Ninguém me tira da cabeça que a música influencia na formação do caráter da gente quando jovem e, mesmo antes, quando adolescente.Tem aquelas para as quais a gente sempre recorre quando precisa recobrar um sentimento adormecido, um acontecimento posto no porão da memória pela avalanche de sucessões ininterruptas de fatos do dia a dia que acabam escrevendo a nossa história.
Chame de saudosismo, nostalgia, lembranças, e talvez seja mesmo tudo isso. Há coisas que não morrem dentro de nós. O sentimento que a música nos proporciona é um deles. Não importa a medida que o tempo nos distancie dos acontecimentos marcados por aquelas músicas, aquelas. Sentimentos os quais vivenciamos ontem, logo ali. Talvez, há décadas. Mas que, por causa da música, a gente descobre que continuam muito vivos em nossos corações.
Não sei se vale como regra, se acontece com todo mundo, mas a gente começa a descobrir e a curtir música com o irmão mais velho. E a partir disso, a gente vai compondo o set list de nossas vidas. Isso também vale para as outras coisas essenciais da vida: o amor, por exemplo.
Porque a gente, de tanto ver os mais velhos, quer fazer igual e acaba fazendo, e porque quer viver igual acaba vivendo. E a música também influencia o nosso comportamento. Ela é estímulo e inspiração. Sobretudo, quando a gente deseja provar a si mesmo, aos pais, aos irmãos mais velhos e aos amigos mais chegados, que a gente também existe, ora bolas!
E por melhor seja a trilha sonora por nós escolhida para embalar as nossas tentativas, essas não costumam dar certo, de início, devido nossa inexperiência, nossa falta de jeito com as coisas e de tato com as pessoas. E a gente sempre esbarra ou cai de cabeça no ridículo, que a meu ver, é, certas ocasiões, essa outra coisa insana que psicólogos chamam de rito de iniciação.
Pois sim, rendo-me às evidências. Adolescentes, jovens, adultos ou idosos, beiramos o ridículo em alguns momentos da nossa pobre existência, cantando ou dançando sozinhos ou em público, em situações, digamos, constrangedoras, após alguns excessos etílicos ou meramente sentimentais, quando ouvimos determinadas músicas que de algum modo marcaram nossas vidas. Sim, ridículos. Que importa? Temos o direito de sê-lo. Desde que isso nos faça feliz.
Mas há situação pior, mais vexatória, embora não menos prazerosa. Beiramos o ridículo quando, por exemplo, ouvimos determinadas músicas já enterradas no subconsciente da maioria das pessoas com mais de 40 anos, o caso deste reles escriba, enquanto escreve essa porcaria de crônica que custa a sair ouvindo Peter Frampton – “Breaking All The Rules”. E na sequência: Journey: “Don’t Stop Believin”. É, meu velho, você já deveria saber: Hollywood é o sucesso! Boiou? Procura no almanaque!
Enfim, cá entre nós, quem garante, que os fatos inesperados da vida no dia de hoje, não nos levarão a terminá-lo, cantando, com aquela raiva sufocada pelo silêncio resignado das obrigações que nos são impostas: “If looks could kill”.
Haja coração, minhas colegas que já bateram na casa dos quarenta. Bom dia! E que seja mesmo bom, ouvindo música. Escolha a sua.
Por Geraldo J. Costa Jr.
Colaborador é escritor