Retomar ou não as aulas presenciais na rede pública em Rio Claro? Por enquanto, no município, o retorno presencial continua sem previsão, conforme o decreto publicado no Diário Oficial do dia 5 de fevereiro. O prefeito Gustavo Perissinoto determinou que as aulas presenciais nas escolas públicas estaduais e municipais de Rio Claro estão suspensas por tempo indeterminado.
Ainda, segundo o documento, devido à suspensão, cumpre à Comissão Intersetorial de Acompanhamento do Retorno às Aulas (CIAR), criada através do Decreto Municipal nº 11.943, de 22 de setembro de 2020, dar prosseguimento ao plano de retomada das aulas presenciais do ano letivo de 2021, para a rede pública municipal de ensino de Rio Claro, a partir das diretrizes emanadas por autoridades sanitárias. O documento se estende também para as escolas estaduais que teriam o retorno das aulas presenciais no último dia 8, porém em Rio Claro continuam suspensas.
“Estou preocupada com o aprendizado, porque já perderam um ano e daqui a pouco acaba perdendo este também. Porém, está certo em não voltar porque é um risco grande das crianças se contaminarem. Se voltasse iria mandar, mas com receio, mesmo com uso de máscara e álcool em gel. Não acho que é o momento em voltar não”, comentou a Técnica em Segurança Monalisa Tenório dos Santos, que tem os filhos Gabriely Rodrigues dos Santos no 8º ano e Luis Gustavo Rodrigues dos Santos, no 6º ano.
Para o professor David Wilian Simão, a determinação ao não retorno às aulas presenciais na rede pública é a melhor opção mediante ao cenário atual. “Sabemos que a rede pública não possui estrutura mínima para receber todos os alunos e garantir a saúde de todos envolvidos na rede. A falta de itens essenciais de higiene e demais insumos de uso coletivo é evidente nos prédios escolares. Importante salientar que o quadro de funcionários da rede pública é bastante precário, o que compromete o bom funcionamento das instituições de ensino. Aulas no modelo híbrido é uma realidade nas escolas públicas e privadas, entretanto, como garantir o ensino e aprendizagem dos alunos quando existe uma desigualdade social enorme na sociedade? Crianças e jovens estão reféns da sua própria sorte”, avalia.
De acordo com o decreto, as aulas presenciais retornarão ao modo presencial tão logo as escolas da Rede Municipal e Estadual de Rio Claro estejam em condições físicas, materiais e sanitárias para uma retomada segura das atividades e desde que a situação dos leitos nos hospitais públicos esteja menos caótica do que se encontra no presente momento.
Quem também concorda com a decisão é a professora Ana Maria Cabral de Oliveira. “É uma duabilidade difícil de resolver. Com medos de erros ou acertos. Ao mesmo tempo que os pais estão ansiosos com o retorno presencial de seus filhos nas escolas, pois estão preocupados se a aprendizagem será efetiva, sem mesmo saberem se futuramente, este hiato na educação trará consequências ou não, os pais também sentem-se receosos na possível volta às aulas. Será que seus filhos estarão protegidos deste vírus que assolou o mundo? Se o governo, seja nas esferas municipais, estaduais ou federais, garantir de fato todos os protocolos de segurança, garantindo a saúde de todos, não haveria receio nenhum. Mas não podemos pensar somente na vontade dos pais, temos que pensar nas escolas também. Vejamos uma possível situação: caso as aulas presenciais retornem, com todos os protocolos sendo rigorosamente seguidos, e por ventura alguma criança contraia o vírus, não importa onde, em qual local e nem mesmo quem transmitiu. Quem será responsabilizado? Mais uma vez a escola carregará para si problemas assistenciais que não cabe à ela?”, avalia e questiona a educadora.
Apesar da suspensão do retorno às aulas presenciais para as redes públicas estaduais e municipais de Rio Claro, conforme o decreto, será dado prosseguimento ao trabalho pedagógico e de formação de professores para que as crianças não fiquem sem o acompanhamento necessário enquanto durar a situação pandêmica no município.
A entrega aos alunos de atividades no formato de aulas remotas retorna no dia 22 de fevereiro para toda a Rede de Ensino Municipal e equipes gestoras e de professores, que estão passando por preparação para este trabalho, informa o decreto. “Ficou claro que o município atendeu o interesse da elite rio-clarense em detrimento aos estudantes da rede municipal”, declara um professor eventual consultado e que tem filhos também matriculados na rede pública.
O educador avalia ainda que faltam iniciativas para que a rede pública possa oferecer as aulas híbridas. “Estamos há quase um ano de marasmo, tempo suficiente para se planejar a retomada. Precisa ter vontade política. É preciso, principalmente, os atores que politizam a questão de que os menos favorecidos sejam de fato colocados como o ator principal do processo e não escondidos debaixo do tapete da burocracia, enquanto uma parte do funcionalismo finge que se preocupa com o descompasso irreparável que essa pandemia ocasionará aos mais pobres e que impactará a qualidade de vida dos mais ricos. As mudanças advindas com a revolução tecnológica impactaram vários setores. A pandemia acelerou a desconstrução do modelo de ensino arcaico e deficiente brasileiro”, observa.
Câmara debate retorno das aulas presenciais com secretária da Educação
Realidade na rede particular, mesmo que de forma híbrida, o retorno das aulas presenciais na rede municipal de ensino foi abordado no Plenário da Câmara Municipal na tarde dessa sexta-feira (12). O trabalho que contou com a presença da secretária municipal de Educação, Valéria Aparecida Vieira, foi coordenado pelo presidente do Legislativo, José Pereira dos Santos.
Adriano La Torre (Progressistas) e Julinho Lopes (Progressistas) que também integram a Mesa Diretora encaminharam questionamentos para sanar dúvidas juntamente com os vereadores: Rafael Andreeta (PTB), Luciano Bonsucesso (PL), Moisés Marques (Progressistas), Rogério Guedes (PSL), Serginho Carnevale (DEM), Val Demarchi (DEM), Sivaldo Faísca (DEM), Geraldo Voluntário (MDB), Hernani Leonhardt (MDB) e Irander Augusto (Republicanos). Os demais vereadores foram representados por seus assessores.
Cientes dos problemas causados pela Covid-19, os vereadores indagaram a titular da Educação sobre o cronograma de ações que a Prefeitura de Rio Claro está implantando para que os alunos da rede pública, assim como já ocorreu com a rede particular de ensino, possam retornar às salas de aulas gradativamente e com segurança.
Segundo a secretária Valéria Vieira, o município segue protocolo para cumprir uma série de exigências com vistas às adequações necessárias dos espaços físicos das escolas. Ela acredita que a partir do segundo semestre de 2021, os estabelecimentos de ensino já estarão prontos para serem inseridos neste processo que visa o retorno das aulas presenciais.
Enquanto o calendário das aulas presenciais segue sem definição, por enquanto, a secretária de Educação confirmou o retorno das aulas remotas a partir do próximo dia 22. Para tanto, a Prefeitura vai entregar materiais impressos e os alunos terão acesso a vídeos educativos através da parceria firmada com a TV Claret e a TV Educativa. Mesmo com essa parceria, o material educativo também vai ser disponibilizado na internet.
Por Janaina Moro/Vivian Guilherme / Foto: Divulgação