Tudo muito simples: o PT lançou Lula, sabendo que não pode ser candidato, e pôs Haddad de vice, mas para ser candidato a presidente.
O PCdoB retirou a candidatura de Manuela d’Ávila à presidência e nada lhe deu em troca, mas ela sabe que será a vice de Haddad, que é o vice de Lula.
Ciro namorou o Centrão, mas colocou na vice uma esquerdista que, até há pouco, era ruralista e conservadora das que não comem tomate porque é vermelho. Boulos é candidato do PSOL, mas apoia Lula que não pode ser candidato, porém, finge que é. Alckmin afirma que sabe poupar, e é verdade: sobrou-lhe o suficiente para conquistar o apoio do melhor bloco que o dinheiro pode comprar. Alckmin corre um risco: escolheu uma vice melhor do que ele. Ana Amélia é, de verdade, tudo aquilo que Alckmin diz que é.
E temos um caso curiosíssimo: pelo PMDB, maior partido do país, com apoio do presidente da República, há Henrique Meirelles, o candidato que é sem nunca ter sido. Meirelles tem dinheiro, pode pagar sua campanha, e isso é suficiente para explicar como chegou a candidato. Mas Meirelles não tem sorte: o presidente que o apoia é menos popular até do que Dilma, os caciques do maior partido do país foram cada um para seu lado, cuidar de seus superiores interesses, e a economia, que corria nos trilhos, desandou de tanto que foi “ordenhada” para alimentar um Congresso faminto, que queria “devorar” um presidente. Meirelles tem hoje só seu carisma – e é zero.
Hoje quem paga…
Há, no total, 16 candidatos à Presidência, já descontado Lula, que finge que é, mas não é, e acrescido Haddad, que é candidato a vice, só que vai mesmo é sair no comando da chapa. Desses, três têm chances: Bolsonaro, o líder nas pesquisas (mas que tem pouquíssimo tempo de TV), Alckmin, que montou uma grande coligação e fica com quase metade do tempo total de TV, e Haddad, por ser o candidato de Lula. Os outros estão é brincando de candidatos. Eles podem: dinheiro é o que não falta. O nosso dinheiro.
…somos nós
Quanto? Há a ponte aérea Curitiba-Brasília que todos os esquerdistas percorreram antes de decidir independentemente seu caminho, há a grande festa da convenção, com passagem, hotéis e refeições para os participantes, e com boa bebida. Há as viagens para discutir quem é que cada partido vai apoiar – tudo por conta do Fundo Eleitoral e do Fundo Partidário. Ou seja, de novo vão mergulhar nos nossos fundos.
Começando!
Amanhã, quinta (9), o primeiro debate entre os candidatos à Presidência. Como sempre, a pioneira é a Rede Bandeirantes de Televisão. Lula quis participar, mas o TRF-4, Tribunal Regional Federal de Porto Alegre, ignorou o pedido. A TV não é obrigada a convidar o vice para debater na ausência do titular. Se Haddad participar, fica claro que o vice não é vice.
Mais tarde, mais tarde
Lula sabe que não pode ser candidato, tanto que escolheu Haddad para substituí-lo. Por que tanto luta para adiar a declaração de inelegibilidade? Talvez por cálculo: em 15 de setembro, foto e nome do candidato entram nas urnas (a eleição é em 7 de outubro). Se Lula não tiver sido impugnado, seu nome e foto aparecerão na urna na hora da votação, mesmo com outro candidato em seu lugar. Gente menos informada pensará que vota nele, quando estará votando nesse outro candidato, embora indicado por ele.
Dilmo
É melhor calar, e deixar no ar a possibilidade de que o achem tolo, do que falar e acabar com a dúvida. O general Mourão, vice de Bolsonaro, na primeira declaração como candidato, afirmou que os brasileiros herdaram a indolência dos índios e a malandragem dos negros. Em seguida, garantiu que não é preconceituoso. Talvez não seja; talvez apenas ignore o sentido exato das palavras. Eventualmente, pode pensar que, como Mourão, seja um Moro grande. Não é: mourão é apenas um poste para firmar a cerca.
Proteção
A presença de Mourão na chapa, dizendo o que diz, certamente reduzirá as críticas a declarações estranhas de Bolsonaro, como a de que os militares não tomaram o poder em 1964, Vladimir Herzog pode ter cometido suicídio, ou que a ditadura não hostilizou a imprensa. Ignorar a censura ao Jornal da Tarde, a O Estado de S.Paulo e a O São Paulo, jornal da Arquidiocese de São Paulo, esquecer-se do fechamento do Correio da Manhã e da Rede Excelsior, omitir que o regime militar deu apoio a novos meios de comunicação que lhe fossem incondicionalmente fiéis é demais.
O veto à meningite
Este colunista conviveu com a censura prévia. E assistiu à censura da epidemia de meningite, para que ninguém culpasse o Governo. Só que era proibido divulgar também as precauções para evitar o contágio.
Por Carlos Brickmann
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