Ontem completaram-se dois anos do rompimento da barragem B1 da mina do córrego do Feijão, onde 270 pessoas perderam suas vidas e 11 corpos que ainda não foram localizados. Cerca de 11,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos vazaram após o rompimento da estrutura, gerando destruição e danos a comunidades e ao meio ambiente de Brumadinho em Minas Gerais e de outras cidades da calha do rio Paraopeba.
Enquanto isso, assistimos ao forte marketing da empresa Vale, maior produtora mundial de minério de ferro, pelotas e níquel, sendo a maior produtora de manganês do Brasil, além de uma rede de logística que integra minas, ferrovias, navios, portos e outros setores como a siderurgia e geração de energia, não só no Brasil como em diversos países e que se fôssemos descrever todo o seu potencial produtivo, teríamos que dividir nossa matéria em dezenas de capítulos.
O atual discurso da Vale é que além dos inúmeros projetos de reparação ambiental, também estão trabalhando pelo resgate da dignidade econômica, social e emocional das pessoas que foram atingidas direta e indiretamente pelo desastre, tema em conflito até hoje, pois boa parte dos atingidos, ainda não foram contemplados com a ajuda da Vale.
Como gestor ambiental e trabalhando diretamente em projetos ambientais, principalmente na área de reposição florestal, creio não existir meios de se valorar uma quantia do montante causado pelo rompimento das barragens (uma rompida e duas atingidas pelo rompimento), pois os estragos são imensuráveis e com uma remediação que se estenderá por décadas.
Especialistas dizem que florestas que foram degradadas, mesmo depois de 60 anos de crescimento só armazenam 41% do carbono em comparação com uma floresta sem interferência humana e 56% de sua diversidade arbórea. Somado a esses anos de recomposição florestal, adicionamos ao solo da futura floresta, óxido de ferro, amônia, muita sílica, silte e argila.
Continuando, teríamos que acrescentar primeiramente o projeto de descontaminação do solo, onde a maneira mais produtiva seria a remoção da camada de lodo contaminado sobre o que restou do solo original, processo demorado e muito oneroso e incalculável.
Além de todos os impactos negativos da tragédia, os poucos moradores que ainda restam na área atingida pela catástrofe e entorno, sofrem com a falta de água potável para seu consumo. Recente pesquisa concluiu que 45% dos moradores recebem água potável pela rede de abastecimento de forma irregular por causa de inúmeras interrupções no fornecimento diário, outros 15% coletam água em nascentes, onde há uma grande probabilidade de possuírem algum contaminante e apenas 6% recebem água potável de caminhões pipas.
Para não esquecer da expressão popular “desgraça pouca é bobagem”, por intermédio da Covid 19 todas as obras de reparos aos danos causados pelo rompimento das barragens constantemente sofrem paralisações, inclusive as obras emergenciais de novas estações de captação de água para abastecimento público.
Essas paralizações foram motivadas pelo aumento expressivo de pessoas contaminadas pela Covid 19, pois centenas de operários de todas as regiões do Brasil trabalham nessas obras, onde formou-se um enorme canteiro de obras e o canal direto para o vírus se propagar.
A título de adquirir conhecimento tive a curiosidade de navegar no site da empresa Vale e em detrimento de tudo o que foi relatado nestas poucas linhas deixo para reflexão em relação a toda essa tragédia sem fim os valores adotados como filosofia e ética empresarial da Vale: A vida em primeiro lugar; Cuidar do nosso planeta; Crescer e evoluir juntos; Valorizar quem faz nossa empresa; Agir de forma correta e fazer acontecer.