Com muitos sentidos remetidos à sua significação que vão desde alusões metafóricas a autênticas escaladas espirituais, a montanha sempre teve ricas formas de interpretação. Na mitologia grega, por exemplo, o monte Olimpo era onde moravam os principais deuses do panteão.
O monte Sinai, considerado importantíssimo para o cristianismo, o judaísmo e o islamismo tem apenas 2.285 metros, contudo, segundo a Bíblia e a tradição judaica, foi o local em que Moisés recebeu as Tábuas da Lei e também a ordem para que fosse construída a Arca da Aliança, objeto cuja existência e paradeiro geram inúmeras e históricas controvérsias.
O que aconteceria caso Sísifo empurrasse a pedra até o topo da montanha e tivesse o castigo encerrado? O mito acerca da condição humana talvez fosse representado por outra alegoria que não a observada por Camus, por exemplo, acerca da constante realização de tarefas sem sentidos, que transforma a todos em uma espécie de heróis do absurdo.
O alto da montanha pode ser um local com final feliz ou infeliz, não sei. Às vezes, quando o desejo é muito, é criada uma relação de expectativa e prazer com relação ao desejado, que alça o indivíduo à própria sorte ou para o alto de uma montanha – o que muitas vezes pode significar a mesma coisa – e um grito afônico se torna atônito diante da conquista.
Àqueles que se propõem a subir uma montanha e optam pela busca escolhendo o desconhecido para chegar ao topo, recebem em troca a conquista. Porque é no alto da montanha, no incógnito, que está o sentido da jornada, ainda que não haja sentindo algum.
Entretanto, o alto da montanha é também o mais inconstante da jornada, pois o vento é mais forte e pode ocasionar desiquilíbrio. No entanto, ainda que a ideia de inconstância gere insegurança e uma possível queda, o medo é constituído para gerar ação e não o contrário.
Portanto, atenção! Suba a montanha e não tenha medo do que sentirá se quando chegar não houver um pote de ouro conforme desejado. Suba sem pensar. Aliás, para citar o poeta maior da música brasileira que também foi acometido pelo petismo, “aja duas vezes antes de pensar”. Existe uma frase, cuja autoria é desconhecida, que diz o seguinte: “Cuidado com o que você deseja, pode se tornar realidade”.
Não creio que seja produtivo tratar a realidade com um tom pessimista. Realista, sim! Pessimista, não! Acredito que, ao invés de “cuidado com o que deseja”, o correto seria “se prepare para o que deseja”.
Quando chegar, se chegar a hora, mesmo que todo o esforço e preparo não seja utilizado e ganhe luz ou opacidade, tanto faz. Tudo bem, o importante será sempre a caminhada. A literatura e a música apontam para o fato de que quando se chega ao topo de uma montanha, a sensação é de solidão. Talvez pela exagerada expectativa que foi criada e pelo quanto de preparação foi demandada.
A pergunta então é: o que fazer quando atingir o cume calmo – para citar outro poeta, esse ainda maior -, e por desventura perceber que nada é semelhante ao mais lindo daquilo que estava na imaginação? Vejo pelo menos duas opções: é possível ficar desiludido e voltar cabisbaixo e consternado observando os próprios passos; ou respirar e admirar aquilo tudo que há ali de divino e misterioso, pois o importante e imprescindível da escalada da montanha, acredito, é não perder a beleza da vista.
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