A cosmologia, ramo da física que estuda a origem do universo, tornou-se uma ciência muito precisa. Nas últimas décadas uma enorme quantidade de dados foi gerada a partir das observações experimentais. As descobertas da expansão acelerada do universo na década de 1990, e a maior resolução das imagens na radiação cósmica de fundo, pelo satélite Planck, em 2018, para citar dois exemplos recentes, firmaram ainda mais as bases do que chamamos modelo padrão da cosmologia que estabelece o Big Bang como modelo mais provável da origem do universo.
Numa especie de “engenharia reversa” do universo o modelo, comprovado pelas observações, aponta para um passado em que toda a matéria existente, todo o espaço estavam concentrados em um único ponto, uma singularidade, com altíssima temperatura e densidade infinita.
E o que a cosmologia nos diz, com relação a nosso lugar no cosmos pode ser desalentador para alguns. De uma perspectiva física, nos últimos cem anos, nosso lugar no cosmos foi ficando cada vez menor. Infinitamente menor.
Começando por Copérnico, que descobriu que não estamos no centro do sistema solar. Mais tarde descobrimos que nosso sistema solar está localizado na periferia da Via Láctea e que, galáxias iguais a esta existem aos trilhões no universo, cada uma com seus bilhões de estrelas, e planetas, alguns até podendo ser parecidos com a Terra. As estimativas mais recentes apontam que há 2 trilhões de galáxias parecidas com a Via Láctea, em todo o universo observável!
E, modelos matemáticos, ainda teóricos apenas, apontam para a possibilidade da existência dos “Multiversos”. Ou seja, nosso universo inteiro pode ser apenas um membro de um conjunto enorme de outros universos, cada um com suas leis físicas.
Assim, pela perspectiva física, nosso lugar no universo é ínfimo, e nada nos diz que somos especiais perante o cosmos.
Porém, de uma perspectiva mais filosófica, ao mesmo tempo, o que acontece é que cada sentença escrita acima, representa uma descoberta humana.
É de Carl Sagan a famosa constatação de que somos, com nosso poder intelectual, a parte consciente do universo capaz, pela nossa existência, de se auto-conhecer.
Mário Livio, famoso cosmólogo israelense-americano diz que assim como o universo se expande, também expandimos nosso horizonte intelectual. Então, nesse sentido filosófico desempenhamos um papel central neste grande estado de coisas.
E pensar que a maior aventura humana tornou-se possível há apenas alguns séculos. Se compararmos com os cerca de 300 mil anos de existência do homo sapiens, avançamos apenas nos últimos 400 anos de modo impressionante no desenvolvimento de modelos e equipamentos que nos permitiram compreender mais e mais o universo e também tudo o que há nele. Seja nos níveis de grandes escalas, com a Relatividade Geral, seja nos níveis mais microscópicos e fundamentais da existência das coisas, com a Mecânica Quântica, à medida que avançamos, a Natureza se revela mais e mais surpreendente.
E nada disso anula o sentimento religioso ou a fé, algo tão pessoal e intransferível, parte mais antiga também dessa aventura humana. É bem possível e pacificador pensar que tudo o que existe é sim governado pelas leis da física, do início ao fim do universo em todos os aspectos e níveis, são as leis naturais as responsáveis.
Mas Deus pode estar no papel de determinar essas leis e principalmente mantê-las. Vai ver, foi por isso que somos tão pequenos, insignificantes diante de todo o Universo, já que nossa mente é tão poderosa para buscar o conhecimento. Por isso sempre achei a Física com a cosmologia em especial, uma senhora lição de humildade.