O momento inédito que nossa geração está vivendo, com uma crise humanitária de proporções globais também deveria ser um momento de despertar da ciência nos corações das pessoas. Mas o que se vê, de um modo bem geral são desconfi anças, crendices e a insistência em confundir o que é científi co com opinião.
É comum ouvir alguém afirmar, por exemplo, que não “acredita” no Big Bang como a origem do Universo, ou que não acha que a Teoria da Evolução das Espécies seja verdadeira. Ambas afi rmações, para que sejam honestamente sustentadas, teriam de vir acompanhadas de provas científi cas que refutassem os modelos vigentes.
“Afirmações extraordinárias exigem provas extraordinárias”. As palavras de Carl Sagan reverberam como nunca.
As primeiras tribos de agricultores que viviam em pequenas aldeias no sopé de vulcões observavam a fúria de lava que a tudo e a todos destruía, a cada erupção. O fogo que saía das entranhas da terra era o mal. Igualmente a chuva, que vinha do céu era a benção, pois trazia água em abundância e fazia crescer as lavouras, trazendo fartura.
Separando-se um parte de tudo o que colhiam e dos animais que abatiam para consumo e levando aos pés do vulcão ou em campo aberto acreditavam acalmar a divindade que habitava as profundezas e trazia a chuva. E logo perceberam que o deus que trazia a chuva era mais poderoso que o que habitava as profundezas da terra, já que a água apagava o fogo e trazia abundância. Nascia aí ideia primitiva de céu e inferno.
Para os gregos antigos Sol girava em torno da Terra. E esse fenômeno ocorria porque segundo eles havia o deus Hélio que todos os dias levava o Sol em sua carruagem através dos céus. Era uma explicação razoável para um fenômemo observado todos os dias. E essa explicação vingou por alguns séculos. Hoje já sabemos que não é assim. Demorou-se para entender que é a Terra que gira em torno do Sol e que não há nenhum deus com uma carruagem no espaço.
A discussão do papel de Deus no Universo é antiga, muito antiga. Quando nossos antepassados não entendiam como funcionava a Natureza era mais simples atribuir a uma ou mais entidades sobrenaturais a explicação de como o mundo funcionava.
Entre os mais primitivos dos povos, não era apenas o deus que criou o Universo, mas o deus do vulcão, da chuva, etc. Havia uma divinização da Natureza. Com o passar do tempo passamos a entender o mundo e tudo o que existe de maneira mais racional, não apenas como manifestação sobrenatural, tentando evoluir usando a razão para entender um pouco as causas dos fenômenos que observamos ao nosso redor.
O produto dessa racionalização deu origem ao que hoje chamamos Ciência. E essa descoberta é comparativamente nova na longa história do homo sapiens. Há coisa de quatrocentos anos atrás descobrimos o método científico. Esse método para se estudar o Universo, o mundo a natureza é extremamente democrático. A maior qualidade da ciência é justamente a capacidade de se auto-refutar. Se um experimento mostra que tal explicação estava incompleta, passa-se a buscar a nova explicação para determinado fenômeno. Simples assim.
Durante mais de 300 anos a mecânica do Newton foi aceita como explicação para as forças e movimentos vistos em todo o Universo, tendo o tempo e o espaço como absolutos. Mas Einstein, com a descoberta da teoria da relatividade propôs um novo modelo baseado em experimentos que mostravam que a velocidade da luz era a maior das velocidades permitidas no Universo. Assim, com tempo e espaço podendo se dilatar e comprimir, a relatividade se tornou o modelo mais completo que o de Newton. E a cada dia os experimentos e evidências comprovam mais e mais isso.
Numa análise ingênua, a cada avanço da ciência Deus parece se tornar menos necessário para a explicação do mundo. Se hoje não se entende como surgiu a vida na Terra, atribui-se a Deus. Se há uma partícula que dá massa a toda a matéria existente, o bóson de Higgs, alguém se levanta e diz “mas quem criou a partícula?”, e responde “Deus”.
Em outro exemplo, o Big Bang, que deu origem ao Universo, atribuem o “bang” a Deus. Ah, mas o que existia antes do Big Bang?, muitos perguntam. E aí a Ciência parece falhar. Mas parece ser uma falha momentânea já que em toda sua história as ciências evoluíram, foram refutando antigas crenças e iluminando escuridões de conhecimento.
Um deus que está apenas nas lacunas, nos vãos onde a ciência ainda não alcança, parece ser um deus apequenado para quem verdadeiramente tem fé. A própria ciência, produto de nossa consciência, essa maneira tão precisa e detalhada que desenvolvemos para conhecer a natureza, podem ser vistos como um presente de Deus, por que não?
É preciso ter em mente o que Einstein dizia: “Só há duas maneiras de viver a vida: a primeira é vivê-la como se os milagres não existissem. A segunda é vivê-la como se tudo fosse milagre.”