Dados da CAPES comprovam o crescimento da presença feminina na ciência e na pós-graduação brasileiras. Além de ser a maioria entre os bolsistas – 57% –, elas representam 53% do total de matrículas nos cursos stricto sensu. Dos 364 mil alunos de mestrado e doutorado, 195 mil são mulheres. Na última edição do Prêmio CAPES de Tese, o número de vencedoras nas 49 áreas de conhecimento passou de 18, em 2018, para 22 em 2019. Nessa mesma edição, dois dos três principais prêmios foram recebidos por pesquisadoras.
Apesar do crescimento das mulheres no ensino superior, há ainda uma defasagem em áreas historicamente encaradas como masculinas, com destaque para a área de exatas e tecnologias. No Brasil, 25% das graduandas brasileiras escolhem estudar educação, enquanto 19% dos graduandos homens escolhem engenharia, produção e construção.
Segundo a graduanda em Física da Unesp Rio Claro Angélica Barracco, a proporção de mulheres na área ainda é pouca, já que para cada cinco homens, existe uma mulher.
“Existe um machismo muito forte que impõe que esta é uma área masculina, então muitos homens acreditam que mulheres não fazem ciência. Além disso, algumas mulheres abandonam a carreira científica quando têm filhos, porque a pós-graduação e pós-doutorado não têm licença maternidade”, declarou.
A professora de matemática Quédima Carlevaro conta que quando cursou eletromecânica no Senai, sua turma contava apenas com duas meninas. Para ela, existem algumas barreiras que afastam as mulheres das áreas de exatas.
“Quando entramos em áreas que são consideradas ‘masculinas’, lidamos com uma pressão diferente, além da pressão normal do curso, tem a social, quando escutamos de muitas pessoas: ‘Será que ela vai conseguir?’, ‘Tem certeza que está no lugar certo?’. Acredito que isso se torna uma barreira para algumas mulheres e afastam-nas dessas áreas”, comentou.
Para a pesquisadora Tabita Santos, mestre em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela UFSCar, o processo é um ciclo vicioso. “Historicamente, mulheres foram impedidas de estudar e de ocupar postos de destaque na academia. E, às vezes, quando elas quebravam todas essas barreiras e faziam diferença, tinham seus nomes sobrepostos. Se não me engano, Albert Eistein, por exemplo, criou grande parte de sua teoria da relatividade junto com sua esposa.
Ela também era uma física brilhante. Li em algum lugar que ele dividiu o prêmio com ela. Mas o nome dela foi esquecido pela história. A representatividade feminina está em desvantagem nesses campos. Isso faz com que as mulheres da atualidade acreditem que aquele lugar não lhes pertence. Acredito que isso esteja diminuindo, mas toda reparação história é muito longa”, relata.
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