“Como pai, não tenho nem o que falar.
Ele sempre foi exemplar, um pai de dar puxão de orelha nas horas que precisava, de dar carinho na hora que necessitava, um pai que, quando preciso, conversava, dava apoio. E como esposo, foi excelente”. Tais palavras foram proferidas à reportagem do Diário do Rio Claro por Mariana Montezelli Ricci, filha do saudoso e icônico repórter policial Jugurta Ricci, que nos deixou em fevereiro deste ano.
Mariana esteve na sede do Centenário acompanhada de sua mãe, Sueli Aparecida Montezelli Ricci, esposa do repórter por 34 anos. Apesar da dor ainda presente por conta da partida de Jugurta, ambas falaram à reportagem.
O INÍCIO
De acordo com Mariana, seu pai, em um primeiro moento, não começou como repórter policial. Ela relembrou que tudo teve início em 1972. À época, Ricci deu os primeiros passos na sua carreira narrando um jogo de futebol ao lado de Sérgio Carnevale, também o responsável por fazer com que Jugurta iniciasse na editoria na qual faria história no jornalismo rio-clarense: a policial.
PASSAGEM PELO DIÁRIO
Mariana contou ao Centenário que a passagem de seu pai pelo Número 1 coincidiu com um período em que ela também atuou pelo jornal. “Entrei junto com ele e, na ocasião, trabalhei no balcão de anúncios e ele na redação fazendo as reportagens policiais”, relembrou.
Mariana fez menção a um episódio que o diretor de redação, quando da época, solicitou a Jugurta que ele digitasse suas notícias no computador. No entanto, conforme ela relatou, seu pai nunca se atentou a certas coisas relacionadas à informátíca e tecnologia de um modo geral. “Meu pai era antiquado neste sentido. Era avesso à internet, redes sociais”, rememorou.
Ela se recordou que Ricci tinha dificuldades para redigir suas notícias por conta da falta de familiaridade com o teclado. Mariana relembrou com ternura que o ajudou, sendo importante neste período de adaptação do pai.
TRABALHOS PARALELOS
Mariana e Sueli trouxeram à tona outros trabalhos que foram desempenhados por Jugurta paralelos ao de repórter.
Segundo elas, Ricci atuou bastante tempo como garçom no bar e restaurante A Toca, que marcou época em Rio Claro. Trabalhou, também, como maître em alguns restaurantes, além de ter exercido funções na afamada Stonage.
COBERTURAS MEMORÁVEIS
Mãe e filha rememoraram alguns fatos históricos que tiveram a cobertura jornalística realizada por Ricci. Dentre as principais, o desaparecimento em Rio Claro de quatro crianças que foram mortas pelo engraxador Laerte Orpinelli, caso de extrema repercussão nacional e até internacional. Conforme Mariana e Sueli, Jugurta, inclusive, estreitou relacionamento com as famílias das vítimas devido à sua sensibilidade que ia além do seu ofício.
Nesta época, também por causa da ampla e eficaz cobertura de sua parte, Ricci tornou-se amigo do conhecido repórter Gil Gomes, do programa “Aqui Agora”, do SBT. À ocasião, segundo as duas, Jugurta passou a nutrir amizade com importantes nomes do rádio interiorano. “Me recordo que, inclusive, ele fazia inserções em inúmeras emissoras de rádio tamanha era a repercussão deste caso”, relembrou Mariana.
Outra cobertura de relevância em que Ricci se fez presente foi em 1993, oportunidade em que uma das maiores fatalidades já registradas em Rio Claro aconteceu: um ônibus de estudantes, vindo de Piracicaba, colidiu com um caminhão carregado de piche na rodovia Fausto Santomauro, deixando inúmeros mortos e feridos.
“Todos os anos, no dia 20 de maio, ele se recordava com tristeza desta tragédia. Falava os nomes de todos os passageiros e recontava, em detalhes, o que havia testemunhado”, afirmaram.
HONRARIAS
Dentre as conquistas como repórter, Mariana e Sueli fizeram menção aos cinco troféus Imprensa (que por muitos anos premiou os destaques de Rio Claro) com os quais foi contemplado.
No entanto, foi em 2017 a principal e mais emocionante honraria por ele recebida: Moção de Aplausos, concedida pelo vereador Luciano Bonsucesso (PR). “A Moção que virou emoção”, enfatizaram mãe e filha, relembrando o momento que foi tomado pela emoção. “Ele se emocionou demais, pois nunca pensou que merecesse tanto tamanho reconhecimento. Nos recordamos que ele entrou na sessão aos prantos”, reviveram.
MAIS DO QUE OFÍCIO: O AMOR PARA COM A PROFISSÃO
“Ele dava a vida”. Assim, esposa e filha resumiram o amor de Jugurta para com a profissão que escolheu. Mesmo debilitado, jamais deixou de trabalhar, a despeito de suas dificuldades.
Tendo em sua casa os aparelhos radiofônicos necessários para que pudesse exercer suas funções, Ricci jamais deixou de fazê-lo. Mesmo nos momentos de maior impedimento em virtude de sua saúde, Mariana o auxiliava com informações que ele já não podia mais ir atrás, como sempre fez com exacerbada competência. “Certa vez, quando estava na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), me perguntou como é que estava a cidade. Mesmo numa situação ruim, jamais deixou de se atentar à profissão”, relatou.
A PARTIDA
Jugurta, devido a complicações renais por conta do fato de ser diabético, começou, em 2010, a fazer sessões de hemodiálise. Por alguns anos, o repórter conviveu bem com o tratamento, a despeito das muitas dificuldades que lhe eram impostas. Infelizmente, em virtude de uma complicação em sua fístula (acesso no braço para hemodiálise), Jugurta precisou ser internado e, após um período de intensa luta pela vida, acabou não resistindo e faleceu no dia 6 de fevereiro de 2018.