Jornalista, mestre em comunicação social e coordenador do curso de jornalismo da Unimep, Paulo Roberto Botão, foi responsável pela formação de muitos profissionais que atuam na imprensa rio-clarense e regional.
Mas década atrás, o profissional integrou o time do Diário do Rio Claro e ajudou a consolidar a marca do periódico que é um dos mais antigos em atividade ininterrupta do Brasil. Botão, como é conhecido entre os alunos e amigos, engrossou a fileira do Centenário entre os anos de 1986 e 1987.
Sua primeira grande reportagem para o Número 1, conforme contou, foi sobre o lançamento do Sistema Único de Saúde (Sus). Com inúmeras dificuldades tecnológicas, o jornalista relembra que o trabalho foi publicado no dia seguinte e mais uma vez o jornal participou da construção da história da Família Rio-clarense.
Depois de sua saída do Diário, Botão teve passagem na Tribuna Piracicabana, atuou como repórter no Jornal de Piracicaba e diretor de jornalismo da rádio Educativa FM. Ingressou na assessoria de imprensa da prefeitura de Piracicaba e, pouco tempo depois, assumiu como diretor do departamento de comunicação da Câmara daquele município.
Seu ingresso como docente aconteceu quando ainda atuava como assessor de imprensa. “Foi acidental meu ingresso. Fui convidado a dar uma disciplina e acabou dando certo. Com isso me adaptei à docência”, explicou ao destacar que o ensino de jornalismo é muito voltado para a atividade prática. “Fui editor da Revista Painel e editor do jornal Na Prática”, lembrou, referindo-se às publicações que circulavam na faculdade.
Botão comentou sobre as dificuldades de produção jornalística no período pré-tecnológico, analisou o papel do jornalismo na sociedade e avaliou os rumos que a imprensa deve seguir para se adaptar aos novos tempos. Veja trechos da entrevista.
Diário do Rio Claro: Quais suas lembranças do período em que trabalhou no Diário e qual foi sua primeira reportagem?
Paulo Roberto Botão: A primeira grande reportagem que fiz no Diário aconteceu quando foi lançado o Sus. O lançamento ocorreu no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo. O Diário me mandou e eu fui acompanhar um evento que era nacional. Fiz a matéria na sala de imprensa, mandei o texto, agora não recordo se por telex ou fax, e o filme das fotos mandei pelo ônibus. Havia um esforço para fazer bom jornalismo. Esforço para fazer algo novo para o leitor. Foi uma coisa marcante por conta dessa dificuldade toda.
Cada capa do dia seguinte era desenhada antes e o repórter recebia a missão de fazer a chamada e o texto com números de toques pré-estabelecidos. Era uma coisa muito bonita e que valorizava muito a informação. Naquele período o editor era o [José Rosa] Garcia e equipe contava com Silvia Venturolli, Natalino Marrachi, Luiz e Walesca Wehmuth. Aprendi muito com o Garcia.
Diário do Rio Claro: Como era fazer jornalismo nesse período?
Paulo Roberto Botão: Existiam três jornais concorrentes e era um momento de muita competitividade. O Diário era o maior dos três, mas os outros também tinham importância na cidade. Não existia internet, nem computador. Dependíamos de telex, fax, sem contar que utilizávamos máquina de escrever. As matérias eram digitadas em laudas de papel, as fotos tinham que ser reveladas. Todo o processo era analógico.
Diário do Rio Claro: Como foi a mudança tecnológica na produção de notícias e como impactou o jornalismo?
Paulo Roberto Botão: Foi uma mudança que começa com a informatização das redações, com a instalação do computador, que já provocou uma série de mudanças que afetaram o jornal impresso. Depois, tiveram mais mudanças com o acesso liberado a internet. O e-mail era utilizado para fazer entrevistas, enviar informação.
Primeiro foi a introdução do computador, depois a chegada da internet, em seguida a criação dos sites e, mais recentemente, as redes sociais. Foi uma mudança muito grande num prazo de trinta anos. Uma mudança radical na forma de produzir, captar e distribuir a informação.
