Começo sempre com a folha em branco, com as letras e pontuações sempre nas mesmas posições no teclado, com a cabeça sempre sobre os ombros e vendo as narrativas sempre buscando distorcer os fatos. Aprendi com tempo que é difícil escrever frases válidas com as palavras “sempre, nunca, tudo e nada”. Acredito que consegui com aquela acima.
Meus pensamentos poluem a página, embaralham o teclado e minha cabeça sofre para ficar presa ao objetivo, com tantos fatos sendo agredidos. Mas após alguns minutos (muitos, às vezes), as palavras entram nos trilhos. Bastante comum também é o texto estar quase todo pronto, armazenado em algum canto do cérebro, bastando confirmar alguns dados que alimentaram minhas convicções.
Escrever é um exercício tão valorizado quanto ter um filho e plantar uma árvore. Mas há controvérsias. Melhor não plantar um abacateiro num estacionamento de veículos; se não puder amar, evite ou repense o projeto de ter uma criança; e vemos “escrevedores” cheios de ódio, espancando a realidade e alimentando a turba, notadamente nas redes sociais. Mas não deixa de ser altamente recomendado que se executem essas tarefas com convicção e empatia.
Lembro então de Max Weber, em sua tese sobre a diferença entre a ética da convicção e a ética da responsabilidade. Resumindo, sem compromisso com nuances, a primeira é o conjunto de valores e normas que norteiam o comportamento do político (sem esquecer que somos seres políticos) na esfera privada. A outra, representa o conjunto de valores e normas que norteiam as decisões do político enquanto governante. Caso você não tenha entendido muito bem a diferença, não se preocupe, o Jair também não.
Talvez a imagem da pedra e da vidraça represente bem o funcionamento desta dinâmica. É fácil concordar com a teoria do aparelhamento e aprisionamento dos defensores da causa dos negros (pretos?) por ideologias que acabam por criar ainda mais arestas e fissuras na sociedade. A solução então é indicar para a Fundação Palmares um negro que açoita os defensores da causa? Sim, há defensores da causa de todas as cores de pele, todos humanos.
Li (e recomendo que leiam) o artigo do amigo Alexandre Schneider, ex-secretário da educação da cidade de São Paulo, na Folha do dia 12/12. Coloca dados para conversar sobre a terrível ocorrência havida em Paraisópolis.
Vê-se a falta de empatia por grande parte da sociedade quando tratamos de assuntos como este. E ter empatia, não é concordar com as letras da música Funk, não é achar bonitinha a menina com roupa e idade miúdas rebolando até o chão, não é achar agradável atrapalhar a vida da vizinhança com som altíssimo, elevado consumo de drogas e violência sexual. Ter empatia é entender, compreender o outro, o fato, o contexto, o ocorrido, as alternativas, os gatilhos, os sentimentos, as necessidades.
No privado, pessoas vão continuar segregando nos elevadores dos condomínios e dançando funk até o chão. Entender é o primeiro passo para agir com a ética da responsabilidade.