Um drama que já se estende há década, a discussão entre o uso de herbicidas para conter o mato que se apoderou de nossas calçadas ou passeios públicos. De um lado as Prefeituras Municipais que não conseguem eliminar o problema sem o uso de herbicidas e do outro lado a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que proíbe o uso de herbicidas em áreas urbanas.
Dificilmente há em nosso município um quarteirão que esteja com o seu passeio público totalmente isento de mato, não por desleixo e pouco caso da Prefeitura, mas por causa da ANVISA.
Em 2020 tivemos um festival de liberações de usos de agrotóxicos aprovados pelos seguintes órgãos: Instituto brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que verifica se o produto é maléfico ao meio ambiente, o Ministério da Agricultura que analisa se o produto realmente age sobre as pragas e a Anvisa que analisa se o produto utilizado pode causar algum dano ao nosso organismo.
Foram autorizados, centenas de agrotóxicos que são utilizados diretamente em plantações onde cultivam o nosso alimento do dia a dia, e não autorizam um herbicida que seria aplicado sobre nossos passeios públicos.
Na época a Anvisa tinha como argumento que ao aplicar os agrotóxicos necessitaria de uma carência de no mínimo de 24 horas, sem que houvesse a circulação de pessoas na área de aplicação, sendo que numa plantação não teria problema, mas em áreas urbanas não teria como barrar a circulação de pessoas por um período mínimo de 24 horas e para agravar com a aplicação do herbicida, às vezes, formavam-se poças no calçamento e era um prato cheio para crianças que gostam de brincar com água.
Em minha opinião não há circulação de pessoas nas plantações, mas quem garante que determinados agrotóxicos não penetrem nos alimentos que consumimos, o dano seria um milhão de vezes mais prejudicial do que a simples circulação de pessoas e a formação de poças nos passeios públicos com a aplicação de herbicidas me parece um pouco exagerado, pois a quantidade aplicada, o solo seco e a evaporação não contribuem para a formação de poças imaginárias.
Outra dificuldade enfrentada pelas prefeituras municipais, além da proibição do uso de herbicidas, é que a limpeza manual é muito onerosa, porque torna-se um serviço demorado e artesanal em detrimento do tipo do calçamento empregado no Brasil e herdado pelos portugueses, a ornamental e problemática calçadinha portuguesa.
Tudo começou por volta de 1.498 na rua Nova dos Mercadores em Lisboa (Portugal) onde D. Manoel I, rei de Portugal, mandou pavimentar a rua com pedras de granito trazidas da cidade do Porto.
Em seu aniversário, o Rei recebeu de Afonso de Albuquerque, fundador do Império Português no Oriente, um rinoceronte branco de presente, primeiro de sua espécie visto no continente europeu. Presente de tal magnitude era sempre apreciado pelos moradores de Lisboa nas festividades de aniversário do Rei, em desfiles pela cidade, mas por ser um animal de peso avantajado, ao desfilar pelas ruas barrentas, acabava sujando de lama toda a comitiva e os curiosos que se aproximavam do animal.
Motivo pelo qual o Rei pediu para pavimentar as ruas com as tais pedras que expandiram-se depois para outras localidades e tomando outros formatos, acabaram transformando-se nas famosas calçadinhas portuguesas.
Se vocês já tentaram limpar o mato que nasce entre as pedras da calçadinha portuguesa, irão entender porque se torna dispendioso o serviço para um órgão público tendo que solucionar o problema sem o uso de herbicidas por toda a área urbana.
Há várias formas de amenizar o problema, sendo uma delas a limpeza executada pelo proprietário do imóvel, o que torna-se quase que uma obrigação, manter a frente da casa limpa é sinal de harmonia e bem estar. Se na frente da residência onde circulam pessoas há mato e sujeira, imagina dentro da casa como seria, ainda mais longe dos olhares dos vizinhos.
Pesquisas indicam que uma cidade com mato alto, as pessoas sujam mais. Se a Prefeitura mantém a cidade limpa, o povo contribui com a limpeza, mas se não há a limpeza por parte do órgão público, o povo não se preocupa em manter limpo e acaba sujando mais.
Há rumores que em breve a ANVISA irá se pronunciar sobre medidas favoráveis a utilização de herbicidas em áreas urbanas, criando normas e procedimentos para a sua aplicação, pois da forma que está não teremos mais condições de circular por nossos passeios públicos decorados com as belas calçadinhas portuguesas.