“O cara ali está tocando para pedir dinheiro? Porque ele tá muito longe do semáforo, não dá pra jogar moeda, não”, diz um rapaz que observa o músico tocando em cima da base de um dos semáforos instalados na Avenida Rio Claro. Outros passam atentos observando o rapaz com violão e uma máscara. E alguns param, tiram o celular do bolso e registram com uma foto ou um vídeo.
“É isso que eu quero. Fico depois na rede social procurando para ver se alguém fez registro, se publicou algum vídeo”, explica o multi-artista Felipe Ricotta, que desde 2010 viaja o mundo levando a sua arte para os cantos mais peculiares da cidade.
Acreditando que a arte é serviço essencial para todos, Ricotta seguiu com sua turnê Verde 2020 e já passou por 12 cidades em dois meses. “Quando me dei conta, reparei todo mundo surtando com essa situação da pandemia e assumi a responsabilidade de que arte é serviço essencial nesse momento, né? Então voltei pra estrada”, relata o artista que ficou por quase cinco dias no município e seguiu nessa sexta-feira (28) para Campinas.
“Rio Claro tem vários palcos é uma boa cidade, tem vários espaços aqui na Avenida Rio Claro”, disse à reportagem do Diário, que acompanhou uma das apresentações do músico. Além das performances em lugares absurdos da rua, obras visuais abstratas são coladas por inúmeros pontos da cidade. Ricotta também dá continuidade a um diário de turnê contando sobre todas as situações inusitadas pelas quais tem passado o único artista do país em turnê durante a pandemia.
Paralelo à turnê, segue desde 2014 o projeto 70Canções70Cidades onde são feitos registros de novas músicas em quartos de hotel. Em Rio Claro, o registro foi feito no Class Hotel. Onde acompanhar em tempo real: Instagram @felipericottamorreu. Confira entrevista que nossa reportagem realizou com o artista:
– Há quanto tempo está circulando?
Eu vivo sem residência fixa desde 2010, quando a MTV me mandou embora, porque eu não queria tirar a máscara do personagem Kiabbo que fazia no programa 15 Minutos. Acho difícil que haja algum artista que tenha rodado Brasil e América Latina como eu nos últimos 10 anos. Nem mesmo os sertanejos.
– Por quais cidades já passou?
Nessa nova turnê, já foram 12 cidades em dois meses. Na primeira vez que fiz uma turnê desse tipo me apresentando em lugares absurdos da cidade na QualquerLugarDaRuaTour, foram 31 cidades em 2017 e 2018. Agora desde 2010 já perdi a conta.
– Como escolheu Rio Claro para a turnê?
Gosto muito de chegar na rodoviária e escolher ali na hora. Eu fico na cidade até achar que chamei atenção o suficiente. Ou quando aparece um bom motivo pra que fique um pouco mais. Escolhi Rio Claro porque nunca tinha vindo aqui antes. Trato as cidades menores e de médio porte com o mesmo respeito que trato as grandes cidades. Todas têm a exata mesma importância no meu rolê.
– Qual o principal objetivo da turnê e como tem sido a receptividade do público?
Quando fiz a QualquerLugarDaRuaTour em 2017 que era o mesmo conceito da Turnê Verde 2020, a intenção era divulgar minha música, literatura e arte visual de uma maneira diferente. Sacrificando a experiência do show tradicional e oferecendo essa performance que é uma experiência mais visual do que sonora, mas que atiça a curiosidade das pessoas e leva elas a me consumirem em suas casas. Daí veio a pandemia e resolvi assumir essa responsabilidade de que arte também é serviço essencial nesse momento de luto coletivo. Tá todo mundo tão triste e desanimado dentro de seus carros então elas dão de cara com um mascarado que parece um ET tocando e dançando num lugar absurdo da rua e já abrem um sorriso, filmam, mostram pros amigos, muitas vezes salva o dia de alguém, né? O principal objetivo da turnê é esse agora.
Foto: Divulgação