A epidemia de Covid-19 já é uma realidade global, e o Brasil sente seus efeitos: nosso dia a dia já mudou. O mundo está diante de uma das mais graves ameaças epidemiológicas desde a epidemia de H1N1 de 1918- 19, a conhecida gripe espanhola.
Para pesquisadores da Unesp, campus Presidente Prudente, Maria Encarnação Beltrão Sposi-to e Raul Borges Guimarães, não se trata de um problema de saúde pública nos mesmos moldes que outras pandemias geraram, mas de um novo desafio a ser enfrentado: a busca de Saúde Global. “Vivemos mais concentrados e a mobilidade espacial é, atualmente, muito maior do que a que tínhamos quando outras pandemias aconteceram, como a gripe espa-nhola ocorrida em 1918, que matou 50 milhões de pessoas.
Saímos mais de casa, compramos todos os bens e serviços de que precisamos para sobreviver (e muito mais do que o necessá-rio), fazemos muitas reuniões, temos diferentes tipos de lazer, em espaços públicos e priva-dos. Dependemos menos das relações familiares e rompemos os círculos da casa para alcan-çar os da cidade e do mundo.
Produzimos continuamente concentração e buscamos mobili-dade”, destacam os estudiosos do Departamento de Geografia. Dadas essas condições impostas pelo mundo contemporâneo, os pesquisadores explicam que estamos diante de uma pandemia inusitada. “O primeiro evento que se tem registro de magnitude mundial foi a Peste Negra, que assolou a Europa no século XIV e causou a morte de mais de 100 milhões de pessoas.
Houve também a Gripe Russa, que provocou febre ele-vada e pneumonia, tendo como resultado 1,5 milhão de mortes no período de 1889-1890, além da já mencionada Gripe Espanhola.
No entanto, a pandemia da Covid-19 foi a primeira do mundo globalizado, o que já vinha sendo anunciado por outras doenças que surgiram re-centemente (quem não se lembra da apreensão que causou o surgimento da gripe suína, em 2009-2010; da gripe aviária, em 1997 e 2004; da Sars, em 2002?).
O fato da pandemia da Covid-19 ser a primeira do mundo globalizado chama a atenção para vários outros aspectos”, apon-tam. “Nem é preciso lembrar que as maiores distâncias que este vírus já percorreu em pouco tempo deveu-se à circulação aérea, o que favoreceu sua difusão por vários continentes.
Tendo ele chegado ao Brasil, entrando por São Paulo, tornou vulneráveis aqueles que moram na maior metrópole do Hemisfério Sul e, a partir daí, já se movimentou atingindo outras cida-des e estados da federação”, reforçam os pesquisadores, que dizem ainda que esta seja, talvez, a primeira de muitas outras pandemias que estão por vir e “isso passará a ser uma característica da vida social à qual teremos de nos adaptar”.
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