Ela é paulistana, porém viveu mais de oito anos em Rio Claro, onde se formou em Pedagogia pela Universidade Paulista (Unesp) e se especializou em vários cursos importantes para sua carreira. No currículo, extenso, consta Pedagoga, especialista em Musicalização Infantil e pós-graduada em “Special Education” pelo Asian College of Teachers, no Sudeste Asiático.
Também com formação livre em Musicalização Infantil e Instrumentação em Orff pela EMESP, e “Musicalização através da flauta doce” pelo “Sopro Novo Yamaha”.
No Brasil, casou, teve uma filha e até escreveu um livro “Música e Ação na Educação Infantil Orientações e atividades didáticas para o professor”, pela editora Ciranda Cultural. A obra, já com grande repercussão nacional, orienta educadores sobre o que é o trabalho de Musicalização Infantil, sua importância e indica conteúdos a serem trabalhados em sala de aula, com sugestões também de atividades práticas.
A pedagoga e escritora Mirella Aires Alves Silva estava super realizada na profissão, ministrando workshops de Musicalização Infantil pelo Brasil, inclusive dois deles em Rio Claro. Até que no começo de 2018 tudo mudaria em sua vida. A proposta do trabalho do marido, que é engenheiro agrônomo, chegou de surpresa e não foi fácil para ela tomar a decisão de se mudar com a família para um outro continente.
Ela vive hoje em Singapura, no sudoeste asiático. O coração apertou quando pensou que teria que abandonar todo o seu conhecimento ou não vivenciar sua cultura. Mas Mirella se empoderou da situação e começou a trilhar uma nova história. “Eu tinha a opção de ser a vítima de uma situação, sabe? Não ter trabalho pra mim aqui, não ser fluente no inglês, deixar minha carreira (com livro lançado, dando workshops, lecionando), mas eu preferi tentar descobrir como ser protagonista de algo novo.
Aí descobri o português como língua de herança e a necessidade de manter minha filha no português, sem perder sua identidade cultural. Não abandonei meus planos para acompanhar meu marido. Estou reinventando a minha profissão, buscando trilhar um caminho tão diferente do que havia traçado”, relatou a pedagoga.
DESAFIO
Foi aí que a especialista decidiu, com o seu conhecimento como pedagoga e educadora musical, desenvolver uma forma de colaborar com o trabalho de professores pelo mundo, que ensinam português a crianças que não vivem no Brasil, mas têm sangue brasileiro. “Fiz uma pesquisa, desenvolvi um material de musicalidade aliada ao trabalho de Português como Língua de Herança pelo mundo”, relatou.
Após isso, realizou oficinas em Dubai pelo Elo Europeu de Educadores e Londres no Espaço da Kingston University, pelo BREACC (Brazilian Educational and Cultural Centre). No ano passado, também foi convidada pela embaixada do Brasil em Singapura para uma oficina de vivências musicais brasileiras para crianças. “Eu sou apaixonada pelos benefícios da educação musical na vida da criança, posso colaborar com este trabalho. Existem escolas de POLH (Português como Língua de Herança) em muitos países.
Sinto que minha missão é colaborar com esse trabalho aliando ao poder das vivências musicais. Fui convidada a representar o Elo Europeu de Educadores de POLH em Singapura. Isso me motivou a começar um projeto de Musicalização, Artes e POLH aqui em Singapura”, destacou.
Ela conta que está desbravando e descobrindo como fazer um trabalho pra enaltecer a musicalidade e cultura brasileira. “O mais desafiador não foi toda a formação e sim não desistir da minha vida profissional. Essa reinvenção toda me ensinou um novo ‘universo’ e como eu posso colaborar com meu trabalho e servir comunidades brasileiras fora do Brasil. Eu sou apaixonada por este trabalho”, enalteceu.
CHOQUE CULTURAL
Pela frente, ela e a família tiveram que encarar um grande choque cultural. “Singapura é um dos países mais evoluídos do mundo, qualidade de vida e educação de ponta. Mas eu não sabia de nada como seria. Porque as vezes você pode estar num lugar maravilhoso, mas não se sentir feliz. Viver em Singapura tem sido um grande e maravilhoso desafio, mas trazer nossa musicalidade, cultura é mais um grande privilégio.
Compartilhar as vivências musicais brasileiras com educadores de outros países tem confirmado ainda mais a importância deste trabalho não apenas no desenvolvimento das crianças, mas na manutenção da nossa cultura brasileira e do Português como Língua de Herança. Estou apenas começando, mas sei que tem muito o que fazer e este será o meu caminho daqui em diante”, afirmou Mirella.
Mirella
“Estou muito feliz por ter encontrado esse caminho. A cultura brasileira não pode se perder na vida de quem precisa viver fora do Brasil. E o mundo precisa conhecer nossa riqueza cultural, nossos talentos”
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