É… os dias têm sido diferentes e com sentimentos diversos, de medo, de angústia, de esperança. Imagine para eles que fazem parte do grupo de risco e, mais do que todos, foram surpreendidos com a proibição de saírem de casa. É fato que muitos já não saíam tanto, mas, mesmo assim, a chegada de um novo vírus, assim sem avisar, assolando o mundo todo, gerou perplexidade. “Eu estou nessa idade e nunca vi uma coisa dessa. O caso é sério, mas não tenho medo de pegar, não estou saindo de casa, já não saía, embora sempre gostei de passear. Me preocupo sim com as outras pessoas, com famílias em que o vírus atingiu, me preocupo com quem já está passando necessidade, faltando comida. Tudo muito triste”, destaca Agmar Garcia, de 87 anos. Ela, que por longos anos esteve na linha de frente, atuando como enfermeira e ajudando a curar muitas pessoas, diz que hoje gostaria de poder fazer pelo próximo o que fazia em sua profissão.
Uma realidade que o senhor Vicente de Paula Silva também está encarando com reflexão. No alto dos seus 88 anos, com muita saúde e uma vida superativa, não teve jeito, precisou parar. “É difícil pelo fato de ser muito ativo e não por não poder sair, e também de não ter nada acontecendo na rua. Gosto de movimento e fazer minhas coisas”, disse.
É difícil ver o mundo todo como está, mas ele tem seguido as recomendações. “Sim, fico o máximo que posso, pois meu filho se responsabiliza pelo o que precisaria fazer na rua, como mercado, banco, coisas necessárias, mas que não precisariam ser ele a fazer, porque eu gosto. Ele me ajuda muito”, relata.
Não tem como fugir do medo. “Medo, expectativa. É ruim se afastar de familiares e amigos. Não poder abraçar minhas netas. É uma insegurança por todos, não só por mim. Me sinto com uma expectativa grande, tanto com a questão da solução, quanto a possibilidade do contágio. Fico muito triste em ver muitas pessoas sendo prejudicadas e em uma situação mundial não esperada”, avalia.
A terapia encontrada por Ana Maria da Silva, de 63 anos, foi o crochê e as costuras, que ela pratica em um cantinho do quintal, onde consegue ver a rua. “Sou uma idosa bastante ativa, eu que resolvia todas as minhas coisas como mercado, pagamento de contas e agora não posso. Eu mesma, às vezes, me pego chorando. Com minha idade nunca passei por isso, sempre fui ativa, sempre trabalhei, nunca parei em casa. Aí a gente se vê nessa situação, até fiquei doente, precisei ficar internada quatro dias, acho que foi de muito nervoso”, conta.
As atividades da rua tiveram que ser designadas. “Ainda bem que tenho uma pessoa comigo que não é tão idosa e está fazendo tudo como banco, lotérica. Minha filha também vem aqui na frente de casa, fica do lado de fora, passo as coisas que preciso e ela traz para mim. Na varanda tenho produtos como cloro, água sanitária, álcool. Quando ela precisa entrar se desinfeta antes, mas sem contato comigo, conversa de longe e sempre com máscara. Não tem preço conversar com quem a gente gosta, ficar sem ver é difícil, conversamos por telefone, mas não é como pessoalmente”, disse.
Entre suas reflexões, Ana ressalta a importância de pensar no próximo, mas lamenta que para muitos isso não acontece. “Não estão respeitando. A gente escuta os barulhos de festas, vê também pela televisão que as pessoas estão se reunindo, com aglomeração. Lamentável, porque se tivessem respeitando já teriam liberado para voltar a trabalhar. É triste a gente ver pai de família que, às vezes, não tem o que dar para os filhos comerem. A ajuda do governo não dá para sobreviver, pagar aluguel, comprar comida, gás, não dá”, desabafa.
A esperança é a chegada da notícia aguardada por todos. “A notícia que eu queria? Que o Covid acabou e a gente já pode sair, ter contato e viver em paz com todo mundo. A primeira coisa que quero fazer é ver meus netos e bisneto e poder abraçá-los, porque estou com muitas saudades. Tem dois netos que passam sempre aqui e perguntam como estou. Mas tenho dois pequenos que desde o começo não os vejo, só por telefone. Meu filho que é de Piracicaba vinha toda semana para almoçar comigo, mas agora também não dá e não nos vemos desde o início de tudo isso”, lamenta.
Mesmo com tantas incertezas, os conselhos de pessoas tão sábias são sempre bons e acalentam o coração.
“Tenho medo, mas é acreditar em Deus e se cuidar, esperar. Espero que tudo se resolva. Tenho muita esperança, tudo ficará melhor após isso. Acho que as pessoas darão mais valor à liberdade e também às coisas simples. No final tudo se resolve.” – Vicente de Paula Silva, de 88 anos.
“A gente ora para que passe e todo mundo fique bem. Eu acredito muito em Deus, tudo isso que está acontecendo estão nas passagens da Bíblia. Espero que passando tudo isso a gente tenha um mundo melhor. Eu acredito e confio.” – Ana Maria da Silva, de 63 anos.
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