. É comum entre as organizações criminosas. Em Rio Claro, já tivemos prisões em anos anteriores de pessoas envolvidas com este tipo de ação”, esclareceu o delegado da Delegacia Seccional de Rio Claro, Paulo Nabuco, que acrescentou a importância de denúncias para combater o crime. “A sociedade não pode aceitar que facções decidam sobre a vida de outras”, disse.
“Esse ‘poder paralelo’ é regido por regras e métodos próprios, implacáveis e impiedosos para aqueles que as violam. Penso que organizações criminosas nascem, crescem e se desenvolvem através das deficiências do poder público. Sabemos que, em muitos casos, tais estruturas ‘tentam’ suprir as deficiências estatais, e acabam se infiltrando no seio da sociedade, ora por respeito, outrora pelo medo”, avalia o presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB, Adriano Marchi.
Marchi diz que as consequências vão além. “A raiz do problema é totalmente decorrente de uma lacuna socioeconômica que permite o fortalecimento de uma rede fomentada pela carência de elementos básicos e necessários para formação humana, através da ausência ou ineficiência de infraestrutura urbana, da degradação familiar, da falta de oportunidade e da má formação de um indivíduo, entre outras. O Estado deve desempenhar o seu papel legítimo e, a sociedade, o espaço que lhe pertence”, acrescenta.