A música, em especial o universo sertanejo, se despediu de 2019 com muito pesar e tristeza. O cantor e compositor Juliano Cezar, praticamente às vésperas da virada do ano, sofreu um infarto fulminante no momento em que realizava um show no Paraná. O artista chegou a ser socorrido, mas, aos 58 anos, não resistiu.
Em julho, o jornalista Paulo Henrique Amorim, aos 76 anos, também foi acometido por um infarto em sua residência, no Rio de Janeiro, e veio a falecer.
No mês de setembro, Danilo Feliciano de Moraes, filho do ex-jogador Cafu, foi vitimado por um infarto enquanto jogava futebol com os amigos na grande São Paulo e morreu a caminho do hospital.
Três casos de pessoas com idades distintas e que perderam a vida devido ao mesmo mal.
Trata-se de algo que muitos temem e que gera grande preocupação, independentemente da faixa etária. Dúvidas sempre surgem quando casos como os mencionados vêm à tona e repercutem, gerando comoção. O que causa uma morte súbita? Há meios de evitá-la? Com o intento de elucidar essas e outras questões, além de explanar acerca de males que podem levar à morte de modo abrupto, o Diário do Rio Claro conversou com o cardiologista João Clima da Silva.
O profissional expõe que dentre as principais causas da ocorrência da morte súbita, o coração, como nos casos acima aludidos, está no centro delas. Clima explica que é sabido pela ciência que a morte decorre de um fenômeno elétrico. E discorre: “A fibrilação ventricular se constitui na principal forma de arritmia complexa que leva à morte. Esta arritmia comumente ocorre em corações estruturalmente doentes, como, por exemplo, após infarto do coração. Entretanto, pode ocorrer, também, em pacientes aparentemente assintomáticos, mas portadores de alterações cardíacas com base genética.”
O especialista destaca, dentre outras, a cardiomiopatia hipertrófica, muito prevalente em nossa população, e a síndrome de Brugada, endêmica nos países asiáticos, descrita a partir de jovens, na sua maioria homens, da Tailândia, que morriam durante o sono. “Eram conhecidos como as vítimas de bangungut, retratado em 1894 na obra Le Cauchemar – O Pesadelo, de Eugene Thivier”, menciona.
De acordo com ele, outra forma de morte súbita muito prevalente é o tromboembolismo pulmonar onde, a partir de trombos formados em membros inferiores ou pélvicos de pacientes acamados, vítimas de traumas ou outras enfermidades como o câncer, gestantes, obesos, portadores de varizes, etc, tornam-se suscetíveis à trombose e migração destes trombos até o pulmão. “Vale ressaltar que todas estas formas de morte súbita podem ser evitadas a partir da avaliação médica cuidadosa com a identificação e prevenção dos possíveis fatores desencadeantes”, afirma.
Conforme o cardiologista, exceção às causas de morte súbita tendo doenças cardíacas pré-existentes, o trauma direto sobre o peito, não menos importante em termos de incidência, conhecido como “commotio cordis”, pode desencadear arritmia cardíaca fatal em atletas jovens saudáveis. “Na linha da prevenção, algumas modalidades desportivas necessitam de coletes de proteção, como o basebol, entre outros. Existem modelos experimentais que comprovaram este efeito. Este modelo explica o risco de algumas atividades desportivas, onde uma simples acotovelada ou pesada sobre o tórax pode levar à morte. No entanto, em se tratando de morte súbita na população em geral, da quarta ou quinta décadas de vida, o infarto agudo do miocárdio é, sem dúvida, a principal causa”, assevera o profissional, que acrescenta que, diferentemente do que muitas pessoas acreditam, a obstrução dos vasos que irrigam o coração, doença conhecida como aterosclerose, isto é, formação de placas de gordura que levam ao entupimento das artérias que nutrem o coração, não se dá do dia para a noite, já que o desenvolvimento da aterosclerose ocorre insidiosa e silenciosamente ao longo de anos ou até décadas, e a primeira manifestação, em termos de sintomas, pode ser a morte súbita. “Nem sempre o paciente irá apresentar o quadro típico de manifestação de infarto, como sintomas de dor em aperto no peito associado à sudorese fria, palidez, náuseas ou vômitos”, alerta.
Neste contexto, o médico pondera que pode-se dividir a prevenção em duas categorias: a primeira, voltada à orientação dos pacientes quanto à prevenção da aterosclerose através da adoção de medidas que proporcionem melhoria no estilo de vida: alimentação saudável em horários adequados, práticas regulares de atividades físicas, combate ao tabagismo e à obesidade, administração do estresse diário e controle dos demais fatores de risco como hipertensão, diabetes e colesterol alto. A segunda categoria de prevenção aos pacientes com carga elevada de fatores de riscos e que possivelmente já sejam portadores em graus variados de aterosclerose. “Estes podem necessitar, além da avaliação médica pormenorizada de sua condição individual quanto ao risco de morte súbita, da realização de exames mais específicos, tais como teste ergométrico, usom doppler de carótidas, angiotomografia de coronárias, cateterismo cardíaco, entre outros.” Segundo Clima, compreende-se, desta forma, que a morte súbita pode, sim, ser evitada a partir dos esforços conjuntos e contínuos do médico assistente e do próprio paciente. Por fim, ajuíza: “A expressão popular de ‘para morrer, basta estar vivo’, aos olhos da medicina moderna, pode perfeitamente ser substituída pela expressão ‘o seguro morrerá de velho’.”
Cardiologista João Clima da Silva expõe que dentre as principais causas da ocorrência da morte súbita, o coração está no centro delas