De problema em problema, de lamento em lamento, a gente se acostuma a vestir a roupa de vítima. Por isso, tanta gente prefere o conforto de um velho problema à felicidade libertadora da sua solução. Tal como uma roupa de lycra, a de vítima sempre se ajusta a nós. Difícil mesmo é libertar-se dela depois de um tempo ou como Fernando Pessoa, em versos de seu heterônimo Álvaro de Campos: “Quando quis tirar a máscara/Estava pegada à cara”.
Quem se encoraja e tem recursos para passar por um longo período de análise tem essa sensação de que sua alma é feita de muitas camadas, que há muitas máscaras criadas para se auto proteger, de traumas, de grilos e inseguranças.
Na prática, do dia a dia, fazer o papel de vítima é sempre mais reconfortante. Sempre vai ter alguém para ouvi-lo, para sentir pena de você e, com isso, satisfazer sua carência de atenção. Para dar “colinho”. E isso parece ser viciante. “Já notou que o esporte preferido de muita gente por aí é viver se queixando? Experimente se dispor a ajudá-la, com boas soluções e propostas de reinvenção. Sempre vão lhe dar uma desculpa para não sair daquele estado. Muitos querem que você fale exatamente o que querem ouvir”, declarava o psicólogo e espiritualista Luiz Gasparetto.
Essa pandemia, que desmascarou muita gente, também nos fez vítimas em potencial e nos uniu e nossa fragilidade humana. E muitas vítimas reais de fato sofreram e estão sofrendo, por culpa da idiotice de alguns que teimam em questionar e em não seguir os protocolos de prevenção.
Escolher estar feliz, mesmo com tantos problemas para se resolver, mesmo em meio à pandemia, é expor-se, muitas vezes, à negatividade do outro e, com isso, sentir-se um pouco mais só. Essa sensação de solidão também está no cerne da palavra sucesso, que vem de secção. Que é bem-sucedido, e isso não tem a ver necessariamente com dinheiro ou fama, está sempre um pouco mais sozinho que os outros.
E tem também toda história da culpa que nos paralisa. A culpa que temos medo de sentir ao assumirmos a coragem de mudar nossa própria vida. Algo muito comum no nosso comportamento de vítima é a percepção daquilo que julgamos merecer. Felicidade não é um bem que depende de merecimento. Muitas vezes ela simplesmente acontece!
Você precisa se bancar, em muitas situações, você deve ficar do seu lado para o que der e vier, sempre. Se surgir uma situação ruim, faça o seu melhor. O que separa uma vítima de um vencedor não é algo que está fora, que depende de circunstâncias, mas, inicialmente, o que está aí dentro, que dorme e acorda com você. Essa luz interior que nunca se apaga.
Vida é aquilo que acontece enquanto a gente está sequestrado pelas redes sociais, com o pavor de nos sentirmos irrelevantes.