Nunca mais esqueci dessa excelente analogia feita pelo meu professor Dario Donatti para explicar de maneira simples algo tão complexo. Imagine que você está em uma sala escura, na qual haja apenas uma bolinha pulando de um lado para outro. Sua missão, em meio a essa escuridão é tentar dizer com exatidão onde a bolinha esta e qual a sua velocidade. E para fazer essa medida, no escuro, você tem apenas um instrumento: Uma enorme marreta.
Difícil né? Mas você acaba aceitando o desafio. E entra na sala escura balançando a marreta de um lado a outro tentando encontrar a bolinha. Mas, tão logo ela bate na marreta já vai para outra posição. Sem desanimar, você tenta de novo, e de novo, e a cada tentativa de medida ela sai voando em outra direção com outra velocidade, quase que de maneira instantânea. Assim fica impossível dizer ao mesmo tempo, a posição e a velocidade da bolinha.
É mais ou menos isso que acontece no mundo microscópico, das partículas subatômicas, regido pela mecânica quântica. A impossibilidade de se medir com precisão e ao mesmo tempo, velocidade e posição de uma partícula é o Princípio da Incerteza descoberto em 1927 pelo físico alemão Werner Heisenberg. Tudo porque o ato de observarmos uma partícula, isto é, de medi-la, interfere loucamente na própria medida. Como a marreta para medir a posição e velocidade da bolinha numa sala escura. Esse é um dos pilares da Física Quântica. Assim, tudo em nível atômico e subatômico só pode ser descrito em termos de probabilidades.
Coisa que na Mecânica de Newton, que descreve os fenômenos no mundo visível, não existe. Para esta, não há a incerteza, é possível saber, no mesmo instante, posição e velocidade de um carro em uma autoestrada, por exemplo, e onde ele vai estar no momento seguinte.
E o que aprofunda ainda mais o abismo entre o mundo visível e o microscópico é que uma partícula, como um próton por exemplo, é descrito como funções de onda, que podem ser entendidas como distribuições de probabilidade. Assim, cada função de onda dessa partícula contém informações de sua energia, sua posição, sua velocidade, respeitada a incerteza.
Mas, o que já é conhecido desde a década de 1920, antes de ser medida essa partícula, matematicamente, é descrita por uma superposição de infinitas funções de onda. Assim, o ato de medir, isto é, de observar a partícula, influi nesse resultado, levando ao que os físicos chamam de “colapso da função de onda”, resultando em uma só dessas infinitas funções.
Para tornar o conceito mais palatável ao púbico leigo, o físico austríaco Erwin Schrödinger usou o exemplo de um gato em uma caixa. Antes de ser observado, ele, matematicamente, está morto “e” vivo. Ao se abrir a caixa (observá-lo, portanto), ele estará morto “ou” vivo.
Esse conceito, o da influência do observador no estado de uma partícula, é preferencialmente distorcido pelos místicos e autores de auto-ajuda, alguns ávidos em se aproveitar do desconhecimento de sua plateia para angariar certo “respeito” e, principalmente, dinheiro.
São controversas e habitam o terreno das crendices as interpretações da Mecânica Quântica que pretendem introduzir a consciência na teoria. Elas ocupam uma posição marginal no mundo acadêmico.
A mente humana, sua consciência, não é o observador do qual trata a Mecânica Quântica, como bem analisou Niels Bohr. O observador é o ato de medir, independente de quem o faça.
A câmera digital de seu celular, por exemplo, funciona graças a um fenômeno quântico, também os processadores e outros componentes dos computadores, as televisões mais modernas, os antigos CDs players, entre outras tantas.