As primeiras tribos de agricultores que viviam em pequenas aldeias no sopé de vulcões observavam a fúria de lava que a tudo e a todos destruía, a cada erupção. O fogo que saía das entranhas da terra era o mal. Igualmente a chuva, que vinha do céu era a benção, pois trazia água em abundância e fazia crescer as lavouras, trazendo fartura.
Separando-se um parte de tudo o que colhiam e dos animais que abatiam para consumo e levando aos pés do vulcão ou em campo aberto acreditavam acalmar a divindade que habitava as profundezas e trazia a chuva.
E logo perceberam que o deus que trazia a chuva era mais poderoso que o que habitava as profundezas da terra, já que a água apagava o fogo e trazia abundância. Nascia aí ideia de céu e inferno. Para os gregos antigos Sol girava em torno da Terra. E esse fenômeno ocorria porque segundo eles havia o deus Hélio que todos os dias levava o Sol em sua carruagem através dos céus.
Era uma explicação razoável para um fenômeno observado todos os dias. E essa explicação vingou por alguns séculos. Hoje já sabemos que não é assim. Demorou-se para entender que é a Terra, redonda (é bom que se diga!), que gira em torno do Sol e que não há nenhum deus com uma carruagem no espaço.
A discussão do papel de Deus no Universo é antiga, muito antiga. Quando nossos antepassados não entendiam como funcionava a Natureza era mais simples atribuir a uma ou mais entidades sobrenaturais a explicação de como o mundo funcionava. Entre os mais primitivos dos povos, não era apenas o deus que criou o Universo, mas o deus do vulcão, da chuva, etc.
Havia uma divinização da Natureza. Com o passar do tempo passamos a entender o mundo e tudo o que existe de maneira mais racional, não apenas como manifestação sobrenatural, tentando evoluir usando a razão para entender um pouco as causas dos fenômenos que observamos ao nosso redor. O produto dessa racionalização deu origem ao que hoje chamamos Ciência. E essa descoberta é comparativamente nova na longa história do homo sapiens. Há coisa de quatrocentos anos atrás descobrimos o método científico.
Esse método para se estudar o Universo, o mundo a natureza é extremamente democrático. A maior qualidade da ciência é justamente a capacidade de se auto-refutar. Se um experimento mostra que tal explicação estava incompleta, passa-se a adotar a nova explicação para determinado fenômeno. Simples assim.Durante mais de 300 anos a mecânica do Newton foi aceita como explicação para as forças e movimentos vistos em todo o Universo, tendo o tempo e o espaço como absolutos.
Mas Einstein, com sua teoria da relatividade propôs um novo modelo baseado em experimentos que mostravam que a velocidade da luz era a maior das velocidades permitidas no Universo. Assim, com tempo e espaço podendo se dilatar e comprimir, a relatividade se tornou o modelo mais completo que o de Newton.
E a cada dia os experimentos e evidências comprovam mais e mais isso. Numa análise ingênua, a cada avanço da ciência Deus parece se tornar menos necessário para a explicação do mundo. Se hoje não se entende como surgiu a vida na Terra, atribui-se a Deus. Se há uma partícula que dá massa a toda a matéria existente, o bóson de Higgs, alguém se levanta e diz “mas quem criou a partícula?”, e responde “Deus”.
Em outro exemplo, o Big Bang, que deu origem ao Universo, atribuem o “bang” a Deus. Ah, mas o quê existia antes do Big Bang?, muitos perguntam. E aí a Ciência parece falhar. Mas parece ser uma falha momentânea já que em toda sua história as ciências evoluíram, foram refutando antigas crenças e iluminando escuridões de conhecimento. Um deus que está apenas nas lacunas, nos vãos onde a ciência ainda não alcança, parece ser um deus apequenado para quem verdadeiramente tem fé.
A própria ciência, produto de nossa consciência, essa maneira tão precisa e detalhada que desenvolvemos para conhecer a natureza, podem ser vistos como um presente de Deus, por que não? Por que provoca tanto dizer que tivemos um ancestral comum e que a evolução das espécies se encarregou de dar origem a essa gigantesca diversidade de seres vivos na Terra? Por que isso, ou o Big Bang não podem ser vistos, conhecidos e sentidos como se fossem milagres? Afinal as evidências são cada vez maiores.
Mesmo porque a ciência não tem como objetivo explicar ou negar a Deus. A ciência explica como as coisas acontecem, não o porquê. E as maravilhas da natureza formam um todo cheio de mistério em sua essência, ainda que explicável por A mais B. É preciso ter em mente o que Einstein dizia: “Só há duas maneiras de viver a vida: a primeira é vivê-la como se os milagres não existissem. A segunda é vivê-la como se tudo fosse milagre.”