Já tive essa experiência mais de uma vez. Numa roda de pessoas, em alguma festa ou encontro casual, alguém me pergunta o que eu faço. Quando digo que estudo física, pronto. Tem gente que até torce o nariz. “Nossa, tá louco, física? Você é louco!”, dizem alguns de brincadeira. Outros, mais radicais, olham como se estivessem vendo um extraterrestre na sua frente. É bem engraçado.
A física tem uma aura de ser algo difícil, coisa apenas para gênios. Mas isso é uma bobagem sem tamanho. Claro assim como todas as atividades científicas, a física necessita de dedicação e disciplina para que seja entendida.
Contribuem também para manter essa falsa ideia de ela ser inatingível alguns cientistas que não colaboram e, por ostentarem um título de doutor e publicações em revistas científicas internacionais, comportam-se de modo arrogante, como se fossem detentores de um código secreto indecifrável por mentes comuns. Se acham semideuses, mas são só uns chatos.
E na escola, no Ensino Médio, muitos professores também acabam por construir um muro entre a matemática e alguns alunos que tristemente passam a acreditar na mentira de que não nasceram para as ciências exatas. Tudo porque, muitos professores condenam demais os erros cometidos e valorizam a velocidade com que alguns conseguem resolver os problemas propostos.
Também não conseguem fazer um paralelo da física com o dia a dia, com a natureza, a tecnologia e tudo o que nos cerca.
Claro, a reação de muitos alunos é se afastar, criar uma verdadeira fobia e acreditarem que ser bom em matemática e física é quase que um dom, genético. Isso é a mais pura mentira e só serve para desestimular criminosamente alguns alunos.
Não existe o tal “cérebro matemático”. Muita gente acredita nisso e, na primeira vez em que enfrenta alguma dificuldade, passa a pensar: ‘bem, então não tenho um cérebro matemático’ e consolida uma visão negativa de si a partir daí.
Assim como toda ciência, a física, que usa a matemática como caixa de ferramentas, é uma construção humana, feita a partir de muitos erros que conduziram a acertos. E assim deve ser seu aprendizado. Se o aluno fez todas as contas, resolveu todo o problema com um raciocínio correto e o resultado final está errado, não significa que toda a questão está errada! Há que se valorizar o caminho, não apenas a chegada.
A ignorância é o terreno fértil para a ciência, e a curiosidade o adubo. Para fertilizar novas perguntas, buscar novas respostas e seguir nessa aventura de conhecimento que ao fim pode melhorar a vida das pessoas e do planeta.
A história da ciência tem sempre grandes revoluções as quais levam a entender que nossa visão de mundo estava distorcida, ou na melhor das hipóteses, incompleta. Enxergar a parte para ver o todo muitas vezes é tarefa árdua, mas os resultados são sempre impressionantes.
Por exemplo, uma terra plana ou um sistema em que a Terra era o centro do Universo foram durante muito tempo ideias bastante razoáveis, mas que com o avanço das observações mostraram-se ingênuas, até mesmo constrangedoras.
Mesmo a ideia de um Universo dominado por estrelas, planetas e galáxias já está descartada. Assustadoramente, apenas 5% do que compõe o Universo é matéria “normal”. Outros 27% é matéria escura e outros 68% é da misteriosa energia escura.
E não temos a menor ideia do que de fato é composta a matéria escura e qual a natureza da energia escura, responsável por acelerar a expansão do Universo. O que há são modelos teóricos bem fundamentados, razoáveis, para explicar esses 95% de desconhecido, mas ainda estamos literalmente tateando no escuro, no que diz respeito às comprovações experimentais.
Há também questões relacionadas à Física Quântica, que explica o mundo subatômico, que levam muitos cientistas, desde Einstein, a questionar se de fato ela é uma teoria completa que possa explicar a realidade.
Sabemos muito sobre muitas coisas, mas bem pouco sobre muito ainda. E isso pode muito bem servir de estímulo para qualquer pessoa! O fascínio diante do desconhecido.
Talvez toda nossa ciência hoje seja apenas a infância de uma ciência ainda maior. A viagem da raça humana desbravando o Universo está longe de um fim, e todos devem fazer parte dela.
Afinal é praticamente impossível não ficar curioso sobre o mundo ao seu redor. E quando essa curiosidade é despertada pela primeira vez, é maravilhosamente incurável!