Os ensinamentos que minha mãe me passou não nasceram de frases, mas de atitudes. Alguns deles em situações pontuais, outros divididos em períodos mais longos. Foi minha mãe quem, de certa forma, me incentivou a amar esportes, pois sempre disse que achava a natação o mais bonito de todos (quando vejo Michael Phelps, me lembro dela). Ela quem me ensinou a amarrar os cadarços, me passou o gosto por chocolates e me ajudou a desenvolver os estudos quando me “tomava” conteúdo perto das avaliações.
Foi com ela que aprendi que todo carro deveria reduzir a velocidade quando, em dias chuvosos, passasse próximo a pedestres: com meus 8-9 anos, algum colega de escola contou que seu pai ou mãe “deu um banho” em alguém que passava pela calçada, eu pedi que ela fizesse o mesmo, e ela me disse que podia ser alguém indo pro trabalho, visitar um parente no hospital, etc. Aqui, no entanto, quero falar de ensinamentos mais profundos e perenes.
“O que é dos outros não se deve ter”
Nos anos 90 havia a febre dos álbuns: Campeonato Brasileiro e Copa do Mundo eram os mais procurados. Eu, sempre fã de Basquete, colecionei as figurinhas das temporadas da NBA de 95-96. Não eram muitos os colegas que faziam o mesmo – eram raros, como são os que se interessam por outros esportes além do futebol, no Brasil.
Dentre meus amigos próximos, somente o filho de um casal amigo de meus pais também colecionava. Certa noite, fomos à casa deles. Ele me mostrou seu álbum, já quase completo, e o monte de repetidas ou que simplesmente resolveu guardar. Em algum momento que ele ausentou-se brevemente, peguei uma boa parte das figurinhas e guardei-as em minha mochila. Era meu primeiro furto.
No dia seguinte, empolgado, comecei a adesivar a janela de meu quarto, a agenda, o caderno, etc, além de colar no álbum algumas que não tinha.
Sempre atenta a tudo que envolve seus filhos, minha mãe percebeu facilmente que não eram minhas, já que eu não estava com dinheiro para comprá-las: de modo sutil e direto, me fez contar como e onde “consegui” as figurinhas. Eu disse que “o Fábio me deu”.
O que ela fez foi ir comigo à banquinha de jornal e comprar pacotes novos de figurinhas, em número igual ao daquelas que eu havia pegado, e dá-las a ele, admitindo o “empréstimo sem pedir”. Foi meu último furto.
“A fé sem obras é uma fé morta”
Lições e ensinamentos não são dados somente em situações pontuais. Elas podem acontecer na forma de exemplos, atitudes silenciosas que, no devido tempo, chamam atenção. Durante todo o período que vivi com meus pais, de criança até a fase adulta, eu podia escutar pela manhã a voz de minha mãe: ela estava nos corredores orando por seus filhos, impondo as mãos nas paredes enquanto dizia as palavras.
Mas suas demonstrações de fé não foram da boca pra fora. Algumas vezes, acompanhando-a até certo ponto a contragosto, fomos visitar uma instituição que cuida de menores abandonados. Eu via a forma como as crianças, em especial as meninas, a abraçavam e gritavam seu nome.
À época, obviamente eu não entendia o que aquilo significava, mas o tempo me ensinou que não se tratava apenas de doação de roupas que meu irmão e eu já não usávamos, ou brinquedos que não gostamos.
Tudo que busquei e conheci em minha vida, seja na Igreja ou no trabalho voluntário, tem sua semente nas orações e nas ações de minha mãe. Espero conseguir transmitir de maneira tão sutil ensinamentos como esses a meu filho Vicente, e fazer valer o título deste texto