Desde muito tempo, a física tem uma aura de ser algo difícil, coisa apenas para gênios. Mas não passa de mito. Assim como todas as atividades científicas, a física necessita de dedicação e disciplina para que seja entendida. Contribuem também para manter essa falsa ideia de ser inatingível alguns cientistas que não colaboram e, por ostentarem um título de doutor e publicações em revistas científicas internacionais, comportam-se de modo arrogante, como se fossem detentores de um código secreto indecifrável por mentes comuns.
Não seriam muito diferentes de alguns integrantes do alto escalão da Igreja Católica na Idade Média, que detinham o conhecimento sem compartilhá-lo. Ainda bem que são minoria.
A ignorância é o terreno fértil para a ciência, e a curiosidade o adubo. Para fertilizar novas perguntas, buscar novas respostas e seguir nessa aventura de conhecimento que ao fim pode melhorar a vida das pessoas e do planeta. É preciso se ter humildade.
A história da ciência tem sempre grandes revoluções as quais levam a entender que nossa visão de mundo estava distorcida, ou na melhor das hipóteses, incompleta. Enxergar a parte para ver o todo muitas vezes é tarefa árdua, mas os resultados são sempre impressionantes.
Por exemplo, uma terra plana ou um sistema em que a Terra era o centro do Universo foram durante muito tempo ideias bastante razoáveis, mas que com o avanço das observações mostraram-se ingênuas, até mesmo constrangedoras.
Mesmo a ideia de um Universo dominado por estrelas, planetas e galáxias já está descartada. Assustadoramente, apenas 5% do que compõe o Universo é matéria “normal”. Outros 27% é matéria escura e outros 68% é da misteriosa energia escura.
E não temos a menor ideia do que de fato é composta a matéria escura e a qual a natureza da energia escura, esta responsável por acelerar a expansão do Universo. O que há são modelos teóricos bem fundamentados, razoáveis, para explicar esses 95% de desconhecido, mas ainda estamos literalmente tateando no escuro, no que diz respeito às comprovações experimentais.
Há também questões relacionadas à Física Quântica, que explica o mundo subatômico, que levam muitos cientistas, desde Einstein, a questionar se de fato ela é uma teoria completa que possa explicar a realidade.
Para os 5% de coisas que conhecemos e observamos, precisamos de apenas três partículas fundamentais: os quarks “up” e “down” e o elétron. Com os quarks “up” e “down” podemos produzir o núcleo dos átomos com prótons e nêutrons. E cada núcleo pode ser cercado por uma nuvem de elétrons, respeitando algumas regras da natureza. Pronto, com os quarks “up” e “down” e elétrons podemos construir qualquer elemento da tabela periódica. Tudo bem explicado e comprovado pela Mecânica Quântica. Mas, há outras partículas também detectadas, outras nove de matéria e cinco outras que transmitem forças. Para que servem essas partículas extras? Não se tem ideia.
Há coisas que a Relatividade Geral, teoria do Einstein que descreve a gravidade, não explica de maneira satisfatória, por exemplo, as singularidades que surgem após a explosão de uma estrela que evolui para um buraco negro. Destes com seus campos gravitacionais intensos, nem a luz escapa.
Sabemos muito sobre muitas coisas, mas bem pouco sobre muito ainda.
É certo que haja mais revoluções científicas por perto, muitas à espera de mentes criativas e dispostas a devotarem suas vidas para mudar o nosso entendimento de nós mesmos e do que nos cerca. Ideias e teorias importantes que aceitamos atualmente, como a própria física quântica e a relatividade geral, podem ser trituradas e substituídas por novas ideias de tirar o fôlego.
Quem sabe, daqui uns 100 anos as pessoas irão analisar nosso entendimento de como as coisas acontecem como nós analisamos o entendimento que tinham os homens e mulheres das cavernas.Talvez toda nossa ciência hoje seja apenas a infância de uma ciência ainda maior. A viagem da raça humana desbravando o Universo está longe de um fim, e todos devem fazer parte dela.
Afinal, é praticamente impossível não ficar curioso sobre o mundo ao seu redor. O primeiro passo é descobrir humildemente que ele não gira em torno de você.