Durante a pandemia da Covid-19 muitos setores da economia foram prejudicados, de acordo com dados publicados no Diário Oficial da União, o setor mais impactado foi o das Atividades Artísticas e espetáculos. Neste ramo, estão os circos que foram proibidos de fazer espetáculos e também de seguir viagem, o resultado foi uma grande crise na área. Foi o que aconteceu com o Circo Spanic, que chegou a Rio Claro antes do início da pandemia e por isso nem chegou a levantar a lona para as apresentações.
Há quase 7 meses parado ao lado do Estádio Augusto Schmidt Filho, o Schmidtão, o Spanic é um circo é gratuito, cujas entradas são donativos que são usados pelos integrantes e divididos com entidades da cidade onde estão e usam o dinheiro das vendas de produtos durante o espetáculo para incrementar a renda. Com a pandemia, as cinco famílias que trabalham no circo se viram na necessidade de pedir ajuda à população de Rio Claro, e foi a partir de uma placa instalada pelos artistas, que o humorista rio-clarense Daniel Santoro notou a situação e decidiu ajudar.
“Eu estava passando em frente ao circo e notei uma placa que dizia ‘aceitamos doações’, então decidi ajudar da melhor maneira que pude. Utilizei meu personagem o famoso Rei da Mandioca, para mobilizar e conscientizar a população da nossa cidade sobre a situação daquelas pessoas. Fizemos uma vaquinha online com o intuito de arrecadar dinheiro e alimentos para o circo. O resultado e a recepção foram ótimos, no outro dia vários veículos de comunicação foram até o local para noticiar a história”, relata o humorista.
Daniel conta à reportagem do Diário do Rio Claro que ficou tocado pela situação, pois já foi palhaço e possui uma veia humorística. “O circo no início da pandemia não estava tendo muito apoio, e como o Spanic é um espetáculo familiar com entrada franca e conta com doações de alimentos, sempre com o intuito de ajudar os outros, isso me tocou, então quis retribui-los pelos vários anos que eles têm transmitido a alegria para as pessoas.”
Através de uma live de comemoração dos 3 anos do Grupo Rio Claro e 193 anos da cidade, transmitida no Facebook em parceria com outros artistas da Cidade Azul, o Circo Spanic fez sua primeira apresentação para Rio Claro, com intuito de agradecer por toda solidariedade prestada a eles.
Ao Diário do Rio Claro, o artista circense Maximus Astor, de 19 anos, relata as dificuldades enfrentadas no período. “No começo foi muito difícil para a gente, pois não podíamos trabalhar e não tínhamos dinheiro. O circo é nossa vida, é tudo que sabemos fazer, foi sofrido, mas temos muito que agradecer às pessoas de Rio Claro pela ajuda”, descreve.
Buscando matar a saudade do público e da arte, os artistas decidiram levar o seu espetáculo para as ruas. No semáforo, em frente ao Aeroclube é possível encontrar alguns integrantes da equipe do circo fazendo apresentações das 16 até as 18 horas. Como é o caso dos irmãos malabaristas: Maximus, Aramis e Marlon.
“A gente vem aqui no semáforo para se apresentar porque sentimos saudades dos espetáculos no circo, amamos o que fazemos, gostamos de trazer alegria para as pessoas, nem sempre é pelo dinheiro”, disse Maximus.
Aramis Gonzalez, de 18 anos, um dos irmãos, relata que uma das piores coisas dessa quarentena foi não poder expor o seu trabalho, mas que aproveitou o tempo parado para treinar e aprender novos truques. “No circo, a nossa apresentação durava cerca de quinze minutos, agora adaptamos nossa atuação para conseguir fazer no tempo do semáforo, de 60 segundos. Sofri bastante no começo, mas com bastante treinamento consegui aumentar o meu repertório. Toda semana tentamos trazer um show diferente”, explica Aramis.
Para o outro irmão, Marlon Pontigo, de 15 anos, o mais difícil é lidar com a saudades da rotina. “Uma das coisas que sinto muita falta é da nossa rotina no circo, estávamos sempre nos preparando para os espetáculos. Mas com a pandemia precisamos ajudar nossa família, então decidimos vir aqui no semáforo, apresentamos nossos truques e ainda ganhamos dinheiro”, relata.
Contratados por um circo de Sorocaba, um dos primeiros espetáculos a retornar com plateia no País, os irmãos malabaristas já tem data de partida. Marlon, Maximus e Aramis lamentam por não conseguirem se apresentar pelo Circo Spanic em Rio Claro, mas esperam um dia poder retornar à Cidade Azul. “Somos muito gratos por tudo que fizeram por nós aqui, espero um dia poder voltar e fazer um grande espetáculo para todos como forma de agradecimento”, conta Maximus.
O Circo Spanic e os demais integrantes da trupe seguem estacionados ao lado Schmidtão, sem previsão de partida, por isso, continuam aceitando todos os tipos de doação.
Por Gabriel Cupido / Foto: Divulgação