“A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor. Brilha tranquila, depois de leve oscila, e cai como uma lágrima de amor.”
Esse que para mim é um dos versos mais bonitos de toda MPB, resume como é passageira nossa condição aqui na Terra, buscando saber quem somos e alcançar algo tão abstrato que ousamos chamar de felicidade.
Para alguns está num grande amor, para outros no dinheiro. Nos dois, num bom livro com uma xícara de café numa tarde chuvosa, na série que estreou a nova temporada, na família, nos filhos, na realização profissional, na fama, no anonimato, no sossego, nos encontros, em ajudar os outros, em prejudicar os outros (acredite, existe), enfim, ela pode estar em tudo. Mas a felicidade é acima de tudo um nome para uma aventura estritamente pessoal. Cada um de nós tem seu conceito próprio.
Se o assunto é felicidade na vida, como nos lindos versos do Vinícius de Moraes acima, o primeiro pensamento que vem à mente é que há apenas momentos felizes, ao longo de uma vida inteira.
É justamente a nossa vida, essa sucessão de encontros inéditos com a realidade, que nos leva a essa ilusão. Há também a ideia de que precisamos nos esforçar muito, fazer sacrifícios enormes para enfim, ter alguma chance de um dia quem sabe, alcançar a tal felicidade.
Essa pandemia, e toda incerteza, as mortes, o medo que ela trouxe, é bom momento para refletirmos. De repente muitos dos ideais grandiosos que tínhamos para ser feliz se resumem agora na torcida e na fé de que tudo isso passe, e que possamos andar livremente pelas ruas, nos abraçarmos sem medo, sem máscaras (faciais, pelo menos).
Ou então, de repente a felicidade não está mais no quando. Quando isso passar, quando eu conseguir me formar, quando eu conseguir ganhar dinheiro.
A gente sempre joga a felicidade para o futuro por que no fundo a gente tem é medo de ser feliz.
Há um caos lá fora, de saúde, político e social, que nos impõe viver o agora. Mesmo que você tente fugir disso, evita as notícias, e age como aquele que gasta todo seu dinheiro sem querer olhar o saldo da conta no banco, para não se “deprimir”. A realidade te encontra de qualquer jeito. O foco tem que ser no presente, olhando ao redor e agradecendo por não estar em uma UTI, entubado, de bruços e sedado, como muitos neste momento, pelos quais devemos nos solidarizar e orar.
Quem sabe se olhar para o mais simples da sua vida, não esteja lá o que você tem por felicidade?
Ou então vai ver ela nem exista, mas a gente é capaz de sentir. Vai ver, como diz o Chico, a vida nem seja um fato consumado.
Vai ver essa vida é apenas um longo sonho de uma outra, maior. Mais feliz.