Diário do Rio Claro: O que é o jornalismo para você?
Paulo Roberto Botão: Acho que o jornalismo é uma forma de conhecimento especifico e que tem o compromisso com informações que são de interesse público.
Diário do Rio Claro: Você acredita no fim do jornal impresso?
Paulo Roberto Botão: Acredito na mudança do perfil do impresso. O jornalismo permanecerá, mas ele vai exercer outro perfil. No sentido de ser um jornalismo mais analítico, de contextualização, interpretativo. Ele não vai dar só a notícia, mas contextualizar. Eu aposto no jornal impresso mais na reportagem do que na notícia. A reportagem é a informação que só o seu jornal tem. Então eu acredito que o jornal impresso tende a ter um número de leitores menor, mas de leitores mais qualificados.
O jornal vai se aproximar muito do que são as revistas. Apostar em conteúdo exclusivo é um diferencial. Será necessário um jornalismo de mais profundidade, contextualização e acho que isso dá uma sobrevida grande para o impresso. Mas se não houver essa mudança, o impresso não fará mais sentido.
Diário do Rio Claro: Qual a importância dos veículos de comunicação?
Paulo Roberto Botão: O papel dos veículos é a essência do jornalismo, que é fiscalizar o poder público. Neste sentido é muito legal ver a revitalização do Diário. O jornalismo do interior é importantíssimo para o desenvolvimento da cidade e também para própria qualidade de vida dos cidadãos.
Diário do Rio Claro: Sente falta das redações?
Paulo Roberto Botão: Sinto fata principalmente da redação de jornal diário. É a mais empolgante. A redação é uma atividade que todo dia provoca um conjunto de emoções, reflexões, além de ser um trabalho em equipe. A redação de jornal é a maior escola para a formação do jornalista.
Diário do Rio Claro: Como você analisa a relação entre imprensa e política?
Paulo Roberto Botão: Eu diria que a imprensa é fundamental para o funcionamento da democracia. Não tem como ter uma sociedade democrática se não tiver uma mídia atuante e meios de comunicação que atuem de forma independente, de forma imparcial. Mas o que eu vejo atualmente é que no Brasil, nos últimos cinco, dez anos, a grande imprensa, infelizmente, não tem feito um bom trabalho do ponto de vista da cobertura isenta da política.
A imprensa tem noticiado de forma enviesada o processo político do País e com isso acabou contribuindo para a criação da crise política. Hoje, existe uma credibilidade na grande imprensa muito pequena quando se diz respeito à cobertura política.
Depois da saída do Lula da presidência, por exemplo, a imprensa só fez um trabalho crítico, mas ele continua liderando pesquisas políticas. Então há um descompasso entre o que a grande imprensa está divulgando e a sensação do povo. A credibilidade da grande imprensa se deteriorou muito. Isso deve servir de alerta para os jornais do interior. É preciso manter a todo custo o compromisso com isenção e pluralidade.
Diário do Rio Claro: É possível a imprensa ser imparcial?
Paulo Roberto Botão: Não precisa ser imparcial, mas precisa ter o compromisso com a verdade das informações e com o equilíbrio. A cobertura tem que ser equilibrada e não deve privilegiar nenhum lado. É necessário dar espaço para todos os lados, mas a imprensa precisa melhorar muito nesse sentido. Não é um problema do jornalismo, mas um problema da opção das empresas, pois elas deixaram de fazer jornalismo e passaram a fazer propaganda.
RÁPIDAS
Voto útil ou de protesto: Melhor de protesto.
Mudaria de calçada ao cruzar com: Tem que responder?
Não merece o meu respeito: Jair Bolsonaro.
A política é: A arte de governar para o povo.
Não simpatizo, mas respeito: O PSDB.
Não respeito, mas simpatizo: Se não respeito não posso simpatizar
Um ídolo: O jornalista Audálio Dantas.
Um sonho possível: Transformar o brasil num pais menos desigual.
Um sonho impossível: Não existe impossível.