Um projeto desenvolvido pelo Centro de Estudos de Insetos Sociais (CEIS) do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro, em parceria com a rede municipal de ensino, levou um formigueiro para dentro da sala de aula. O objetivo foi apresentar aos alunos o universo das formigas e a importância delas para o meio ambiente.
A unidade 2 da Escola Municipal de Ensino Fundamental Marcelo Schmidt foi a primeira a integrar o programa com a participação de alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), com idade entre 15 a 40 anos, e da sala de Educação Especial, que recebe jovens de 12 a 15 anos com alguma deficiência.
“Já temos um projeto em que, regularmente, abrimos nosso laboratório para visita das escolas municipais. Essa é a primeira vez que fazemos o caminho contrário e a experiência é muito positiva. Na escola, além do conhecimento científico que passamos, cada disciplina pode ser trabalhada na prática com o formigueiro”, ressalta o professor Odair Correa Bueno, responsável pelo Laboratório de Formigas Cortadeiras do CEIS, um dos programas que conta com gestão financeira da Fundação para o Desenvolvimento da Unesp (Fundunesp).
Segundo a vice-diretora da escola, Valquíria Alves, projetos paralelos foram desenvolvidos em todas as disciplinas. “Conseguimos trabalhar o tema de diversas maneiras, como em matemática, quando os alunos montaram planilhas com gráficos da quantidade de alimentos que as formigas recolhiam. Já em artes, o professor trabalhou na confecção da logo do projeto. Em todas as disciplinas tivemos atividades”, explica.
Aprendizado
O programa teve início em março de 2019, quando os alunos passaram a ter palestras sobre as formigas e como é o trabalho desenvolvido no CEIS. Em seguida, uma sala disponibilizada pela escola foi adaptada para receber o formigueiro.
“Oferecemos quadros informativos, com desenhos e também o ar-condicionado para manter a sala em clima estável para os formigueiros. Trouxemos dois, um maior, que logo vamos fechar com vidro, e outro no modelo vitral, que permite melhor observação”, destaca o técnico de laboratório do CEIS José Henrique, responsável por ministrar as palestras e coordenar o projeto na escola.
Um dos objetivos da parceria foi melhorar a imagem ruim das formigas, muitas vezes vistas como pragas. José Henrique ressalta que, apesar de temidas por sua fama de destruidoras de plantações, elas também são relacionadas com a dispersão de sementes e aeração e incorporação de matéria orgânica ao solo.
“É preciso conhecer para respeitar. Não é fácil falar para um aluno respeitar aquilo que ele não conhece. Por isso, a ideia é mostrar que mesmo um inseto tão pequeno é muito importante ao meio ambiente. Todos têm sua importância”, acrescenta.
Conhecimento
De acordo com o professor Odair Correa Bueno, além de trabalhar alimentação, habitat, hábitos, reprodução e variedades de espécies, o projeto com o formigueiro desenvolve a vida social. O docente lembra que cada formiga possui uma função bem definida dentro da colônia e que todas as tarefas são bem divididas.
“Há formigas que são responsáveis pela segurança, as que constroem os túneis do formigueiro e buscam alimentos, as que cuidam das larvas e a rainha. O trabalho conjunto é tão perfeito que um formigueiro pode existir por anos, com cada indivíduo tendo sua participação no sucesso e manutenção da colônia”, salienta.
Para a vice-diretora Valquíria Alves, o projeto, que deve chegar a outras escolas da rede municipal em 2020, foi transformador. “Foi fundamental para que nossos alunos desenvolvessem compromisso e trabalhassem de uma maneira multidisciplinar. Hoje, eles podem transmitir o conhecimento sobre a sociedade das formigas e o quanto podemos aprender com elas”, conclui.
Foto: Divulgação/Unesp