Sorrateira, silenciosa, astuta e potencialmente fatal. Conforme a Organização Mundial de Saúde, até este ano, a depressão se tornará a doença mais incapacitante em todo mundo. Um problema para governos, autoridades e setores da saúde, mas, principalmente para quem desenvolve a doença.
No campo das artes a lista de pessoas depressivas, ao longo da história, vai desde o bailarino Nijinsky, passando pelo poeta Lorde Byron, o pintor Van Gogh, e a atriz Marilyn Monroe. Pouco? A lista continua, é extensa, dela também fazem parte o pintor espanhol Goya; o político Sir Winston Churchill, o poeta Charles Baudelaire, e muitos outros. Como, por exemplo, Ian Curtis, líder da banda inglesa de punk/rock, Joy Division, morto aos 23 anos, em 1980, no auge da fama; e Kurt Cobain, da lendária Nirvana que dispensa apresentações. E, não bastasse, entre nós, Renato Russo, da banda Legião Urbana, que, embora não tenha pendurado uma corda no pescoço como Curtis, deixou-se vencer pela depressão em decorrência da doença que enfrentava.
Na Literatura de ficção, seria preciso escrever um tratado à parte. Mas, ei-los, com todo o seu brilhantismo e estupidez. Rigaut, Vaché, Crevel, Zweig, Nava, Yesenin, Maiakovski, József, Kleist, Mishima, Celan, Trakl, Sá-Carneiro, as senhoritas Wolff, Plath e Cristina; Quental, Camilo, e titio Ernie, sobre o qual, tenho lá minhas dúvidas por motivos bastante plausíveis, mas, enfim, essa é a meia-verdade que ficou para a História.
Uma das características do que se convencionou denominar “Mal do Século”, a depressão serviu de mote para romances como ‘Os Sofrimentos do Jovem Werther’ (1774), de Goethe que, à parte o extraordinário valor literário, produziu um sem número de suicídios entre seus leitores.
Mas a depressão não é privilégio dos mais cultos. Ela ataca a todos indistintamente. Basta que encontre portas abertas na mente e no coração de pessoas insatisfeitas com a vida, ou que se acreditam incapazes de conviver com problemas aparentemente sem solução.
O ritmo de vida ao qual todos estamos submetidos pode gerar frustrações de toda sorte que se torna campo fértil para germinar e propagar a depressão.
Do desinteresse contínuo e progressivo pelas coisas em seu redor e por si próprio, passando pelo isolamento, podendo chegar ao ato extremo de abdicar da própria vida, a depressão induz quem dela padece a percorrer um longo e destrutivo caminho.
Inconscientemente ou não o homem contemporâneo busca resultado imediato para projetos pessoais, esquecendo-se, muitas vezes, que, da concepção de uma ideia ao seu pleno êxito, é preciso tempo e muito trabalho, além de conhecimento adquirido, espírito de superação, persistência e esforço constante.
A vida humana é altamente competitiva nos dias atuais estabelecendo ganhadores e perdedores, sujeitos a verdades efêmeras e mentiras intoleráveis. Os primeiros, tendem a nunca se acharem satisfeitos, contrariando o que sugeria Demócrito, filósofo grego. E os últimos, que jamais serão capazes de alcançar o topo da montanha. São, portanto, depressivos em potencial.
Dados da Organização Mundial de Saúde apontam que a depressão é mais comum no sexo feminino, atingindo, segundo estimativas, 3,92% das mulheres e 1,9% dos homens. Sendo que a depressão contínua afeta de 15% a 20% das mulheres e de 5% a 10% dos homens.
Constitui-se problema fundamental a ser enfrentado, o fato que 2/3 das pessoas depressivas não recorrem a tratamento médico.
Segundo especialistas, a maioria dos pacientes acometidos de depressão e não tratados tentará o suicídio pelo menos uma vez, sendo que destes, cerca de 17% chegarão a óbito.
Se tratado corretamente, por profissionais qualificados, a depressão pode ser curada em 70% a 90% dos casos.
Oficialmente, a depressão é classificada como distúrbio bipolar, cujas características variam desde fases de euforia até extrema irritabilidade. Sua causa não é totalmente conhecida. Especula-se que aconteça devido desequilíbrio bioquímico dos neurônios responsáveis pelo controle do estado de humor. A possibilidade de causa genética para a ocorrência da depressão não está descartada.
Mas nem tudo são espinhos. O Centro de Valorização da Vida (CVV) através do fone 188, atende 24 horas, as pessoas que desejam conversar. Ser escutado pode funcionar como um paliativo para que pessoas depressivas se sintam melhor.
Para evitar a depressão ou mesmo superá-la, alguns terapeutas indicam a meditação que, se bem orientada e feita corretamente, pode proporcionar resultados satisfatórios.
O contato com a natureza e, a ocupação com atividades lúdicas como o artesanato, o desenho e a pintura podem produzir efeito preventivo e amenizador. Já a doutrina espírita, na sua vasta literatura disponível, sugere que a prática da caridade pode ser bastante útil, por se tratar de um caminho de mão dupla: faz bem àquele que a recebe e, sobretudo, àquele que a pratica. Não custa experimentar.