A vida de Fabricio Fernando da Costa, de 36 anos, ganhou um novo sentido, depois de viver por 13 anos como usuário de drogas. O vício foi substituído pela palavra de Deus e pela leitura. Há um ano e meio recuperado, ocupa seu tempo com os livros e na missão de ajudar outras pessoas. “Eu gosto de ler e hoje moro aqui na comunidade em que me recuperei. Eu quis trabalhar um pouco para Deus, porque fiz muito para o mundo, quis ficar aqui para ajudar, privo da minha vida para trabalhar, viver a vida com Deus”, relatou o ex-dependente químico.
Ele contou ainda que entrou no mundo das drogas por influência de amigos. “Um colega meu ofereceu, companhias e lugares errados. Me arrependo, perdi anos da minha vida. Usava cocaína, cigarro e bebida. Hoje que estou recuperado, sinto orgulho. É gratificante, a família se preocupa comigo, hoje tenho importância para as pessoas, antes não existia. O meu conselho é para as pessoas não experimentarem. É o fundo do poço”, alertou Fabrício.
Ele é morador e trabalha na Comunidade Terapêutica Manassés, criada no final de 2014 pelo fundador, Robson Aparecido Sentoma que, depois de viver 15 anos como dependente químico, resolveu mudar de vida, sair das drogas e ajudar outras pessoas na mesma situação. “Há 10 anos, eu era dependente químico, usava droga e morava na rua, em situação de usuário de crack.
Passei por um processo de tratamento em uma comunidade de Catanduva. Quando voltei para Rio Claro, fui trabalhar em uma empresa da cidade e comecei, na minha folga, a desenvolver um trabalho de ajudar os que estavam na mesma condição em que eu estive um dia. Depois de quatro anos, começou o desejo de montar uma comunidade e assim surgiu a Manassés”, contou o fundador
Para ele, a droga chegou como para muitas pessoas: pela curiosidade. “Comecei a usar a maconha e a porta para muitos dependentes é a maconha, mas a busca por outras drogas sempre aumenta. É enganação nossa achar que conseguimos controlar um vício e acabamos, com tempo, se tornando escravo da droga”, observou.
Esses são alguns dos relatos de quem viveu nas drogas e conseguiu se recuperar e, assim, com suas experiências, buscam salvar outras pessoas, porém, o fundador destaca que a mudança só acontece quando o ser humano realmente quer. “A gente só consegue se libertar, na verdade, quando a gente quer sair da droga. Muitos vêm para uma comunidade por causa da mãe ou do pai e não por vontade própria, isso não funciona.
Eu quis mudança quando me vi morando em situação de rua, dias sem tomar banho, sem ter família, filhos, casa, irmãos não queriam saber de mim. Eu vivia sozinho, sem ninguém e sem nada, foi assim que decidi buscar ajuda, que veio da minha família, porque eu realmente quis, aí começou o processo de recuperação. A principal arma para se libertar é quando realmente a gente quer. Temos pessoas que passaram pela comunidade e estão na sociedade, trabalhando, e são várias. Quando os vejo, fico grato, louvo a Deus por isso. Busco forças em cada um quando chega”, destacou Robson.
A Comunidade Terapêutica Manassés fica em um sítio alugado no bairro dos Lopes, área rural de Rio Claro, para atendimento de homens a partir de 18 anos. A capacidade é para 15 internos e hoje conta com 13 pessoas atendidas com o processo que destaca três princípios: a espiritualidade, o trabalho e o convívio social. “Eles têm horário para tudo, das 7 às 22 horas.
Tem a parte da espiritualidade de manhã. Ao longo do dia, cuidam de toda limpeza, tem a labora terapia, que algumas empresas também enviam trabalhos para ocupá-los, cuidam de toda organização da casa e da comida e, à noite, tem cultos com voluntários, tem psicólogo que vem durante a semana e voluntários que trazem testemunhos para fortalecer e entender a dependência química, além de equipe do Narcóticos Anônimos, que também orienta sobre o problema”, explicou o fundador.
Durante os cinco anos de funcionamento, já passaram pelo tratamento terapêutico no local uma média de 220 internos, sendo que 45 foram totalmente recuperados e reinseridos na sociedade com trabalho e família. A Comunidade é totalmente sem fins lucrativos e sobrevive 100% por meio de doações. Qualquer pessoa pode ajudar. “Estamos abertos a voluntários e doações, seja de roupa, alimento ou financeiro. A maior parte das vagas é social e, por isso, importante a contribuição para continuar mantendo o trabalho”, salientou Robson.
Pesquisas apontam que em cinco anos cada residência terá um dependente químico. Fica o alerta de quem viveu no fundo do poço. “O meu conselho é para os pais buscarem sempre saber onde os filhos estão, com quem estão, quem são os amigos. Hoje a droga está na escola, na esquina, no futebol, onde for tem a droga, a prevenção é a melhor forma”, alertou o fundador da comunidade.
Os interessados em ajudar com doações ou trabalho voluntário podem entrar em contato pelos telefones: 19-99813-7685 e 19-98703-6500.