O dia 18 de setembro, uma segunda-feira, entrou para a história brasileira como a data da primeira transmissão da TV Tupi, de iniciativa do empresário Assis Chateaubriand (Chatô), em São Paulo. Setenta anos depois, a primeira década, uma era de experimentação, improviso e muita paixão, deixou um legado que excede o pioneirismo. Uma época de valorização da efervescência cultural que o país experimentava. Era a maior emoção daquele ano quando as três câmeras acenderam as luzes para as palavras do ator Walter Forster: “Está no ar a PRF-3-Tv Tupi de São Paulo, a primeira estação de televisão da América Latina”.
No Brasil, a experiência do rádio viabilizou as imagens em movimento. Um rádio com imagens, como salienta o professor e pesquisador Laurindo Leal Filho. “A respeito do conteúdo [no Brasil], a televisão quase que deu continuidade ao que se fazia no rádio. Eu tenho escrito que a televisão no Brasil teve implementação diferente. Foi o teatro que influenciou bastante o início na Europa. Nos EUA, a TV apoiou-se no cinema”, explica.
Uma característica dos trabalhadores brasileiros foi se multiplicar para dar conta do desafio que se apresentava. Entre um programa e outro, os radialistas da Rádio Tupi ocupavam o estúdio da recém-lançada PRF-3 TV Difusora, interpretavam cenas ao vivo e voltavam à sua função no rádio. Essa era a rotina de muitos pioneiros da televisão brasileira, que se iniciou em 1950. E na rádio, os brasileiros já tinham os caminhos das ondas. Afinal, desde 1922, graças à iniciativa de Edgard Roquette-Pinto, artistas, jornalistas e outros profissionais conheciam o frio da barriga e a responsabilidade de entender o que era uma transmissão ao vivo.
Foi o que aconteceu com o jornalista rio-clarense Moacir Martins. Com histórico exitoso no rádio, ele estreou como apresentador na televisão em 1990, depois de quase 40 anos atuando nas ondas radiofônicas. Hoje, aos 88 anos, Moacir pode dizer que acompanhou toda a evolução da imprensa, desde o jornal impresso à era da internet. “Estamos diante de uma comemoração das mais importantes, não só para as autoridades que introduziram no Brasil esse meio de comunicação, mas, muito mais gratificante para aqueles que tiveram a oportunidade de inserir no seu município, na sua comunidade, uma emissora de TV”, destaca o jornalista.
Quando a TV chegou ao país (depois da leva dos 200 primeiros aparelhos importados por Chateaubriand), o aparelho estava longe do acesso à população, tanto pelo alcance dos transmissores não irem além de 50 quilômetros, como pelo preço, de cerca de US$ 700. Ainda mais quando foi a própria televisão ter alguma popularização, principalmente depois de 1955. Conforme registra o professor Flávio Luiz Porto e Silva, um aparelho, no começo, custava cerca o equivalente a 30 salários mínimos.
30 anos de uma TV local em Rio Claro
Apenas 40 anos depois da primeira transmissão televisiva no Brasil, Rio Claro passava a contar com um canal local, voltado para as notícias, fatos e acontecimentos da Cidade Azul. Em 7 de setembro de 1990, ia ao ar a TV Rio Claro, que em 2007 passaria a se chamar TV Claret. Para o atual chefe de redação da emissora, Paulo Lima, é difícil dizer que fase foi mais significativa, pois cada uma teve suas particularidades. “Assim 30 anos se passaram com a televisão presente em Rio Claro e na rotina diária de milhares de pessoas. Muitos profissionais fizeram e fazem parte dessa trajetória e não cabe aqui citar nomes até para não cometer injustiças. A emissora sempre ocupou um espaço na comunidade que dificilmente irá sucumbir, mesmo diante das tendências que vem e vão: o de servir à sociedade, ser porta-voz de necessidades, injustiças e boas novas. Teve na programação reconhecidos programas jornalísticos e sociais. Foi parceira da TV Cultura durante a fase de maior alcance regional. Hoje é afiliada à TV Brasil e semanalmente ‘emplaca’ conteúdos em rede nacional. E abrindo espaço também nas redes sociais. A televisão precisa sim se reinventar todos os dias para ser atrativa, mas sem perder a essência de ser o porto seguro ao informar e entreter”, destaca.
Para o jornalista Moacir Martins, que trabalhou na emissora quando da sua inauguração, atuando como apresentador dos telejornais e do programa de entrevistas Diálogo, destaca a emoção de ter feito parte da história. “Momentos felizes da minha carreira de Radialista-Profissional e momentos inesquecíveis da minha carreira de Comunicador-Apresentador. Resta-nos, agradecer a Deus – que ‘deu essa voz a mim’ e a todos que proporcionaram as oportunidades e que fizeram parte do nosso sucesso”, comenta.
Por Agência Brasil/Vivian Guilherme / Fotos: Divulgação