Sabe aquele filme do qual a gente lembra por causa da música? Pois é bem provável que o compositor da música, tenha sido Ennio Morricone. Ontem (6), ele nos deixou, aos 91 anos de idade. Missão cumprida. E que belíssima missão, reservada a poucos, essa de emocionar as pessoas através da música.
Ennio Morricone, nascido em Roma, em 10 de novembro do longínquo 1928, compôs mais de 400 trilhas sonoras para cinema e televisão, e mais de 100 músicas clássicas. É outra importante referência da cultura do século 20 que sai de cena para ganhar uma página definitiva na história.
Mais que os filmes que fazem lembrar, as músicas de Ennio Morricone, tornam-se inesquecíveis devido a emoção que causam. É o caso da música tema do filme ‘Malena’, que tem Mônica Belucci no papel principal. Impossível ouvi-la e não lembrar daquele amor da adolescência, normalmente relegado à dimensão do impossível. Enquanto se ouve a belíssima melodia, inevitável pensar que amar alguém à distância, é como ter o tesouro da vida diante de si e não poder tocá-lo, nem possuí-lo.
“Débora”, a partitura que dá vida aos sentimentos da personagem homônima interpretada por Jennifer Connelly no filme ‘Era uma vez na América’ nos leva como que diante da personagem, que é obrigada, por força das circunstâncias, a renunciar ao seu grande amor.
Como resistir à vontade de também estar naquela sala de projeção, do cinema velho e decadente, quando se ouve “Theme D’Amour”, a música que embala as lembranças do menino Toto, no filme ‘Cinema Paradiso’. Morricone teve a rara habilidade de unir duas preciosas artes, a música e o cinema. O maestro que ontem nos deixou, deu alma às imagens, mais que aos personagens.
Manteve com o cineasta Sergio Leone uma parceria perfeita, que atravessou décadas. Muitos se lembram das trilhas dos filmes western, “Por um Punhado de Dólares”, “Por uns Dólares a mais”, “Três Homens em Conflito”, protagonizados por Clint Eastwood. Mas a trilha sonora do filme “Era uma Vez no Oeste”, no qual Charles Bronson interpreta o forasteiro misterioso e sua inseparável gaita, que busca vingança contra o matador profissional Henry Fonda é a melhor representação da afinidade entre esses dois italianos, que foram geniais em suas respectivas artes. Quem assistiu à película, jamais esquecerá a música da cena final, em que a bela Claudia Cardinale, caminha pela rua principal da cidade que então passava a conhecer o progresso trazido pela ferrovia.
Há duas outras trilhas compostas por Morricone que também merecem destaque, a do filme “Quando Explode a Vingança”, que tem Rod Steiger, no papel do revolucionário endoidecido disposto a tudo, também dirigido por Sergio Leone e “Meu Nome é Ninguém”, de Tonino Valeri, com Terence Hill como o personagem principal, e novamente Henry Fonda, no papel do vilão.
De todas as músicas compostas por Ennio Morricone, todavia, há uma que talvez sintetize toda a beleza de sua arte, é “Gabriel Oboé” que fez para o filme norueguês ‘A Missão’, de 1986, dirigido por Roland Joffé, que conta a história de padres jesuítas imbuídos da inglória tarefa de catequisar índios guaranis na América do Sul.
O homem que na juventude tocava trompete em bandas de jazz, também influenciou em algum aspecto bandas como Dire Straits, Metallica e Radiohead.
Premiadíssimo ao longo de toda a exuberante carreira, Ennio Morricone também venceu dois Oscars; em 2007, pelo conjunto da obra, e em 2016, quando compôs para o filme “Os Oito Odiados” de Quentin Tarantino.
O maestro se vai, e não seria exagero imaginar que será recebido com pompas pela corte celestial, ao som de suas maravilhosas e inesquecíveis melodias.
Por Geraldo J. Costa Jr. / Foto: Divulgação